50 Anos de James Bond – Parte 17: “007 Contra GoldenEye”

Pedro Lauria

Um bom filme. Um jogo lendário.
007 Contra GoldenEye é, sem dúvida alguma, um dos filmes mais marcantes de toda a franquia. Equivalente a um 007 Contra o Satânico Dr.No para a nova geração. Ou melhor, para a minha geração. Tal reflexão pode parecer completamente subjetiva, eu sei, mas ela não se resume a isso.
É normal dizer que uma geração sempre se contrapõe àquela que a antecedeu. Porém é possível dizer que a mudança do perfil da geração da década de 80 para a geração década de 90, talvez tenha sido a mais gritante de todas. O motivo é simples: a popularização do computador pessoal e da Internet. Os jovens que cresceram com um (caríssimo) computador pessoal em casa, passaram a ter uma relação completamente diferente com as mídias audiovisuais. Para atingi-los, seria impossível manter o espião romântico idealizado pelos filmes de Connery e Moore.
E é ai que entra Pierce Brosnan e GoldenEye. É importante lembrar também que a geração dos anos 90 sofreu o maior “gap” de filmes da franquia – ficando 6 anos sem uma obra do agente. Se pensarmos ainda na falta de sucesso dos filmes de Dalton, precisamos voltar para o começo da década de 80 para ver um filme influente do espião. Ou seja, falamos de uma geração que estava acostumada com John McClane e Martin Riggs como referenciais de heróis de ação. O novo 007 precisava falar para essa nova geração.

Natalya é a primeira Bond Girl nerd. Quer melhor forma de se falar com a geração do PC?

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E falou. Não só pela acertada escolha de um Bond extremamente carismático como foi o caso de Pierce Brosnan, mas pelo grande diferencial que fugia das telas de cinema: o jogo GoldenEye 007 para Nintendo 64 – o lendário pioneiro dos jogos de tiro 3D para consoles. E se isso nada diz da qualidade do filme, fala, no entanto, da relevância que o filme e a franquia passariam a ter. O jogo trouxe para uma geração “sem 007” a curiosidade para conhecer mais daqueles personagens e elementos que eram apresentados: Jaws, Rosa Klebb, Baron Sammedi, Oddjob, Golden Gun…
Enfim. Voltamos ao filme e a sua crítica. 007 Contra GoldenEye é um filme que peca pelo excesso. Duração excessiva, vilões excessivamente bidimensionais e história excessivamente previsível e antiquada. Quer dizer, trazer o conflito de ocidentais versus soviéticos, pós fim da URSS, é no mínimo… pouco inspirado.
Xenia é uma espécie de Jaws moderno no quesito bidimensionalidade. Com mais sex appeal e menos carisma.

Xenia é uma espécie de Jaws moderno no quesito bidimensionalidade. Com mais sex appeal e menos carisma.


Esses fatores negativos poderiam facilmente derrubar a obra. Porém, tal como em 007 Contra o Satânico Dr.No, uma série de aspectos memoráveis permitem que a obra se imortalize como um dos capítulos mais relevantes da franquia: o tema cantado por Tina Turner, a apresentação de um novo (ou melhor, nova) M – interpretada por ninguém menos que Judy Dench, o Aston Martin, o salto da represa, os personagens extremamente caricaturais e marcantes, as boas reviravoltas e a inspirada direção de arte que cria cenários únicos (o que dizer do cemitério de estátuas?).
O conjunto desses elementos são responsáveis por tornar Goldeneye um filme memorável. E memorável também é o surgimento de Pierce Brosnan, um Bond que traz a aura de seriedade necessária pelo agente, sem abrir mão do carisma que fez personagens como John McClane serem imortalizados nas telas de cinema. 007 Contra GoldenEye é um filme icônico, e que talvez seja a terceira obra mais relevante da franquia (atrás apenas de Dr.No e Goldfinger). Um clássico moderno, composto por um bem sucedido conjunto de aspectos positivos que tem origem tanto dentro quanto fora da tela.
BEM NA FITA: Tema sensacional; Vilões e personagens marcantes; Pierce Brosnan e Judy Dench aparecem como um ótimo refresco para série; Trama repleta de reviravoltas e cenários icônicos
QUEIMOU O FILME: Bidimensionalidade dos personagens; O filme é extremamente longo e perde em ritmo
FICHA TÉCNICA:
Martin Campbell
Elenco: Pierce Brosnan, Judy Dench, Sean Bean, Izabella Scorupco, Famke Jansen e Desmond Llewelyn
Produção: Albert R. Broccoli
Roteiro: Jeffrey Caine e Bruce Feirstein
Fotografia: Phill Meheux
Montador: Terry Rawlings

Pedro Lauria

Em 2050 será conhecido como o maior roteirista e diretor de todos os tempos. Por enquanto, é só um jovem com o objetivo de ganhar o Oscar, a Palma de Ouro e o MTV Movie Awards pelo mesmo filme.
NAN