BAÚ DO BLAH! | ‘O Franco Atirador’ (1978)

Bruno Giacobbo

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26 de abril de 2019

Ferida aberta na história dos Estados Unidos, a derrota na Guerra do Vietnã tem sido, ao longo dos anos, um farto manancial para Indústria de Hollywood: “Apocalypse Now“, de Francis Ford Coppola, “Nascido em 4 de Julho“, de Oliver Stone, “Bom dia, Vietnã“, de Barry Levinson, “Forrest Gump: O Contador de Histórias“, de Robert Zemeckis, e “Pecados de Guerra“, de Brian De Palma são alguns dos filmes que se não falam do conflito propriamente dito, pelo menos o utilizam como pano de fundo para suas narrativas. Dentre os citados, o primeiro talvez seja mais o aclamado de todos. No entanto, não está na minha lista dos meus favoritos. Particularmente, gosto muito mais do último e de outra obra-prima que revi recentemente: O Franco Atirador, do cineasta Michael Cimino.

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Lançado em 1978 e ganhador de cinco Oscars, inclusive de filme, o longa conta a história de cinco amigos: Michael (Robert De Niro), Nick (Christopher Walken), Steven (John Savage), Sam (John Cazale) e Axel (Chuck Aspegren), todos operários de origem soviética, de uma cidadezinha do interior da Pensilvânia, que nas horas vagas, entre uma cerveja e outra, saem para caçar cervos. No entanto, a vida deles mudará completamente quando Michael, Nick e Steven forem convocados para lutar no Vietnã. Antes, entretanto, Steven deseja casar com Ângela, que está gravida de outro homem. Sem falar que eles precisam desesperadamente caçar uma última vez. O que, inicialmente, parece um desejo bobo, se revela algo bastante importante, pois, no fundo, eles sabem que não mais serão os mesmos.

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Quem espera muita ação, trocas de tiros e vietcongues voando pelos ares, certamente, se decepcionará. O Franco Atirador é muito mais um drama psicológico do que qualquer outra coisa. Existem, sim, cenas tensas nos campos de batalhas. A melhor delas mostra Michael e Nick, capturados pelos inimigos, jogando roleta russa com seus algozes. Entretanto, elas não são mais importantes do que os traumas individuais e sociais causados pela guerra. Vale frisar que a trilha sonora, orquestrada pelo maestro britânico Stanley Meyers, ajudar a compor o melancólico clima que permeia todo o longa-metragem. Destaque para as canções “Catavina“, de autoria do próprio maestro, e “Can’t Take My Eyes Off You“, de gênio Frank Valli.

Com três horas de duração, o filme se divide em três etapas quase perfeitas de uma hora cada: o pré-guerra, a batalha propriamente ditam e pós-guerra. Toda a primeira e a terceira parte se desenrolam na tal cidadezinha do interior, Clairton, sede de uma indústria siderúrgica. Nada mais do que uma diminuta versão americana de Volta Redonda. É nesta localidade que primeiro conhecemos a rotina dos cinco amigos e depois veremos como suas vidas foram abaladas pelos traumas. É lá, também, que conhecemos a personagem Linda, brilhantemente interpretada por Meryl Streep, noiva de Nick, mas que flerta com Michael. Curiosamente, duas das minhas três cenas favoritas ocorrem nesta comunidade esquecida por Deus.

Vamos falar de Michael Cimino. Contemporâneo dos também ítalo-americanos Francis Ford Coppola, Martin Scorsese e Brian De Palma, ele foi um dos mais criativos autores da Nova Hollywood. Com uma mão precisão, tanto para as cenas de batalha, quanto para as caseiras (sentimentais sem beirar a pieguice), venceu com justiça o Oscar de melhor direção, em 1979. Comparativamente com Coppola, Scorsese e De Palma, foi o segundo da turma a ganhar tal prêmio – Coppola ganhou antes por “O Poderoso Chefão II“. Já Scorsese só venceria em 2007, com “Os Infiltrados”, enquanto De Palma está até hoje esperando sua vez.

Desliguem os celulares e excepcional diversão.

::: TRAILER

::: FICHA TÉCNICA

Título original: The Deer Hunter
Direção: Michael Cimino
Produção: Barry Spikings, Michael Deeley, Michael Cimino, John Peverall
Roteiro: Deric Washburn
Elenco: Robert De Niro, Christopher Walken, Mery Streep, John Savage, John Cazale e Chuck Aspegren
Diretor de Fotografia: Vilmos Zsigmond
Distribuição: Universal Pictures
País: Estados Unidos
Gênero: drama, guerra
Ano de produção: 1978
Duração: 182 minutos

Bruno Giacobbo

Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.
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