BAÚ DO BLAH! | ‘O Tesouro de Sierra Madre’ (1948)

Bruno Giacobbo

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8 de fevereiro de 2019

Foi inevitável. Quando vi Humphrey Bogart interpretando um garimpeiro que enlouquece por causa da cobiça, pensei, imediatamente, no Golum, de O Senhor dos Anéis. Só faltou ele falar my precious, pois o olhar alucinado e o raciocínio conturbado que atrapalha a forma como as palavras são pronunciadas são os mesmos. Coincidência? Provavelmente, uma vez que J.R.R. Tolkien publicou o seu best-seller em 1954 e o longa-metragem em questão, O Tesouro de Sierra Madre (The Treasure of The Sierra Madre), é de 1948. A menos, claro, que a inspiração tenha se dado ao contrário e o autor britânico tenha homenageado o personagem americano, por sinal, também oriundo de um livro. Duvido. Foi uma daquelas coincidências gostosas com as quais, às vezes, nos deparamos. Agora, certeza mesmo é que Bogart está fantástico.

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Dirigido e roteirizado por John Huston, cineasta com quem o astro fez alguns dos seus melhores trabalhos, este clássico narra a história de três garimpeiros americanos, Dobbs (Humphrey Bogart), Curtin (Tim Holt) e Howard (Walter Huston), que unem forças para procurar ouro nas montanhas mexicanas. Inicialmente, eles não se conhecem. Passando necessidade em terra estrangeira, a impressão é de que o destino forçou o encontro deles. Dobbs e Curtin travam o primeiro contato quando são recrutados para um trabalho temporário. Até aí tudo bem. O problema é que novo patrão é um vigarista que costuma passar a perna em seus empregados. Dito e feito, os novos amigos se veem, mais uma vez, na rua da amargura, forçados a dormir em uma estalagem de quinta. E é lá que eles se deparam com o experiente Howard, homem que já se viu frente a frente com a fortuna e perdeu tudo.

Não sei qual é pegada do romance homônimo escrito em 1927 por B. Traven, um autor alemão que fez sucesso nos Estados Unidos. No entanto, a intenção de John Huston foi bem clara e igualmente bem realizada. O filme, que começa como uma aventura recheada de um humor peculiar – prestem atenção na cena em que Dobbs pede esmola três vezes para o mesmo homem – se transforma em uma espécie de western em que, de início e propositalmente, não fica claro quem é quem. Em um México onde as chagas de sua sangrenta revolução civil ainda não cicatrizaram, os protagonistas são forçados a firmarem alianças de última hora se quiserem sobreviver aos ataques de bandoleiros que perambulam pelas estradas. Desta forma, o papel de cada um deles é delineado aos poucos e à medida que a história toma corpo.

Este é um daqueles clássicos quem sempre ouvi falar e por algum motivo nunca tinha assistido. A motivação de decisiva veio com o livro “Bogart: Em busca do meu pai”, de Stephen Humphrey Bogart. Nele, lá pelas tantas, o filho do ícone enumera os filmes que ele considera fundamentais para a formação do culto em torno do nome do seu progenitor, nos anos seguintes a morte deste: “Seu Último Refúgio” (1941), “Relíquia Macabra” (1941), “Casablanca” (1942)”, “Uma Aventura na África” (1951) e, claro, a película em questão. Independentemente das razões do autor, a verdade é que Bogart está realmente fantástico e tem talvez a melhor atuação de sua prolífica carreira. Esta interpretação lhe rendeu uma indicação de melhor ator no Oscar de 1949. Contudo, ele não é o único a desfilar todo o seu imenso talento na tela.

Pai do cineasta, Walter Huston faleceu dois anos depois do lançamento de O Tesouro de Sierra Madre, logo, este foi um dos seus últimos filmes e o que fincou o seu nome, definitivamente, no rol dos grandes atores. Pela interpretação do divertidíssimo e perspicaz Howard, ele, que já havia sido indicado duas vezes, uma delas pelo excepcional musical “A Canção da Vitória” (1942), ganhou a estatueta de melhor ator coadjuvante. Ao receber o prêmio, contou que, uma vez, virou para o filho e pediu: “Se um dia você se tornar um diretor, não se esqueça de me arrumar bons papéis”. Um pouco depois, ao encerrar o seu discurso de agradecimento, vendo que seus colegas sorriam e aplaudiam, o velho Huston exibiu um largo sorriso de volta. Naquele momento, a ficha caiu e uma certeza invadiu seus pensamentos: o pedido fora atendido.

Desliguem os celulares e excepcional diversão.

::: TRAILER

::: FICHA TÉCNICA

Título original: The Treasure of Sierra Madre
Direção: John Huston
Elenco: Humphrey Bogart, Walter Huston e Tim Holt
Distribuição: Warner Bros
Data que estreou: 06/01/1948
País: Estados Unidos
Gênero: aventura e western
Ano de produção: 1948
Duração: 107 minutos

Bruno Giacobbo

Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.
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