andre ribeiro

andre ribeiro lança session especial com músicas inéditas

Fabricio Teixeira

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2 de abril de 2021

Lançado no último dia 6 de março, em meio a uma pandemia – e a um consequente isolamento social, andre ribeiro acaba de lançar uma session especial. O repertório traz músicas autorais, performadas originalmente pela banda Alaska – do qual o artista fez parte por nove anos – e pelo duo Quinta Que Vem, além de faixas do EP solo Cidades, bem como inéditas que serão lançadas em breve.

No dia 11 de março, o artista gravou a session ‘o que nunca foi de amassar’, onde cantou músicas de seu novo trabalho, além de revisitar canções da suas antigas bandas e dar uma nova roupagem a um clássico do samba, em um cover de Jorge Aragão. andre ribeiro falou com o ULTRAVERSO sobre esse novo passo na carreira, o EP e a session.

Confere aí!

A session foi um projeto bem intimista, não só na concepção do cenário, como nas próprias músicas. Isso é um reflexo desse trabalho solo?

Eu acho que esse lance do formato da session foi uma mistura de várias coisas. Como eu e o Cassiano [Geraldo, da Eu Te Amo Records] já vínhamos conversando desde um pouco antes de eu sair da banda em que eu estava tocando, ele já entendia muito bem o caminho que eu estava trilhando. Então eu acho que sim, é um reflexo dessa transição, é um reflexo de um trabalho que sou só eu visivelmente ali, no primeiro plano. E acho que condiz com as músicas que eu faço no momento e as que eu tenho feito até agora. Até porque o Cassiano teve essa ideia e já sabia exatamente como executar, e foi bem legal por esse lado.

Aí eu pensei também que eu não queria tanta gente tocando porque isso envolve ensaio. E várias coisas que não davam pra fazer por conta da pandemia. E ainda não dá. Então, foi um trampo mais de viabilizar como tocar isso sendo só eu. E aí, acho que fica intimista mesmo por conta desse jeito, desse formato, onde não tem cada um tocando seu instrumento. Sou só eu ali. E isso já gera outra vulnerabilidade também. Eu estava meio enferrujado, ainda tô, por não tocar. Portanto, acho que isso contribui pra essa sensação do intimismo da session. Acho que reflete bem.

Uma coisa que chama atenção é o fato do seu nome ser grafado com letra minúscula e sem acento. Isso também é uma montagem desse cenário mais intimista?

O jeito que o nome está disposto, sem acento e sem letra maiúscula, é 100% estético. Mas faz sentido, agora que você falou, de você olhar e não ter muitos níveis, sabe!? De você olhar e ter um nível só. Isso é massa!

Nós estamos vivendo um momento ingrato de solidão, com essa questão da pandemia. E você compôs as músicas do EP nos quartos de hotéis durante uma viagem em 2018. Você acha que isso ajudou na identificação com o público, por você ter escrito as músicas em um momento de solidão (mesmo que auto imposta)?

Eu não sei dizer se o pessoal se identificou nesse sentido. Porque naquela época, eu realmente levei as minhas coisas, meu teclado, meu computador, meus HDs, sem pensar que ia sair alguma coisa. Eu levei mais por desencargo mesmo, caso eu quisesse fazer alguma música. Porque quando eu quero fazer alguma música, eu não me contento mais só em registrar uma ideia no celular, ou qualquer coisa mais simples assim. Eu perdi um pouco essa capacidade que eu até queria retomar.

Eu preciso sentar na frente do computar, começar e já terminar de produzir. Então levei as coisas pra essa viagem na Europa pra eu não ter que ficar passando ansiedade de não conseguir executar o que tava na minha cabeça e de não conseguir capturar isso de novo quando eu voltasse, de não ser a mesma coisa, a mesma ideia. Eu queria fazer as coisas instantaneamente.

Eu acho que o isolamento da composição tá traduzido nas músicas de alguma forma. E acho que pode ser que agora as pessoas estejam ouvindo nesse momento de isolamento involuntário e estejam entendendo um pouco mais de onde vêm as mensagens, né. Ou as emoções das músicas.

Cada música do EP tem o nome de uma cidade que você visitou. E como é que as cidades influenciaram nas músicas?

Em Sintra, por exemplo, eu estava andando naqueles castelos que tu sobe uma escadaria, e parece que vai ficar três dias subindo escada e aí subindo escada, subindo escada, e quando você chega lá no topo daqueles castelos megalomaníacos, você vê uma vista linda de Sintra e Lisboa lá de cima. E tinha um museu nesse complexo todo, que tinha uma obra de um artista, que era a única obra desse artista, ele é um artista anônimo. E era uma obra inacabada, era uma estatueta incompleta. Eu fiquei noiado com essa estatueta, fiquei olhando pra ela tipo, uns cinco minutos. Aí o segurança do museu começou a assobiar e eu tava com meu sampler na mochila e tentei ao máximo samplear ele de perto sem ficar parecendo inconveniente.

