50 Anos de James Bond – Parte 21: “007 – Cassino Royale”

Pedro Lauria

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25 de agosto de 2013

Cassino Royale não é um filme sobre 007.
Cassino Royale é um filme sobre um homem que viria a se tornar 007.
Necessitando de um reboot desde o famigerado (e porco) 007 – Um Novo Dia para Morrer e a insossa era Pierce Brosnan, a verdade é que a franquia necessitava de um recomeço. E ele veio influenciado pelo o que havia de melhor na época: a trilogia Bourne (ou pelo menos os dois primeiros filmes).
Jason Bourne (JB, como James Bond) havia mostrado que o público do século XXI não aceitaria mais planos mirabolantes, invenções impossíveis e vilões que pareciam ter saído de desenho animado. O espectador passou a exigir uma montagem frenética, cenas de ação e perseguição fulminantes, climas pesado e um constante cheiro de perigo no ar: qualquer um a volta do herói se tornaria personagem passível de morrer.

Quase 30 anos depois de John McClane finalmente temos um James Bond que sangre e fica repleto de cicatrizes.

Quase 30 anos depois de John McClane finalmente temos um James Bond que sangre e fica repleto de cicatrizes.


Por isso, não é à toa que o início de Cassino Royale – em um bonito preto e branco – se assemelha tanto a um filme do Bourne. Porém, a abertura – extremamente colorida (embora sem aparecer as famosas silhuetas de mulher) – logo nos lembra que isso é antes de tudo um filme do 007, adaptado aos novos tempos, é claro, como comprova a sequência de perseguição repleta de elementos de Parkour, que logo se sucede.
Elegância. Essa é uma palavra que poderia facilmente resumir Casino Royale. A forma como, em um mesmo filme, alternamos em uma sequência de ação de 10 minutos, para um tenso jogo de Poker, de igual ou maior duração, mostra que não há porque ter pressa enquanto o espectador está inebriado por um clima de suspense. Hitchcock ficaria orgulhoso do diretor Martin Campbell (o mesmo de 007 Contra Goldeneye).
Elegante também é a lindíssima fotografia (reparem como o filme varia de uma vibe completamente tropical repleta de tons quentes e cores fortes, para uma construção escura que se utiliza de apenas alguns fachos de luz para criar um ambiente sinistro – como ocorre na cena da tortura) e a maravilhosa direção de arte. Não é absurdo dizer que praticamente todos os planos da obra são dignas de se tornar um quadro.
A química entre Daniel Craig e Eva Green é crucial para entendermos como Bond se tornaria 007.

A química entre Daniel Craig e Eva Green é crucial para entendermos como Bond se tornaria 007.


Tudo isso poderia ser colocado em cheque se o roteiro não permitisse que pudéssemos admirar os aspectos visuais do filme. Mas a história simples e nem um pouco megalomaníaca (novos tempos Bond, novos tempos) permitem que Campbell se concentre nas cenas com mais intensidade e menos pressa. Um exemplo é a excelente luta nas escadas, que se feita de forma mais apressada, se tornaria uma gigantesca confusão. Porém, Campbell consegue nos manter sempre cientes da geografia da ação – seja por planos gerais bem colocados, ou pela numeração dos andares nas paredes, nunca jogados na cara do espectador, mas presentes em meio ao conflito.
E se todos esses elementos técnicos contribuem para que o filme seja o mais bem realizado de toda a franquia (até então) – são os atores, ou melhor, o trio principal composto por Bond, Vesper Lynd (Eva Green, a melhor Bond Girl de todos os tempos) e Le Chiffre (Mads Mikkelsen, um vilão que mistura fragilidade e instabilidade) é o que leva o filme a outro patamar.
Quem disse que um capanga não pode ser um excelente vilão?

Quem disse que um capanga não pode ser um excelente vilão?


A química entre Bond e Vesper se equipara aquela entre Moore e Barbara Bach em 007 – O Espião que me Amava, porém, com um adicional de peso dramático que leva tudo a outras proporções. A cena em que ambos ficam lado a lado embaixo de um chuveiro, é a mais tocante de toda a série. Dessa forma, quando chegamos ao derradeiro final, finalmente podemos compreender como o 007 que todos conhecemos começou a surgir.
Por sua vez, Mikkelsen, consegue emprestar realidade a um vilão que poderia ser encarado apenas como um capanga – porém cujas reações frias e psicóticas, tornam eles um dos vilões mais inesquecíveis de toda a série. E o fato dele chorar sangue – é claro. Por fim, a cena da tortura é uma das mais icônicas já realizadas em todos os 50 anos de franquia.
Cassino Royale é o raro caso de filme completo com timing perfeito. Em um momento em que todos se questionavam se James Bourne seria o novo James Bond, Daniel Craig e companhia provam que é tudo uma questão de adaptação: saber se utilizar dos novos elementos, sem esquecer todo o charme e personalidade construídos em mais de 20 filmes.
BEM NA FITA:
Melhor Bond Girl de todos os tempos;
Construção do 007 que todos conhecemos;
Esmero técnico e artístico da obra;
Vilão e cenas marcantes;
Adaptação da franquia para os novos tempos
QUEIMOU O FILME:
Conclusão apressada
FICHA TÉCNICA:
Martin Campbell
Elenco: Daniel Craig, Judy Dench, Eva Green, Mads Mikkelsen e Jeffrey Wright
Produção: Barbara Broccoli
Roteiro: Neal Purvis, Robert Wade e Paul Haggis, adaptado de um livro de Ian Flemming
Fotografia: Phill Meheux
Montador: Stuart Baird

Pedro Lauria

Em 2050 será conhecido como o maior roteirista e diretor de todos os tempos. Por enquanto, é só um jovem com o objetivo de ganhar o Oscar, a Palma de Ouro e o MTV Movie Awards pelo mesmo filme.
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