CRÍTICA | ‘Stranger Things’ entrega um final redondo e bem satisfatório!!!

Bruno Giacobbo

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30 de julho de 2016

Coisas geniais não surgem de uma hora para outra e, na maioria das vezes, não são planejadas. Um cineasta ou pintor não acordam um belo dia e dizem: “Hoje vou criar a minha obra-prima”. Não, Francis Ford Coppola e Leonardo Da Vinci não procederam assim com “O Poderoso Chefão” e a “Monalisa”. Algo genial também não precisa ser exatamente original. A constatação do químico francês Antoine Lavoisier, ‘nada se cria, tudo se copia’, pode ser aplicada tanto à natureza como ao mundo das artes. Assim, os Irmãos Duffer, provavelmente, não sabiam quando conceberam, para o Netflix, a série Stranger Things, que desde o primeiro insight estavam criando algo genial. A melhor primeira temporada de uma série em muito tempo! Melhor até do que a badalada temporada de estreia de “True Detective”, de Nic Pizzolatto.

Mistura de ficção científica e suspense, a trama gira em torno do desaparecimento do menino Will (Noah Schnapp) logo no episódio inicial. Domingo, após mais de dez horas de uma partida de Dangerous & Dragons, no porão de seu melhor amigo, Mike (Finn Wolfhard), ele se despede e segue de bicicleta, na companhia de Dustin (Gaten Matarazzo) e Lucas (Caleb McLaughlin), para casa. Lá, Will sumirá do mapa sem que sua mãe, Joyce (Winona Ryder), e seu irmão, Jonathan (Charlie Heaton), percebam. Só no dia seguinte, ao faltar ao colégio, é que a família, os amigos e toda a cidade de Hawkins, no interior de Indiana, descobrirão que há um mistério no ar. 

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Falar mais do que isto sobre Stranger Things é correr o risco de revelar algum spoiler. Aliás, alguns. Contudo, o que tem mexido tanto com a cabeça dos série-maníacos a ponto de considerar esta uma obra formidável? Simples: suas inúmeras referências aos borbulhantes e nostálgicos anos 80 e a tudo o que foi sucesso ou moda naquela época. Quem viveu e curtiu esta década não tem como ficar indiferente. O trabalho dos Duffer, claramente, se inspirou em Steven Spielberg Stephen King. É a partir das fundações firmemente fincadas por estes dois gênios que eles ergueram o arcabouço de sua mini-grande-saga de apenas oito capítulos. Isto mesmo, em que pese ser a primeira temporada de uma série que já tem seu segundo ano confirmado, a história aqui contada se resolve em si mesmo. 

Independentemente do surto de saudosismo que referências possam despertar nos espectadores, a genialidade no uso delas está em não se resumir a só isto. Nostalgia é legal, mas sozinha não bastaria. Quase todos os elementos pinçados, aqui e acolá, de filmes como “ET – O Extraterrestre” (1982) “Tubarão” (1975), “Conta Comigo” (1986) e “Alien, o 8º passageiro” (1979) ou de livros como “O Senhor dos Anéis” e “O Hobbit”; formam um quebra-cabeça e serão importantes na elucidação do mistério que os protagonistas, tal qual a turma dos Goonies (1985), terão que resolver se quiserem reencontrar seu amigo. Tudo encaixado de forma tão inteligente quanto o jeito como nos é apresentado, por exemplo, o xerife Jim Hopper (David Harbour): o típico policial de uma pequena cidade onde nada acontece há 30 anos, mas que se revelará muito mais esperto do que aparenta.

Além das referências presentes no roteiro, Stranger Things se conecta a década e ao ano que a história se desenrola, 1983, de muitas outras formas. A escalação de Winona Ryder e Mathew Modine para papéis chaves é uma delas. Eles são autênticos ícones oitentistas. Foi nesta época que despontaram para o sucesso e gozaram do status de astros. Agora, recuperam um pouco da glória perdida. Principalmente a atriz. Não será nenhuma surpresa vê-la disputando prêmios como o Globo de Ouro, o Emmy e o SAG. Junto com Millie Bobby Brown, jovem intérprete de uma personagem que remete a outra estranha menina, esta criada por King, elas roubam a cena. Nítida, também, é a conexão via trilha sonora. Nesta, sintetizadores são usados várias vezes e me fizeram lembrar de “Contatos Imediatos do Terceiro Grau” (1977) e do cult-trash “Mestres do Universo” (1987), a única versão live-action do herói He-Man, outro ícone oitentista.

Quando digo que a primeira temporada da série dos Irmãos Duffer é melhor, inclusive, do que a de Nic Pizzolatto, fundamento esta afirmação da seguinte forma: distintas em seus temas e plots, as duas histórias são igualmente instigantes, repletas de personagens marcantes, com atuações acima da média e toda a parte técnica feita com muito esmero, entretanto, mesmo deixando, pelo menos, três pontas soltas, propositalmente, para serem exploradas em seu segundo ano (se assim seus criadores quiserem). Em Stranger Things, diferentemente de “True Detective”, terminamos com a sensação de que tudo o que queríamos ver foi mostrado e desejando logo uma continuação.

Desliguem os celulares e excelente diversão.

Bruno Giacobbo

Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.
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