50 Anos de James Bond – Parte 15: “007 Marcado para a Morte”
Pedro Lauria
Uma nova era pra James Bond.
Depois de uma década do rufião Roger Moore, cujos filmes, independente da qualidade, expandiram os limites da galhofagem iniciada por Sean Connery, Timothy Dalton chega com os dois pés no peito da audiência para trazer uma abordagem completamente nova para o agente britânico.
Sim. Dalton iniciou, nos anos 80, o mesmo estilo frio e violento que tornaria o Bond de Daniel Craig tão controverso. E se hoje, mesmo após 007 – Operação Skyfall, ainda existe gente que o critique por ser muito sério, fico imaginando o que diriam do Bond de Dalton. Mas deixemos de falar dos bastidores da franquia e vamos comentar sobre a excelente estreia do ator.
007 Marcado para Morte é um filme que destoa de tudo foi filmado até então. Nesse capítulo, a franquia deixa de ser um filme de ação, e passa a se configurar num misto de thriller e romance. A história, mais complexa do que de costume, trata assuntos como política anti-espionagem, KGB, guerra fria e tráfico internacional de drogas e diamantes. E nela, Bond é apresentado a uma das bond girls que mais balançaram o coração do agente: Kara Milovy (My Love? alguém?). Lembra alguma coisa? Sim. Se você falou Moscou contra 007, acertou em cheio. A estréia de Dalton parece ser um sucessor espiritual de um dos maiores clássicos da Era Connery.
Se eu falei anteriormente que 007 Marcado para a Morte puxa mais para o suspense do que propriamente para a ação, não se engane em achar que as cenas de ação foram esquecidas. Pelo contrário – o filme tem, sem dúvida alguma, as melhores cenas de ação de toda a franquia (até então). As situações são criativas (e narrativamente justificáveis), o trabalho de dublês é incrível, e a montagem em nada deve em ritmo aos filmes contemporâneos.
Outro ponto que precisa ser esclarecido é que o pretenso “realismo” que o filme traz não significa que as “galhofagens pontuais” não estejam presentes. Garrafas de leite explosivas, rádios que soltam mísseis e uma caixa de violoncelo usada como tobogã, ajudam a nos lembrar que ainda se trata de um filme do 007. Porém, um 007 muito mais violento – tal como pensado por Ian Flemming originalmente.
No quesito atuações, não dá pra se comparar a carga de carisma dos Bonds anteriores (tidas por Moore e, principalmente, Connery) em Dalton, mas isso não atrapalha o filme. Dalton, antes de tudo, é um agente britânico em missões mortais e que deve se portar como tal. A nova Moneypenny, interpretada por Carol Bliss, ajuda a reforçar essa ideia. Sem o carisma, construído durante 14 filmes, de Lois Maxwell, Bliss traz um ar de “geek dos anos 80” que encaixa muito bem na nova proposta.
Por fim é vital parabenizar o roteiro que por mais que tenha algumas falhas estruturais (como o deus ex-machina referente a um personagem preso), traz um trama coesa, cheia de suspense e com algumas excelentes pequenas sacadas (como o inteligente uso da ferramenta narrativa de “pista e recompensa” em uma determinada gaveta elétrica).
007 Marcado para a Morte é um ótimo filme. E mais do que isso: é a melhor estréia de um James Bond até então (desconsiderando o único filme de Lazenby). Dalton pode ter tido um legado curto, mas que foi crucial para os rumos que a franquia tomaria nas décadas seguintes.
BEM NA FITA: Cenas de ação inacreditáveis ; Bond Girl pouco bela, mas não menos interessante; Roteiro coeso e interessante; Pegada de thriller
QUEIMOU O FILME: Alguns momentos de suspense não convencem; Dalton não tem o mesmo carisma de seus predecessores para soltar frases calhordas
FICHA TÉCNICA:
Diretor: John Glen
Elenco: Timothy Dalton, Maryan D’Abo, Joe Don Baker, John Rhys-Davies Desmond Llewelyn, Walter Gottel e Caroline Bliss
Produção: Albert R. Broccoli
Roteiro: Richard Maibaum e Michael G. Wilson
Fotografia: Alec Mills
Montador: Peter Davies e John Grover