O rock latino e nostálgico do duo Atalhos

Rafael Vasco

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19 de junho de 2021

O duo paulista Atalhos acaba de lançar seu mais novo single, Te Encontrei em SP, um rock latino cantado em português e espanhol. Formada pelo vocalista Gabriel Soares e o guitarrista Conrado Passareli, a banda que está prestes a completar dez anos de estrada prepara o quarto disco de estúdio, que se chamará A Tentação do Fracasso.

Assim, desde o ano passado começaram a divulgar os singles que farão parte deste novo trabalho, como a potente Mesmo Coração. A saber, ainda em processo de finalização, o álbum conta com a produção do chileno Ives Sepúlveda e promete trazer uma batida nostálgica.

Portanto, o ULTRAVERSO conversou com o Gabriel, vocalista da Atalhos, para descobrir mais sobre as influências da banda, parcerias musicais e a incursão no mercado latino. Desta forma, acompanhe nosso bate papo: 

ULTRAVERSO: Vocês estão preparando o lançamento do novo disco, que vai se chamar “A Tentação do Fracasso”. Contudo, o curioso é que ele foi gravado em três países diferentes, no Brasil, Chile e Argentina. Sabendo disso, que tipo de mistura é possível esperar desse trabalho? 

GABRIEL: Começamos a gravar o disco em São Paulo, mas durante o processo já tínhamos a ideia de buscar novos parceiros na América Latina. Logo, o primeiro que estreitamos mais contato foi o Ives Sepúlveda, vocalista da banda chilena The Holydrug Couple. Sendo assim, viajei até Santiago e passei um tempo com ele, trabalhamos nas músicas buscando colocar mais sintetizadores e teclados.

Depois de um tempo, quando estava de férias em Buenos Aires, conheci o clássico estúdio Panda, que já recebeu nomes como Charly García e Fito Páez. Nesse local acabei gravando uma parte de guitarra que estava faltando do novo álbum, mas no fim fiquei tão encantado com os equipamentos analógicos que decidi fazer a mixagem de todas as faixas lá, com a ajuda do Ives, que veio até Buenos Aires. Então, nessa mistura cultural toda, além da parte da língua, com pitadas de castelhano nas letras, também terá diversas influências sonoras.

Aliás, já existe uma previsão de lançamento?

GABRIEL: Sim, o disco completo será lançado em janeiro de 2022. Mas, até lá vamos continuar liberando alguns singles que farão parte do trabalho, além de lançar também alguns remixes.

Nesse sentido, o single “Te Encontrei em SP” é um dueto com a cantora argentina Delfina Campos. De que modo surgiu a ideia da parceria e como foi o processo criativo dessa música?

GABRIEL: Assim que compus essa letra já imaginava ter uma voz feminina, só que no fim acabei gravando a música sozinho. Porém, no meio da pandemia assinamos com um selo musical de Buenos Aires, chamado Scatter Records. Foi então que durante uma conversa com o dono do selo, Pablo Hierro, falávamos sobre o meu desejo em expandir a banda para outros países e criar novas conexões. Ele [Pablo] também é empresário de diversos artistas e começou a me mostrar vários deles, até que ouvi a Delfina e gostei muito da sua música, tinha a ver com o nosso trabalho.

Sendo assim, entramos em contato e logo lembrei da faixa ‘Te Encontrei em SP’, que foi escrita por mim para ter uma voz feminina, então fiz a proposta a ela. Dessa forma, reabri o arquivo master já gravado e começamos a mexer nele, traduzimos as partes da Delfina para o espanhol, com o refrão mantido em português, cantado por nós dois. Essa foi uma conexão do nosso selo em Bueno Aires que acabou resultando nessa parceria entre os dois países.

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‘Te Encontrei em SP’, Banda Atalhos feat. Delfina Campos (Youtube)

A Atalhos já tocou com grandes artistas, como o Marcelo Bonfá, baterista da Legião Urbana. Desse modo, como é poder ter pessoas que são ídolos nacionais colaborando no trabalho de vocês?

GABRIEL: Essa parceria com o Bonfá começou no nosso primeiro disco, chamado ‘Em busca do tempo perdido’, lançado em 2012. Eu sempre fui fã da Legião e sabia que era o Bonfá que desenhava as capas dos álbuns do grupo. Foi aí que eu mandei um email o convidando para fazer a nossa arte, enviei também o single que dava nome ao disco, e ele acabou aceitando desenhar a capa. Ficamos amigos e também fizemos alguns shows juntos pelo interior de São Paulo. Poder tocar com um ídolo da minha adolescência foi uma coisa fantástica. Acredito que a experiência de trabalhar com pessoas tão reconhecidas acaba se tornando um aprendizado.

Além disso, o próprio Bonfá disse em uma entrevista que enxergava na Atalhos “Uma sonoridade pop britânica”, da qual ele gosta muito. Nesse sentido, quais as referências da música inglesa no trabalho de vocês?

