50 Anos de James Bond – Parte 8: “Com 007 Viva e Deixe Morrer”

Pedro Lauria

Enfim chegamos ao oitavo filme do espião. A obra de estreia de Roger Moore: o homem que mais vezes encarnou James Bond.
Com 007 Viva e Deixe Morrer é um filme com muita personalidade – algo que acaba se mostrando uma faca de dois gumes. Ao contrário de 007 Contra o Satânico Dr.No, obra de estréia de Sean Connery e da franquia, o filme de Moore tem um universo muito rico e explorado com exaustão. Entretanto, fundado em raízes do blaxploitation e de temáticas sobrenaturais (referentes a cultura voodoo), as obra destoa em alguns momentos do que se espera de uma obra do agente britânico.
A história, pra variar, é bem simples: Bond é enviado aos Estados Unidos para investigar a morte de três agentes do MI6 e deter um traficante de heroína, Mr.Big, que vende a droga a custo zero e está ligado a ilha caribenha de San Monique. A partir daí somos apresentados a uma trama que flerta com o místico (jogos de tarot, cobras, zumbis voodoos…) e um contexto dos gangsters negros norte americanos que tem como sede Nova York e Nova Orleans.

Também somos apresentados a essa pseudo Bond Girl que nada adiciona a narrativa...

Também somos apresentados a essa pseudo Bond Girl que nada adiciona a narrativa…


A estréia de Roger Moore é extremamente adequada, e de certa forma, ainda recatada – longe dos histrionismos (embora alguns já apareçam) que ficariam famosos em seus últimos filmes. Seu Bond compensa a falta da persona “cafajeste” de Sean Connery, construindo uma atitude “Quem se importa” muito adequada a um personagem famoso pela falta de vínculo afetivo. O Bond de Moore revigora os anos de Connery, que começaram a pesar, mas continuida ignorando a existência de 007 A Serviço de sua Majestade no cânone da franquia.
Dirigido por Guy Hamilton (007 Contra Goldfinger e trocentos outros filmes do agente), a obra prossegue com cenas de luta e perseguições de carro com montagem empolgante, mas ainda pecando na falta de trilha nas cenas mais tensas. Falando em trilha… Live and Let Die, composta por Paul e Linda McCartney se estabelece facilmente como uma das mais incríveis trilhas já compostas para a franquia.
Parte da personalidade do filme, com certeza se deve ao acervo de vilões peculiares – Barão de Samedi, uma espécie de Vera Verão Mística, Tee Hee, o homem da garra de ferro e Kananga, o gângster apaixonado por tubarões, cobras e crocodilos. Inclusive é necessário sublinhas que todos – sem exceção – são derrotados de formas rídiculas: que vão de bombas de gás (a morte mais horrenda já vista) até alicates de unha. Algo, que por incrível que pareça, ajuda a sacramentar a peculiaridade do filme.
Outro ponto alto é sua Bond Girl, Solitaire, interpretada por Jane Seymour. Além de ser uma das mulheres mais bonitas a já ter ocupado o posto, sua personagem ambígua e misteriosa, traz o tom de clichê e misticismo que impregna a obra.
Uma das Bond Girls mais bonitas de todos os tempos tinha um problema sério: síndrome de Rapunzel.

Uma das Bond Girls mais bonitas de todos os tempos tinha um problema sério: síndrome de Rapunzel.


Mas nem tudo são flores na estréia de Roger Moore: o filme, apesar de ter duas horas (duração comum dos filmes do agente), é cansativo, principalmente pelo início do terceiro ato, onde somos apresentados a uma perseguição de quase quinze minutos, extremamente monótona, em parte devido ao surgimento de um personagem que nada acrescenta ao filme, o comic relief abobalhado, xerife Pepper. Além disso, a superficialidade da trama que foca mais na cultura e nas peculiaridades das culturas ali mostradas, acaba tornando a história principal deveras aborrecida em determinados momentos.
Ainda sim, Com 007 Viva e Deixe Morrer é um filme marcante que trouxe personagens e temáticas que o diferenciam por demais de todos os outros filmes da série. E se a franquia hoje tem 23 obras, nada melhor para um novo James Bond que ter sua estréia em um dos mais peculiares deles.
BEM NA FITA: A música tema; A bela Bond Girl; Vilões Marcantes; Estréia interessante de Roger Moore
QUEIMOU O FILME: O início do terceiro ato; O filme deriva sua força da cultura voodoo e dos elementos de blaxploitation, deixando a narrativa de lado
FICHA TÉCNICA:
Diretor: Guy Hamilton
Elenco: Roger Moore, Yaphet Kotto, Jane Seymour, Bernard Lee e Lois Maxwell
Produção: Albert R. Broccoli e Harry Saltzman
Roteiro: Tom Mankewicz, baseado no livro de Ian Fleming
Fotografia: Ted Moore
Montador: Bert Bates, Raymond Poulton e John Shirley

Pedro Lauria

Em 2050 será conhecido como o maior roteirista e diretor de todos os tempos. Por enquanto, é só um jovem com o objetivo de ganhar o Oscar, a Palma de Ouro e o MTV Movie Awards pelo mesmo filme.
NAN