50 Anos de James Bond – Parte 3: “007 contra Goldfinger”
Pedro Lauria
(Essa crítica faz parte do especial de 50 anos de 007 – uma crítica por semana, vinte e três semanas)
Enfim, chegamos ao mais famoso de todos os 007s. A reverência não vem a toa: 007 Contra Goldfinger reúne uma Bond Girl interessante, um vilão lendário, uma música icônica, um roteiro mirabolante e outros elementos clássicos… Um filme que se assemelha muito a estrutura de 007 Contra o Satânico Dr.No – recheada de superlativos, mas repetindo os mesmos erros do primeiro filme – inclusive o principal: o roteiro.
Depois de sairmos de uma história cujo clima de conspiração global pulsava (Moscou contra 007), aqui voltamos a uma missão muito pontual: Bond é designado a investigar o excêntrico milionário Auric Goldfinger. Um vilão superficial (não a toa sua frase mais emblemática, dirigida para o agente, seja “Eu espero que você morra“), porém extremamente carismático e, o mais importante, realmente perigoso. Não é de se surpreender que a cena mais famosa de toda a franquia seja um de seus assassinatos. Tudo parte de uma trama mirabolante que envolve ouro radioativo, gás do sono e um esquadrão de aviadoras.
Falando em vilões, como não falar de Oddjob? O coreano com chapéu de abas cortantes se tornou outro ícone. Entretanto, é uma pena que seja em sua última luta com Bond, um combate repleto de reviravoltas, que fique claro o pouco tato do diretor para cenas de ação. A falta de música e de elementos sonoros diegéticos (ou seja, sons cujas fontes estejam dentro do universo do filme), tira parte da tensão que poderia ser gerada.
Aproveitemos o gancho para falar de Guy Hamilton, o primeiro a assumir o cargo de diretor após Terence Young. As diferenças entre os trabalhos são sutis: talvez os elementos mais perceptíveis sejam a maior preocupação em investir mais nas cenas do que no clima geral do filme, o que dá uma estrutura em capítulos para a obra. Exemplificando, se em um momento vemos uma hilária partida de golfe, em outra assistimos uma cena dominada onde a comédia cede todo o lugar à tensão. Inclusive, destaco essa cena – muito bem pensada – onde Hamilton dá dois zoom outs consecutivos, quando Bond está observando Goldfinger em uma estrada e é alvejado por um sniper, fazendo um paralelo visual interessantíssimo.
Mas como nem tudo são flores, essa cena também representa uma das grandes fragilidades do roteiro: uma barriga narrativa (ou seja, situação que não acrescenta nada a ação do filme) incompreensível. O roteiro de Richard Maibum, talvez muito preso ao livro, inclui uma personagem em uma trama de vingança que não se resolve e só serve para martelar uma informação que já estava bem clara: Auric Goldfinger e Oddjob são homens perigosos. De certa forma compensando, somos apresentados pela primeira vez, em toda série, a uma Bond Girl cheia de atitude e cinismo, além de relevância na trama. Seu nome? Pussy Galore…
Como não adorar tempos tão machistas?
007 Contra Goldfinger não é apenas um ótimo filme com algumas falhas. Assim como 007 contra o Satânico Dr.No ele é um marco absoluto na série – assim como o carro que ele introduz. É aqui que vemos, pela primeira vez, o imortal Aston Martin repleto de apetrechos como metralhadoras, serras dentadas, e, é claro, o sempre bem vindo assento ejetor. E o carro acaba sendo um grande símbolo para o que representa a terceira obra do agente: um clássico inigualável, um pouco datado, é verdade, mas extremamente charmoso. Isso se o Aston Martin tiver uma abertura repleta de mulheres douradas e uma das músicas mais sensacionais já compostas.
BEM NA FITA:
Vilões carismáticos;
Trama mirabolante;
Música incrível;
Bond Girl com personalidade
QUEIMOU O FILME:
Clímax enfraquecido;
Roteiro frágil – repleto de barrigas;
FICHA TÉCNICA:
Diretor: Guy Hamilton
Elenco: Sean Connery, Honor Blackman, Bernard Lee, Gerte Frobe, Harold Sakata e Lois Maxwell
Produção: Albert R. Broccoli e Harry Saltzman
Roteiro: Richard Maibaum, Johanna Harwood e Berkely Mather baseado no livro de Ian Fleming
Fotografia: Ted Moore
Montador: Peter R. Hunt