A Deusa do Asfalto Netflix

A Deusa do Asfalto (Netflix) e sua vertiginosa epopeia musical

Guilherme Farizeli

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17 de agosto de 2021

Tinha tudo para ser interessante. Mas parece que nada deu certo. Se tivesse que dar um resumida básica em ‘A Deusa do Asfalto‘, que chegou na nossa Netflix por esses dias, esse seria o mote. Nem sempre uma boa premissa é o suficiente para fazer um filme legal. Então, deixa eu me aprofundar nas explicações.

Normalmente, filmes com temáticas musicais tendem a um certo constrangimento específico. E eu explico o motivo. Quando um ator é obrigado a fingir que toca muito bem um instrumento musical (os filmes nunca são sobre péssimos guitarristas), é tragédia anunciada.

Mesmo produções que figuraram no Oscar como Bohemian Rapsody ou Whiplash não escapam do olhar mais clínico de um músico. Sim, rola um constrangimento. Mas, que bom que os filmes (esses e muitos outros) não são feitos apenas para um público específico. Do contrário, perderíamos várias obras muitos legais que tem apenas esse “pequeno” probleminha.

A questão em ‘A Deusa do Asfalto‘ é que os problemas não tem nada de pequenos. Pelo contrário. Mas, vamos por partes.

A trama

A história gira em torno de Max (Ximena Romo), uma mulher criada em um bairro violento perto da Cidade do México que vira uma estrela do Rock. Em turnê, ela acaba voltando para seu bairro e se vê confrontada por seu passado. Viram? Premissa legal, bacana. Não tem nada de muito novo, mas daria um caldo até divertido. Eu achei os cenários bacanas, bem realistas. Boa parte do filme acontece em ruas paupérrimas de algum lugar pobre na América Latina. Me lembrou bastante da minha infância na casa da minha vó. Onde eventualmente eu jogava bola em uma ladeira totalmente sem asfalto (e com bastante lama) no bairro de Ambaí, em Nova Iguaçu (RJ). Ou seja, o filme tinha mais um elemento para me pegar de jeito. Mas não rolou.

A Deusa do Asfalto‘ é um filme da Netflix que sofre de um severo caso de “plot twist invertido”! Parece manobra de ginástica artística, né? Mas é só uma grande mancada no roteiro. O que poderia ser o grand finale e adicionar alguma emoção ao longa, acaba acontecendo logo no primeiro ato. Essa decisão se justificaria se a história a seguir fosse alguma coisa de proporções épicas. Se a “jornada fosse mais importante que o destino”. Acima de tudo, não é o caso.

Probleminhas e problemões

Primeiramente, algumas decisões técnicas são bem discutíveis. O longa da Netflix vende a música como parte elementar da trama, mas a gente não consegue enxergar isso em ‘A Deusa do Asfalto‘. Eu preferiria que a protagonista tivesse alguma outra profissão. Como contadora. Ou dentista. Imagina só: “uma dentista bem-sucedida saída de um bairro pobre do México volta às suas origens e se vê confrontada por seu passado“. Acho que funcionaria melhor, heim?

A protagonista não tem talento para cantar e acho que essa nem foi uma preocupação da direção. As cenas de show são horrorosas, com um som terrível. A sincronia, que na maioria dos filmes musicais é sofrível em passagens instrumentais, aqui também é de chorar nas horas em que a protagonista aparece “cantando” sozinha no frame. Nesse sentido, acho que faltaram soluções inteligentes para problemas óbvios. A protagonista anda pra cima e pra baixo com um violão, mas quase nunca o toca. E quando o faz, deixa a gente com vontade de quero menos.

Corre que o bicho tá pegando! (Divulgação/Netflix)

Os clichês estão todos ali. Apesar dos figurinos e ambientações serem legais e evocarem a vibe do punk oitentista que pairava sobre o México, as perucas são terríveis. Parece que cada acerto de ‘A Deusa do Asfalto‘ vem acompanhado de um erro, o que é péssimo para o longa da Netflix. Por fim, ainda temos o recurso da câmera girando. Sim, para cada grande momento do filme (o que também é discutível), temos uma vertiginosa sequência de giro de câmera em volta dos protagonistas. Sim, aquele giro mesmo. Seja um beijo, um abraço, uma pose de quebrada. Tudo é motivo para o mundo girar.

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Conclusão

Uma sequência de decisões equivocadas afastou o filme do que ele realmente poderia ser. O trabalho das atrizes é muito interessante e existe uma química entre elas. Mas os diálogos se mostram muitas vezes forçados ou mal escritos. As já citadas decisões do roteiro acabam afastando o longa de uma possível tábua de salvação: uma eventual vibe de novelão mexicano. Quando nem a surpresa é guardada para o final, fica difícil esperar até o fim da festa.

E, acima de tudo, ‘A Deusa do Asfalto‘ perde uma oportunidade gigante de falar sobre a arte que emerge em meio ao caos, tão comum na América Latina. Sobre a beleza daquela flor que nasce no deserto.

Ficha técnica – La Diosa Del Asfalto

Título original: La Diosa Del Asfalto
Direção: Julián Hernández
Elenco: Ximena Romo, Nelly González, Alejandra Herrera, Raquel Robles, Jimena Mancilla e Paulina Goto.
Data de estreia: qua, 11/08/21
Onde assistir: Netflix
País: México
Gênero: drama
Duração: 127 minutos
Ano de produção: 2020
Classificação: 18 anos

Guilherme Farizeli

Músico há mais de mil vidas. Profissional de Marketing apaixonado por cinema, séries, quadrinhos e futebol. Bijú lover. Um amante incondicional da arte, que acredita que ela deve ser sempre inclusiva, democrática e representativa. Remember, kids: vida sem arte, não é NADA!
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