50 Anos de James Bond – Parte 16: “007 – Permissão para Matar”

Pedro Lauria

Chegamos ao filme mais injustiçado da história da franquia.
Com apenas dois (excelentes) filmes, é uma pena que Dalton seja pouco reconhecido como James Bond. Acostumados com um agente repleto de apetrechos irreais, vilões histriônicos e mulheres aos seus pés, é chocante ver a violência e a quantidade de sangue trazidos nos filmes do ator.
007 – Permissão para Matar não é um filme de espionagem, mas um verdadeiro filme de vingança. E como toda boa história do tipo, a obra nos traz litros de sangue e cenas extremamente cruéis. Nunca na franquia personagens foram expostos a situações tão cruéis. Até mesmo os tubarões – recorrentes na série – são aqui usados “pra valer”.
A história, pela primeira vez, não envolve conspirações, problemas entre governos ou milionários excêntricos. O filme, que começa de forma corriqueira com Bond indo para um casamento (até ser interrompido pela chance de prender um grande traficante de drogas) tem uma introdução divertida e repleta de ação. As coisas começam a mudar de figura após a música tema (de Gladys Knight) quando descobrimos que o tal traficante, Franz Sanchez, fugiu. A partir daí temos uma história de traição, amor, vingança e reviravoltas, nos melhores moldes latinos e completamente destoante da frieza que se espera de um agente britânico.

Quando a vingança passional se torna maior do que as missões.

Quando a vingança passional se torna maior do que as missões.


Como em toda a história de vingança, o filme não funcionaria caso o vilão não nos passasse um misto de perigo e insanidade. E é justamente isso que o Sanchez, interpretado por Robert Davi, nos passa. O vilão ganha os holofotes tendo tempo para desenvolver toda a sua personalidade e maneirismos. Dessa forma temos um antagonista que é cruel, peculiar (uma iguana com colar de diamantes?) e que segue um código de honra que lhe dá a tridimensionalidade necessária.
Mas não é apenas Davi que se destaca dentro do filme. Carey Lowell, interpretada por Pam Bouvier, faz uma das mais enérgicas (e bonitas) Bond Girls de toda a franquia. A química dela com Dalton se assemelha muito com a que Roger Moore teve com Barbara Bach em 007 O espião que me Amava. E se Moneypenny se destacou no primeiro filme de Dalton, aqui quem ganha os holofotes é lendário Desmond Llewyn (Q) – ator que mais participou da franquia em toda a sua história. Seu personagem funciona como um alívio cômico extremamente necessário para uma obra tão pesada.
E se as cenas de ação são sempre elogiadas por mim, aqui a franquia continua fazendo o que sabe e nos dá ótimos e empolgantes combates. A única reclamação fica por conta da montagem da luta final cujos cortes fazem estranhos saltos temporais, dificultando a compreensão do espectador.
Del Toro (praticamente) estreia no cinema como um capanga.

Del Toro (praticamente) estreia no cinema como um capanga.


007 – Permissão para Matar é a referência para o clássico Cassino Royale de Daniel Craig. Talvez as plateias de 90 não estivessem preparadas para um Bond mais sério e mais sanguinolento. Por isso, acredito que esteja na hora dos amantes do Bond loiro irem redescobrir o 007 de Timothy Dalton, que aqui não faz apenas um grande filme, mas uma das melhores obras de toda a franquia.
BEM NA FITA: Boas cenas de ação; Bond Girl enérgica; Vilão assustador; Maior participação de Q; Roteiro inovador para a franquia
QUEIMOU O FILME: Alguns problemas com a montagem; A falta de uma maior identidade visual do vilão
FICHA TÉCNICA:
John Glen
Elenco: Timothy Dalton, Carey Lowell, Talise Soto, Robert Davi, Benicio Del Toro, Desmond Llewelyn, Walter Gottel e Caroline Bliss
Produção: Albert R. Broccoli
Roteiro: Richard Maibaum e Michael G. Wilson
Fotografia: Alec Mills
Montador: John Grover

Pedro Lauria

Em 2050 será conhecido como o maior roteirista e diretor de todos os tempos. Por enquanto, é só um jovem com o objetivo de ganhar o Oscar, a Palma de Ouro e o MTV Movie Awards pelo mesmo filme.
NAN