Sampleei o assobio e alguns passos também no museu. Quando eu cheguei no hotel, estava com essa imagem da obra inacabada de um artista anônimo e escrevi sobre isso e sobre como eu também deixei tanta coisa sem terminar.

Em Cascais, foi na Boca do Inferno, onde o Fernando Pessoa escreveu o poema. Então aqueles sons de onda são todos de lá mesmo. Em Madrid também, eu escrevi na virada de 2018 pra 2019. Assim que virou meia-noite eu comecei a gravar, então também tem uma certa sinceridade do tempo na música. Pra mim, o EP ele serve mais do que as fotografias que eu tirei durante a viagem. Como minha comunicação com áudio é um pouco mais desenvolvida do que minha comunicação por imagem, serviu também como um álbum de viagem mesmo.

andre ribeiro (Divulgação)

Depois de tantos anos em banda, compor sozinho foi diferente? Tem alguma diferença pro andre ribeiro entre compor pra um trabalho solo e compor pra banda?

Em alguns níveis sim, tem alguma diferença. Apesar de eu ter escrito as músicas da Alaska também sozinho – a maioria, acho que tem uma diferença de pensar no produto final. Quando eu tava escrevendo pra Alaska, eu já tava escrevendo pensando no formato banda. Então tinha uma certa limitação, automaticamente. Quando eu tava escrevendo pro projeto solo, eu não tenho essas amarras porque por tanto tempo eu nem pensei em executar isso ao vivo nem nada.

Estava fazendo um trabalho de produção mesmo, e a parte de composição de letra muda porque eu mudei o foco das ideias. Antes, estava escrevendo coisas que eu precisava, ou que eu pelo menos tentava. Que fossem identificáveis pra outras cinco pessoas que estavam no projeto, no palco, e mais as outras que estava envolvidas além do palco. Tentava incluir todo mundo nesse processo emocional, navegar entre as emoções de todo mundo e providenciar uma figura bem montada daquele projeto e daquelas ideias. Como sou só eu agora, é um pouco mais rápido e mais espontâneo também, em vário sentidos.

Mas na época da Alaska você já tinha vontade de ter um trabalho solo, ou isso foi circunstancial com o fim da banda?

Eu nunca quis ter um projeto solo. Eu já tive outros projetos paralelos à Alaska, mas sempre com outras pessoas e com nomes. Nunca tive um projeto com o meu nome e isso nunca me passou pela cabeça, sinceramente. Nem enquanto estava produzindo as músicas do projeto solo isso era uma ideia de ser lançado com meu nome. Foi realmente se manifestando dessa forma e se concretizando a partir do momento em que eu decidi, de fato, sair da banda e aí eu pensei “tá, eu ainda não estou no ponto onde eu quero parar de lançar música”. Ainda assim, eu não estava nem um pouco disposto a ter outra banda.

Logo, o projeto solo foi uma boa solução. E o Cassiano e outros amigos foram dizendo “faz, isso é massa, tá legal! Você pode fazer de um jeito mais leve do que era na Alaska”. E tô ainda me adaptando e aprendendo, e fazendo sempre que dá.

Nesse processo, tem alguma coisa que você compôs na época da Alaska e que não chegou a usa, e que pensa em revisitar?

Tem, mas eu ainda não achei como (risos). Tinha uma música no NVMO (Ninguém Vai Me Ouvir, disco da Alaska) que ficou de fora, e eu gosto muito da dela. E apesar de eu já ter ouvido mil vezes que ela não é uma música boa, eu gosto mesmo dela. Ainda estou tentando achar uma forma de “vestir” essa música.

Entretanto, ela está lá embaixo nas prioridades. Minha prioridade é sempre a ideia nova, por isso que eu me atropelo. Tem muita coisa que já está gravada, mixada, mas eu não lancei porque tô pilhado nas coisas que eu estou fazendo agora.

Na session você incluiu as músicas do sua carreira solo, músicas da Alaska, e lá no final tem um cover de uma música do Jorge Aragão (Eu e Você Sempre), que foi uma coisa inusitada. De onde surgiu essa ideia de fazer uma releitura de um clássico do samba nesse formato mais intimista?

Cara, em 2018 eu tava indo tocar com a Alaska e aí tava no carro com um amigo e uma amiga, o Guilherme e a Júlia. Nós estávamos mostrando um pro outro as músicas mais tristes do mundo. A gente tava numa vibe tipo “cara, já ouviu essa música? Essa é a música mais triste que tem! (risos)”. E aí eu falei “não, véio, ESSA aqui é a música mais triste que eu conheço!”. E aí botei Eu e Você, Sempre, que é uma música que tocava sempre lá em casa, minha mãe adora, e essa amiga ficou apaixonada na música. Não lembro nem se ela conhecia já, ou se conheceu no carro. Mas eu lembro que a gente ficou noiando nessa música dentro do carro, e aí ano passado, perto do aniversário dela, ela falou “faz uma versão daquela música lá!”. Aí eu fiquei “como eu vou fazer uma versão de uma música do Jorge Aragão? Tenho nem roupa pra isso!”.  

