50 Anos de James Bond – Parte 6: “007 A Serviço Secreto de Sua Majestade”
Pedro Lauria
James Bond casando? George Lazenby? Blofeld demonstrando vigor e destreza? São esses ingredientes que tornam 007 – A Serviço Secreto de Sua Majestade o mais peculiar de todos os 007s – sendo, sem sombra de dúvidas, o maior “ame ou odeie” da franquia.
O sexto filme da franquia começa de forma única. Um homem, o qual só vemos a silhueta, está de carro em uma região litorânea, quando se vê obrigado a descer do automóvel para salvar uma estranha mulher que tentava um suicídio na beira do mar. Claro que falo de James Bond. A garota então se aproveita que o espião está ocupado enfrentando capangas que surgiram da areia para fugir. Bond vence a luta, olha para a câmera e diz “This never happened to the other fellow“. Uma referência direta ao seu antecessor, Sean Connery, e um anúncio de que os produtores Saltzman e Feldman realmente queriam revitalizar a franquia – que já havia mostrado sinais de exaustão em Com 007 Só se Vive Duas vezes.
A história a partir daí se desenrola de maneira pouco usual. Bond descobre que a garota, interpretada por Diana Rigg, é filha do chefe da máfia corsa, Draco. O mafioso, ao ver a relação dos dois, oferece a Bond uma grande quantia de dinheiro para se casar com ela. O agente britânico por sua vez não aceita, mas diz que se relacionaria com ela, contato que Draco o revelasse a localização de Blofeld, grande inimigo do MI6. E é dessa forma, moralmente ambígua que o filme caminha.
007 A Serviço Secreto de sua Majestade sofre de um problema sério: a longa duração de seu primeiro ato. Para apresentar o relacionamento entre Bond e Tracy, somos colocados para assistir várias cenas dos dois “se apaixonando”, algo que trava a continuação da narrativa e acaba com o dinamismo do filme. Além disso, há de se falar da “cafonice” presente nas cenas do casal, como quando eles andam a cavalo em meio a árvores, numa espécie de vídeo de casamento de baixo orçamento. É compreensível, porém, a tentativa não tão bem sucedida de criar empatia com o casal.
Entretanto, é no momento em que Bond vai para a Suíça, espionar Blofeld, que a obra ganha um contexto muito mais Bondiano – o agente britânico, disfarçado de Conde, descobre que o plano maligno da vez é o mais histriônico possível: usar uma bactéria para acabar com a fertilidade do mundo. Una-se isso a Bond, fingindo ser assexuado, em um verdadeiro harém de mulheres problemáticas, e voilá, um verdadeiro filme do James Bond.
Há de se apontar também, que as cenas de ação na neve (constantes a partir do segundo terço da projeção), contam com uma montagem incrível, que dá ritmo e funciona muito bem – mesmo para os padrões de hoje. Além disso, a música tema, instrumental, rivaliza inclusive com o tema clássico da franquia, tamanha sua qualidade e acerto na utilização – sempre durantes as cenas de ação.
O tema clássico, por sua vez, aparece justamente no explosivo Clímax. E quando ele surge, já entendemos o motivo para um primeiro ato tão arrastado: a partir do final do 2o ato, quando Tracy, reaparece, é que o filme atinge outro patamar: pela primeira vez Bond se preocupa realmente com uma Bond Girl, e mesmo que a identificação com ela, não seja das melhores no primeiro ato, as cenas de ação envolvendo os dois nos outros atos, vende a química o casal.
Essa relação é o que estrutura todo filme. Bond, que continua galinha, começa a se questionar, se é possível, na carreira de um espião – ter outra pessoa com que se preocupar. E é sabendo disso que Blofeld, novamente careca, se torna um vilão tão aterrorizante. Aliás, o seu preparo físico para a luta final em cima de um bobsled pode ser incoerente mas funciona de forma perfeita. Parte disso devendo ao seu intérprete Ted Savallas – que assim como o Bond de George Lazenby, é um dos poucos personagens que sofreu uma troca de atores. Troca bem vinda, pode se dizer, uma vez que dificilmente aceitaríamos o Bond de Connery se apaixonar. Entretanto, é inegável a sua falta de carisma quando comparado a Connery.
E ao chegar no plano final do filme – um dos mais emblemáticos da série – que somos obrigados a reconhecer a importância de 007 – A Serviço Secreto de Sua Majestade para franquia – uma prova que é possível aprofundar, sem tirar de contexto, o personagem mais conhecido da história do cinema.
BEM NA FITA: Uma Bondgirl com a qual nos preocupamos; Cenas de Ação muito bem dirigidas; Calhordices a lá Bond; Trilha Excelente; Final Estarrecedor
QUEIMOU O FILME: Primeiro terço lento; Lazenby não tem o mesmo carisma que Connery
FICHA TÉCNICA:
Diretor: Peter R. Hunt
Elenco: George Lazenby, Diana Riggs, Ted Savallas, Bernard Lee e Lois Maxwell
Produção: Albert R. Broccoli e Harry Saltzman
Roteiro: Richard Maibaun, baseado no livro de Ian Fleming
Fotografia: Michael Reed
Montador: John Glenn