
50 Anos de James Bond – Parte 13: “007 Contra Octopussy”
Pedro Lauria
“Não vou dizer que foi ruim.
Mas também não foi tão bom assim.”
Chegamos ao famigerado 007 Contra Octopussy. Um dos filmes mais criticados de toda a franquia. Famoso pela quantidade absurda de tosquices, Octopussy concentra os momentos mais lembrados da era Roger Moore – tudo devido aos seus excessos.
Entretanto, ao contrário do seu pré-predecessor (sim, estou inventando nomes), 007 Contra o Foguete da Morte, o penúltimo filme de Roger Moore não é um desastre total. Pelo contrário – apesar de todos os (muitos) problemas, o filme diverte (na acertada decisão de não se levar a sério) e entrega uma boa história e ótimas cenas de ação.
A trama começa com o roubo de um Ovo Fabergé que pertencia ao Kremlin. Quando ele aparece em uma casa de leilões de Londres, 007 descobre um verdadeiro mercado negro que envolve um príncipe afegão, Kamal Khan, uma traficante que vive em meio a uma comunidade de mulheres (a própria Octopussy) e um general soviético que pretende explodir uma bomba atômica em Berlim Ocidental.
Essa quantidade de “vilões” acaba por suprir a falta de personalidade dos próprios, uma vez que tirando Octopussy nenhum deles é marcante. Porém, o entranhamento das ações desses personagens, acaba trazendo à Bond uma sensação constante de perigo (exemplificado na sua quantidade de clímaxes) que movimenta o filme e nos ajuda a relevar alguns problemas estruturais.
Falando em vilões e problemas estruturais, talvez o maior de todos seja a apresentação da personagem título. Ao ser mostrada apenas na segunda metade da obra, seu romance com Bond parece completamente arbitrário. Isso pode parecer ridículo se considerarmos a quantidade de paixões espontâneas geradas pelo agente, mas temos que levar em conta que Bond matou o pai da “mulher polvo”. Esse fato, por exemplo, parece apenas jogado na narrativa não sendo em nenhum momento aprofundado – como foi feito de forma similar no excelente 007 – O Espião que me Amava.
Quem acompanha os filmes do agente desde o início reconhece o fator “galhofagem” que sempre permeou (e deu um charme especial) a franquia. Também não é novidade que o período Roger Moore foi o que mais abusou deste elemento. Porém, o filme se excede, se tornando em alguns momentos paródia de si mesmo.
Falo de momentos como a música do Super Homem tocando quando o agente deforma barras de ferro, o grito do Tarzan ouvido quando Bond salta de cipó em cipó, o “submarino lacustre” em forma de jacaré, a fantasia de Gorila e Palhaço vestidas por Moore, um Tigre domado com um pedido de silêncio, entre outras bizarrices. Tais momentos perpassam toda a narrativa e, apesar de sempre justificados pela história, acabam tornando Octopussy um cruzamente entre Casino Royale (o de 1967) e 007 Apenas para os seus olhos.
Não poderia terminar a crítica sem falar do trabalho de dublês. A batalha em cima de um avião, no final do filme, exalta o trabalho destes – apesar da falha da direção em mostrá-los muito de perto – não só revelando a verdadeira identidade dos profissionais, como também deixando evidente seu equipamento de segurança.
007 Contra Octopussy poderia ser um digno final para a era Roger Moore (que já estava visivelmente velho e enrugado para o papel) – uma obra que apresenta o que há de pior e melhor nos filmes do ator.
Mas falando em dignidade e encerramento de carreira… o que falar de outro obra lançada no mesmo ano?
Mas isso eu deixo para a crítica da semana que vem.
BEM NA FITA: Sequências divertidas; Ótimas Cenas de Ação; História Interessante
QUEIMOU O FILME: Filme com problemas estruturais pesados; Vilões sem carisma; Excesso absurdo de galhofagens
FICHA TÉCNICA:
Diretor: John Glen
Elenco: Roger Moore, Maud Adams, Desmond Llewelyn, Topol, Louis Jordan e Lois Maxwell
Produção: Albert R. Broccoli
Roteiro: Richard Maibaum e George MacDonald Fraser
Fotografia: Alan Hume
Montador: Peter Davies e Henry Richardson