Eu pensei em fazer do jeito mais simples que eu posso pra não estragar a música. Vou copiar duas pessoas: vou copiar o Jorge Aragão pegando a música dele, e vou copiar o Frank Ocean no arranjo e na produção. Mas nunca foi minha intenção, ou pretensão, em nenhum momento de dizer que isso foi ideia minha! A ideia de fazer o cover, do arranjo e da produção não é minha. E, a música não é minha. Eu só peguei uma ideia assim, que estava no ar, e coloquei no computador (risos)! E foi muito legal, muito gostoso! Talvez eu faça com outras, talvez não, mas ficou muito massa!

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Você falou que sua mãe ouvia Jorge Aragão em casa. Ele faz parte das suas influências? Quais foram as influências que você aproveitou na hora de compor esse projeto solo?

Cara, as minhas influências para composição, pra letras, elas têm muito pouco a ver com música. Não tenho referências musicais na hora de escrever não. Eu costumo ler muita coisa, ver muita entrevista, muito filme, e muito documentário.

Então, tipo, as minhas referências pra escrever estão em conteúdos que não são música. Desde 2016, depois do primeiro disco da Alaska eu não tenho mais tantas referências musicais na hora de botar a caneta no papel. É raríssimo. Mas acho que é justo dizer que tudo o que tocava lá na minha casa, tudo que toca no meu fone até hoje, de certa forma, influencia, né!?

Então, nesse lance de fazer música triste atrás de música triste talvez tenha a ver com as coisas que eu ouvi de moleque até hoje.

Mas você assiste a filmes e lê livros já pensando em absorver alguma coisa pra tentar compor? Tem algum gênero que você prefira ou é qualquer filme, livros, entrevista?

Não, não. É insuportável (risos)! É muito difícil consumir um conteúdo que não acenda um negocinho e me faça levantar e fazer alguma parada. Às vezes eu só quero ver um vídeo no YouTube, tá ligado?! Só quero ver o Kanye West dando uma entrevista no TMZ e gritando. Às vezes eu só quero ver isso!

E aí acendem várias coisas na minha cabeça e sai o NVMO, entendeu?! E essas coisas acontecem com uma frequência absurda! Ultimamente eu tenho me controlado mais, porque estava num ritmo um pouco desagradável de ter ideia e ter que levantar e colocar pra frente. E nem sempre eu tô fazendo porque eu gosto. Eu tô fazendo porque eu preciso tirar essa ideia da cabeça. Então, é um trabalhinho aí de auto preservação. Só consumir alguma coisa, sem ter que produzir outra. Eu acho que estou nesse processo agora.

Pra finalizar, eu separei um verso da música Madrid, que fala que “esse ano vai ser tudo igual, mas tudo diferente”…

Envelheceu como uma boa caixa de leite, né (risos)!?

Pois é, ela define 2021, né!? Você tá planejando o ano? Tem como planejar esse ano? Você pretende investir em um novo EP, ou lançar um álbum, fazer shows? Como você planeja esse ano tão igual, mas tão diferente?

Eu acho que até certo ponto dá pra planejar sim, eu planejei um disco pra esse ano. Na verdade eu planejei dois, mas já virou um porque eu acho que o segundo não vai sair não (risos). Mas eu já terminei o meu primeiro disco, ele está na mixagem. Estou fazendo o meu segundo, comecei a produção com os meninos de uma banda que eu tinha durante a Alaska, ou antes da Alaska, já não lembro mais. Mas a gente vai voltar com essa banda, chamada Quinta Que Vem.

andre ribeiro (Divulgação)

Estou com a banda Oceano também, de campinas, num processo de direção artística e produção, e tocando umas paradas com eles também. O disco deles sai esse ano e eu tô assinando a produção. Então, cara, eu tô produzindo mais artistas do que to me produzindo em 2021. Eu queria que o ano fosse mais sobre isso do que sobre eu como artista. Show, essas coisas, eu não sei nem se esse conceito existe mais (risos). Então acho que acho que a gente vai chegar em 2022 pensando “show, que p**** é essa?”.

Tô tentando não olhar muito pra esse lado, mas adoraria, principalmente com o Quinta Que Vem e com o Oceano, que são projetos que eu adoraria fazer show. Com o meu projeto solo eu não sei ainda, porque eu estou meio que num processo de negação em produzir esse projeto ao vivo. Mas o Cassiano, com uma conversa vai me obrigar a fazer isso e vai ser massa (risos)!

andre ribeiro, muito obrigado pela entrevista!

Eu que agradeço! Foi bom demais!

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Além disso, claro, o (a) cantor(a) ou a banda precisa ter algo gravado com uma qualidade razoável. Afinal, só assim conseguiremos divulgar o seu trabalho. Enfim, sem mais delongas, entre em contato pelo e-mail guilherme@ultraverso.com.br! Aquele abraço!

 

 

Fabricio Teixeira

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