Baú do Blah: Billie Holiday

Anna Cecilia Fontoura

O Baú do Blah de hoje chega mais uma vez em ritmo de Jazz. Quem curte esse ritmo e mora em Niterói e adjacências está muito bem servido. Ainda pelas comemorações do aniversário da cidade está rolando três dias de shows gratuitos com o Niterói Jazz Festival. Mas, para não ser injusto com as pessoas que não podem comparecer ao evento vamos relembrar uma das grandes divas: Billie Holiday.

Que essa americana tem uma voz magnífica muitos já sabem ( e os que não sabem ainda vão comprovar no vídeo selecionado de hoje) então vamos nos ater na carreira dela. Em 1930, a família de Eleanora Fagan Gough (seu nome de batismo) ia ser despejada. Desesperada para ajudar financeiramente seus parentes, a moça foi a um bar pedir emprego de dançarina. Mas, ela não levava jeito para a coisa… Penalizado com o grave problema que a jovem passava, o pianista perguntou se ela cantava… Nascia aí uma estrela! (nem preciso dizer que o emprego era dela, não é? Rs). Mas, o nome Billie Holiday só foi adotado após alguns anos de carreira quando ela já cantava nas casas noturnas do Harlem.

Embora a segregação racial fosse intensamente presente nos EUA, na época de Lady Day (como Billie também é conhecida), a diva foi uma das primeiras negras a cantar com uma banda de brancos. Mas, apesar de grandes conquistas, infelizmente a vida dessa mulher não foi apenas de glórias…. Quando ainda era um bebê o pai abandonou sua família. Como a mãe não tinha condições financeiras precisou cedê-la a diversos lares adotivos. Aos 10 anos foi estuprada por um vizinho. Na pré- adolescência era faxineira de casa de prostituição e na puberdade tornou-se profissional do sexo. Como se não bastasse todo esse drama narrado, no fim dos anos 50, Billie Holiday foi vítima de cirrose hepática e durante sua internação foi presa por porte de drogas. Policiais ficaram de guarda na porta do quarto dela. Assim foi até sua morte por edema pulmonar e insuficiência cardíaca em 17 de julho de 1959.

Outro fato bizarro que merece destaque é que na ocasião de sua morte, Lady Day tinha no banco apenas U$ 0,70 , além de pouco mais de 700 dólares que um tablóide a havia pago devido a um artigo sobre a vida dela…

Para encerrar positivamente esse Baú do Blah, vamos levar em consideração que todo o sofrimento de Billie Holiday já é passado e que sua voz tem não só o presente como um eterno futuro pela frente. A canção escolhida para relembrar o grande talento de Lady Day é uma das primeiras no combate ao racismo: “Strange Fruits”. A versão eternizada pela diva (desde 1939 que ela incluiu em seu repertório apesar do medo de sofrer retaliações) ganhou a lista do Hall da Fama do Grammy , em 1978, além de ter sido incluída no ranking das melhores canções do século feito da Recording Industry of America e da National Endowment for the Arts.

Essa histórica canção começa mais ou menos assim:

Southern trees bear strange fruit,

Blood on the leaves and blood at the root,

Black body swinging in the Southern breeze,

Strange fruit hanging from the poplar trees.

Anna Cecilia Fontoura

Jornalista graduada pela Universidade Estácio de Sá e pós-graduada pela Universidade Cândido Mendes. Além de jornalista cultural, é redatora freelancer. Escrever é sua verdadeira paixão! Se considera uma pessoa determinada e criativa, porém um pouquinho sonhadora...
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