GABRIEL: Essa pergunta me fez lembrar quando enviei o email para o Bonfá junto com o nosso single ‘Em busca do tempo perdido’. Ele me disse que lembrava a banda Travis, da qual eu sou fanzaço. A minha adolescência inteira eu ouvia ‘Brit Pop’, por isso esse estilo tem muita influência no som da banda, e mesmo com quase dez anos após o primeiro disco ainda assim trazemos essa referência deles, mesmo que inconscientemente. Porém, hoje o nosso som se aproxima mais do ‘Dream Pop’, que acaba sendo mais uma vertente do brit pop. No entanto, eu sempre ouvi muito Snow Patrol, Teenage Fanclub, Belle & Sebastian, são essas bandas que acabaram me formando musicalmente.

Banda Atalhos durante apresentação no Festival da Rádio KEXP. (Divulgação)

A saber, você já tem dois livros publicados, ‘As Madeleines das Freiras’ e ‘Cidade Pequena’. De que maneira a experiência com a literatura contribui nas composições da banda?

GABRIEL: Conrado e eu sempre tivemos uma ligação com literatura, nos estimulamos por este universo e no nosso primeiro álbum já tinham coisas ali que remetiam a personagens de livros. Já no segundo trabalho tem menções à Franz Kafka, no terceiro falamos sobre a Divina Comédia, de Dante Alighieri. Portanto, gostamos de fazer canções e colocar referências nas letras, homenagear livros, autores e temos feito isso desde então. No próximo disco, que vai se chamar ‘A tentação do fracasso’, homenageamos um livro de mesmo nome do escritor peruano Julio Ramón Ribeyro, e com isso, buscamos sempre estabelecer uma conexão com a literatura. Porém, agora queremos ser mais diretos, com letras mais claras e abertas, não mais tão herméticas.

Recentemente a Atalhos foi a única banda brasileira na seleção do Festival da Rádio KEXP, em comemoração aos 10 anos do programa El Sonido. Desta forma, como foi receber este convite e também representar o indie rock brasileiro lá fora?

GABRIEL: Foi uma responsabilidade imensa, a KEXP é uma rádio muito conceituada de Seatle, nos Estados Unidos, e poucas artistas brasileiros já foram lá tocar ao vivo. Nós já estávamos com dois singles, ‘Mesmo coração’ e ‘Tentação do fracasso’, na programação da emissora, e nosso empresário recebeu um email deles dizendo que o programa ‘El Sonido’ faria um evento especial em celebração a seu aniversário, nos convidando a participar junto a outras bandas.

Assim, gravamos nossa participação em São Paulo e enviamos para a exibição no festival, e apesar do tempo curto acabou dando tudo certo. Mas, ficamos honrados de ter representado a música brasileira lá fora, ao lado de grandes artistas latinos, podendo até mesmo abrir portas no mercado internacional.

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Com isso, como vocês enxergam o mercado nacional para o indie rock, em que medida existe espaço para crescer aqui dentro?

GABRIEL: Temos muitas bandas indies no Brasil e que lançam coisas novas quase todos os dias. Porém, até mesmo antes de estourar a pandemia, existiam poucos lugares para esses artistas tocarem. Em São Paulo, mesmo sendo uma cidade que acaba concentrando muito desse mercado musical, ainda há poucos palcos tendo em vista a quantidade de bandas desse mesmo estilo. Nós estamos nessa batalha de buscar um diferencial, por isso decidimos construir pontes com o mercado latino, como uma estratégia de conseguir uma identidade nova e mostrar esse material para o público daqui. Eu acredito que exista espaço para bandas do segmento indie no país, entretanto, elas precisam sempre se reinventar.

Contudo, como tem sido o exercício da Atalhos para se manter ativa sem poder tocar ao vivo como antes?

GABRIEL: Tivemos apenas duas experiências como banda nesse período de isolamento social, gravamos no final do ano passado uma ‘sessions’ para postar em nosso canal do Youtube, além da participação remota no festival da Rádio KEXP, que também não foi ao vivo. Mas, esses poucos momentos foram importantes para que nos mantivéssemos ativos, o que um músico mais gosta de fazer é tocar. Porém, acabamos utilizando esse tempo distante dos palcos para trabalhar estratégias e organização dos cronogramas de lançamentos futuros. No entanto, estamos animados com o avanço da vacinação, já que pela primeira vez é possível enxergar uma luz no fim do túnel.

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Então você é artista e acha que não tem muito espaço? Fique à vontade para divulgar seu trabalho na coluna Contra Maré do ULTRAVERSO! Não fazemos qualquer distinção de gênero, apenas que a música seja boa e feita com paixão!

Além disso, claro, o (a) cantor(a) ou a banda precisa ter algo gravado com uma qualidade razoável. Afinal, só assim conseguiremos divulgar o seu trabalho. Enfim, sem mais delongas, entre em contato pelo e-mail guilherme@ultraverso.com.br! Aquele abraço!

Rafael Vasco

Um viciado em informação, até mesmo as inúteis. Com dois minutos de conversa, convenço você de que sou legal. Insta: _rafael_vasco
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