cantora Adele 30 crítica do novo álbum

O retorno triunfal de Adele em ’30’

Cadu Costa

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22 de novembro de 2021

O mundo da música mudou desde que o último álbum de Adele foi lançado em 2015. Mas ela ainda está provando ser a exceção à muitas regras. Sua voz – que declama, que discute, que provoca, que implora, que treme, que grita – está justamente no centro de 30, seu novo trabalho.

Adele fala em 30 sobre diversos problemas pessoais e socioculturais. Há espaço para seu divórcio de Simon Konecki, pai de seu filho, Angelo, mas também sobre culpa, bebida, depressão, solidão, insegurança e, eventualmente, seguir em frente.

Em seus seis anos entre os álbuns – uma lacuna ampliada pela pandemia – Adele se manteve amplamente à parte da atual produção de sucessos pop. Ela pode, pois é uma das poucas estrelas restantes com fãs fervorosos por várias gerações, e se mantém na história da música mais do que em tendências passageiras.

E 30 comprova isso mais uma vez depois de uma divulgação de alto nível que incluiu um show especial da emissora americana CBS no horário nobre, uma entrevista com Oprah Winfrey e as capas das edições americana e britânica da Vogue.

Mas e a música?

Bem, continua como sempre foi: Adele sendo Adele. E segundo um amigo que disse “não achar isso ruim, pois demonstra sua personalidade, identidade ao invés de soar genérico como diversas outras artistas pop das quais mal sabemos gente diferenciar direito qual é qual”, somos obrigados a concordar e referendar.

As canções de 30 podem ser extravagantemente teatrais. O álbum começa com “Strangers by Nature” e termina com “Love Is a Game”: baladas divertidas e carregadas de cordas que evocam a opulência de uma Hollywood do passado. Algo na linha do último filme de Tarantino, por exemplo. No entanto, suas letras possuem uma confusão de sentimentos crescidos sobre o próprio amor. Em “Love Is a Game”, exemplificativamente, Adele disparou, “Que coisa cruel se autoinfligir essa dor.”

Em “Cry Your Heart Out,” o refrão é “Chore seu coração, limpe seu rosto” ao longo de uma batida que evolui de uma homenagem a motown vintage para o reggae. Mas esse ritmo tão historicamente dançante não encontra eco nos versos depressivos: “Não tenho mais nada para sentir. Não consigo nem chorar”; assim como enfrenta sua própria culpabilidade: “Eu criei essa tempestade. É justo que eu tenha que sentar na chuva.” E ao longo de 30, é isso que Adele faz: combate a dor com o virtuosismo de sua musicabilidade.

Faixas variadas

A maioria das músicas é produzida, co-escrita e amplamente tocada pelo produtor Greg Kurstin, que estimula faixas tão variadas quanto a balada de piano simples “Easy on Me” – um apelo e uma autojustificativa – e “Oh My God”, um piscar de olhos que tem Adele se perguntando se é muito cedo ou está muito machucada para flertar novamente.

No entanto, vemos novidades em seu som. Adele convocou os especialistas em pop, os suecos Max Martin e Shellback para “Can I Get It?”. O resultado uma guitarra rítmica otimista quando ela retorna ao prazer de um novo namoro: “Estou contando com você para colocar os pedaços de mim de volta no lugar.”

Adele canta para seu filho em “My Little Love”, oferecendo garantias e desculpas. Com “Sinto muito se o que fiz o deixou triste”, ela oferece em um sussurro ao som de R&B. A faixa interrompe – e quase descarrila – seu groove melancólico e ondulante de Marvin Gaye com notas de voz digital que Adele gravou em momentos de choro baixo e em conversas com seu filho.

“A mamãe tem tido muitos sentimentos fortes recentemente”, ela diz a ele. “Eu me sinto um pouco presa, tipo, hum, me sinto um pouco confuso e sinto que não sei realmente o que estou fazendo.” É quase um pedido de socorro de uma mulher que se doa demais, que ama demais, que se confunde demais, que é humana demais.

Imortal

Por conta disso, podemos dizer que Adele apresenta mais dela mesmo em 30. Desde seu surgimento em 2008 com seu debut 19, estamos vendo uma artista crescer e amadurecer diante de nós. A cantora é mais do que um ícone pop do momento. Ela não só atinge as manchetes de sucesso, é o próprio significado da palavra.

Mesmo depois de um hiato, mesmo perto do silêncio, mesmo contradizendo todas as regras não escritas de gestão de carreira de estrela pop, a arista prova seu talento através dos tempos e caminha para ser uma imortal da música mundial.

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Ouça 30, novo álbum de Adele

Cadu Costa

Cadu Costa era um camisa 10 campeão do Vasco da Gama nos anos 80 até ser picado por uma aranha radioativa e assumir o manto do Homem-Aranha. Pra manter sua identidade secreta, resolveu ser um astro do rock e rodar o mundo. Hoje prefere ser somente um jornalista bêbado amante de animais que ouve Paulinho da Viola e chora pelos amores vividos. Até porque está ficando velho e esse mundo nem merece mais ser salvo.
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Créditos Galáticos

Créditos Galáticos: 9

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