Crítica de Filme | Batman vs Superman: A Origem da Justiça [#2]

Leandro Stenlånd

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26 de março de 2016

Dar vida a personagens que todos amam é algo complicado. Se no limiar quântico de tanta sinergia é possível notar que há sempre rivalidade entre aquele que tem a força e o que não tem, e – consequentemente – alimentar uma fúria dotada de amargura e vingança baseada no sofrimento passado do ‘alheio’, com a guerra de proporções épicas tornando-se inevitável, ela pode se transformar em algo extremamente imprudente.

Batman vs Superman: A Origem da Justiça tem sido aguardado desde que seu anúncio foi feito, e assim como veremos em “Capitão América – Guerra Civil”, o espectador tem de escolher um lado. Mas será que dói tanto assim tamanha escolha?

O combate mais icônico entre os dois foi retratado por Frank Miller na HQ Batman: o Cavaleiro das Trevas de 1986. Em uma história em um futuro alternativo, um Bruce Wayne cansado e “velho” deixa a aposentadoria de lado e volta a atuar como Batman. Isso vai de encontro aos interesses dos poderosos do país e o Superman é escalado para conversar com Batman para fazê-lo mudar de ideia. Mas como Bruce Wayne não é alguém conhecido por voltar atrás em suas decisões, só resta o combate físico. O que poucos brasileiros sabem é que anos antes da HQ (The Dark Knight Returns), em 1964, Superman e Batman já haviam se enfrentado nas páginas da edição 143 da revista World’s Finest. Era a chamada “Era de Prata” das histórias em quadrinhos e os dois heróis tinham uma forte amizade e atuavam juntos constantemente. Mas na história “O duelo entre Superman e Batman” tal parceria é abalada e quase acaba.

Tais embates já aconteceram no cinema e, quando se olha pelo lado do justiceiro (Batman), sabemos todos que Superman é um ‘perigo iminente’ para a sociedade. Por temer o futuro do mundo com alguém com um poder tão impressionante, ceticamente desgovernado, ele então coloca sua máscara, sua capa, sai de sua suposta aposentadoria e vai de encontro ao Homem de Aço, buscando castiga-lo por tamanha imprudência no passado. Aliás, depois de sua luta titânica contra o General Zod, Metropolis foi arrasada e Superman acaba se tornando para muitos um ser icônico, mas para outros a figura mais controversa no mundo. A película angaria sua jornada com um gancho provindo do filme “O Homem de Aço”. Sim, se você não assistiu, por gentileza, alugue em sua locadora mais próxima, assista no Netflix ou veja sobre a programação de sua operadora de TV a cabo e incie a trajetória. A indução para a incursão no longa de 2013 se faz necessária, pois é lá que tudo se inicia.

O Batman de Ben Affleck é muito diferente daquele visto na trilogia do Nolan. Temos uma versão muito mais violenta, muito mais sanguinária e deixa a versão da trilogia do diretor mencionado, parecendo um mero figurante nos filmes da DC. Christian Bale a essa altura do campeonato deve ter perdido sua hegemonia de cara. Muitos foram contra sua escalação para viver O Homem Morcego (inclusive eu), mas a chance ao ator era única. É um Batman maduro, mais consistente e esta ‘pouco se fodendo’ se vai ter que baixar a porrada, desde que seu objetivo seja alcançado.  O “Morcegão” é representado por Miller como um homem traumatizado e atormentado pelo seu passado, que usa inteligência e força para fazer justiça de maneira muito mais bruta e violenta em relação às suas atividades anteriores.

12650785_1691699801104888_7816355430784551260_nNão existe o lado do Homem de Aço (onde haja uma defesa), aliás, não é preciso poderes tão gigantescos para aniquilar um país. E assim, com tamanha potência em suas mãos, o filme (sim, o filme), toma proporções sombrias – talvez até mais dark do que os filmes do Batman de Christopher Nolan. É definitivamente mais sombrio do que “O Homem de Aço”. O desenrolar da discordância da ‘nação’ quanto ao ídolo ‘caído’, de certa forma, faz com que esta narrativa para o herói icônico venha a ser tão implacável quanto tudo que caiu sobre os ombros de Doutor Manhatan em “Watchmen”. Os questionamentos sobre seu poder são muito equiparados à Graphic Novel adaptada para as telonas de 2009.

A razão pela qual Batman e Superman estão em tamanho embate é tratada de uma forma muito quântica. Há como mencionar que, enquanto a série “Gotham” tenta mostrar como os vilões da DC têm uma certa desenvoltura para serem os melhores de todos, tamanha vilania é escrachada com o deboche provindo de um novo Lex Luthor. A interpretação de Jesse Eisenberg é uma versão muito mais muito moderna sobre o personagem do que Gene Heckamn de Richard Donner foi. Com muita inteligência e habilidade, não só para antever negócios como para manipular o mercado a seu bel-prazer, Luthor tornou-se rapidamente o dono de praticamente quase tudo que existe no longa. Jesse está mais denso em suas caracterizações, mostrando algo que gera um elo de carisma quanto ao vilão. Difícil se apegar a alguém que quer sempre a desgraça alheia, mas muito mais difícil deixa-lo de lado pela sua atuação e trechos simbólicos do personagem, que, bem ou mal, tem sido um dos mais temíveis vilões provindos de HQ’s.

12573664_1689486467992888_4642279958830332738_nOs breves trechos que demonstram redenção, são bem explorados em ambos os heróis, o que não é comum. A forma como Zack Snyder tenta explicar muitas teorias e leis sobre o tamanho embate entre um deus e um ser humano existentes em nosso dia a dia, tais como as leis daquilo que rege o que pode ser feito ou não – o forte cânone onde Deus é intocável, ou que não sangra -, acaba sendo desmistificado pela forte introdução daquilo que vem a ser o calcanhar de Aquiles de um ser mitológico. Um simples pedaço de uma rocha alienígena embarca em uma jornada importante que pode ser a última esperança para a população de todo um planeta (segundo Bruce Wayne) se introduzida de forma abrangente. Não somente aí há o elo de mais um ponto fraco para o “réu”, mas é a curiosidade de Lex Luthor em gerar seu ‘clone’ que torna sua salvação em uma temível ameaça.

Mesmo depois de conhecer O Homem de Aço em seu filme solo e sabermos o quão ‘desenfreado’ Batman pode ter se tornado nesta sequência, é quando Gal Gadot entra em cena com sua Mulher-Maravilha que a coisa realmente fica estonteante. Com todo seu poder de amazona, seu charme e seu lado sedutor, a atriz como Diana traz um brilho de mulher que não tem nada de desajeitada (igual estamos vendo em “Supergirl”) e tocantemente crível. Ela parece mais um vaso de porcelana do que necessariamente uma dama com tamanha desenvoltura para a guerra. A amazona tem um poderio de luta muito avançado e parte ‘pra’ cima sem pensar duas vezes como um trem desgovernado. Usa sua espada de forma eficiente e o uso do laço mágico também é importante para o desfecho do terceiro ato. Não há como negar que há uma certa técnica de luta expansiva provindo de Diana. Difícil mesmo é escrever tamanha crítica sem soltar algum tipo de spoiler do filme, mas não há muito o que fazer senão dizer que a trama é justamente assim, criada para surpreender.

critica-batman-vs-superman-765x374A fotografia é plenamente aceitável. O ‘maldito’ 3D é completamente dispensável. Sinceramente a versão 2D IMAX talvez seja até melhor que a exibida para a imprensa (que é um verdadeiro caça-níquel).

Os vilões clássicos (tanto do Batman quanto do Superman) estão ali, mesmo que não sejam citados abertamente. Esse universo criado é interessante, assim como é notável a influência de diversas edições dos quadrinhos da DC, tanto de Adam Hughes quanto de Frank Miller.

Houve uma certa liberdade provinda do diretor. Essa liberdade começou a ser questionada em “O Homem de Aço” e alcançou um novo nível em Batman vs Superman: A Origem da Justiça. O longa, em si, é uma surpresa, principalmente pela introdução de Neil deGrasse Tyson no filme, que faz com que reflitamos sobre os argumentos utilizados em sua série “Cosmos”. Sua curta participação faz menções claras à futura produção da DC (Liga da Justiça), assim como os vilões que estão por vir. A película deixa clara a ‘segunda fase’ da editora no cinema. Todos os atos têm seu tempo correto e são informativos. A “Origem da Justiça” tem muito a dizer. Pode inclusive fazer alguns chorarem pela ‘tocante’ narrativa desde seu momento muito sombrio até um futuro de esperança. No entanto, está um bocado longe de ser o melhor filme de HQ de todos os tempos e não deve conseguir as melhores críticas, afinal, por se tratar de Snyder, o longa, automaticamente, irá dividir opiniões (tanto no filme quanto fora dele), mas herda a capacidade de possuir os melhores efeitos especiais e tocar o espectador que assiste.

Foi um acerto não apresentar cada um dos heróis em filmes individuais antes de Batman vs Superman: A Origem da Justiça. Minutos preciosos são gastos lentamente introduzindo ao público (fã ou não) toda uma trajetória de como tudo que aconteceu antes, durante e depois da tragédia em “O Homem de Aço”. Em suma, é um grande filme e a boa notícia é que os trailers não entregam tanto quanto pareciam revelar inicialmente.

FICHA TÉCNICA:

Título original: Batman v Superman: Dawn of Justice

Gênero: Ação

Direção: Zack Snyder

Roteiro: David S. Goyer

Elenco: Ahman Green, Amy Adams, Bailey Chase, Barton Bund, Ben Affleck, Callan Mulvey, Christina Wren, Dan Amboyer, Demi Kazanis, Diane Lane, Ezra Miller, Gal Gadot, Harley Wallen, Harry Lennix, Henry Cavill, Holly Hunter, Jason Momoa, Jena Malone, Jeremy Irons, Jesse Eisenberg, Joe Cipriano, Laurence Fishburne, Maggie Wagner, Marko Caka, Michael Cassidy, Nicole Forester, Ray Fisher, Sandhya Chandel, Scoot McNairy, Stephanie Koenig, Tao Okamoto, Will Blagrove

Produção: Charles Roven, Deborah Snyder

Fotografia: Larry Fong

Montador: David Brenner

Trilha Sonora: Hans Zimmer, Junkie XL

Duração: 153 min.

Ano: 2016

País: Estados Unidos

Cor: Colorido

Estreia: 24/03/2016 (Brasil)

Distribuidora: Warner Bros

Estúdio: DC Entertainment / Dune Entertainment / Syncopy

Classificação: 12 anos

Leandro Stenlånd

Leandro não é jornalista, não é formado em nada disso, aliás em nada! Seu conhecimento é breve e de forma autodidata. Sim, é complicado entender essa forma abismal e nada formal de se viver. Talvez seja esse estilo BYRON de ser, sem ter medo de ser feliz da forma mais romântica possível! Ser libriano com ascendente em peixes não é nada fácil meus amigos! Nunca foi...nunca será!
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