Blah Entrevista: Marcos Oliveira

Thiago Gomes

O ator Marcos Oliveira, mais conhecido com o personagem Beiçola, da Grande Família, se aventura no universo da música com o show “Momentos Dançantes”, onde interpreta clássicos da musica popular brasileira. A apresentação passeia pelo repertório dos grandes bailes de tempos atrás, onde os boleros, sambas, jovem guarda e marchinhas carnaval eram sucessos nacionais.

BLAH CULTURAL: É o seu primeiro espetáculo musical?

Marcos Oliveira: É o meu primeiro show. Como eu falo nas apresentações, é o primeiro show na minha vida. Não é que naquele dia seja o primeiro show. Estou na batalha há um bom tempo, mas é o primeiro espetáculo musical que faço como cantor. Eu conheci o Yan Guimarães (maestro e arranjador), batemos uma bola e falamos: “Vamos montar um trabalho, um projeto.” Estamos trabalhando há uns 5 ou 6 anos.

BC: Como foi a ideia de montar esse show?

Marcos Oliveira: Estávamos ensaiando “Mistério na Mansão”, que estava em cartaz na Fundação Eva Klabin, e lá tinha um outro anfiteatro quase no telhado, tinha um piano meia cauda bonito. O Yan tocou algumas músicas, eu cantei e conversamos. Eu falei que queria cantar canções conhecidas da MPB e músicas que fossem pras pessoas dançarem. Eu não quero cantar pra ser um cantor maravilhoso e gravar CD. Eu quero cantar pras pessoas dançarem. Vamos sair do Facebook e ir dançar “face to face” (risos). Já estamos nessa há algum tempo, mudamos o repertório. Algumas canções saíram, outras entraram, estamos sempre buscando novos caminhos pra tornar o show cada vez melhor. Está sendo uma experiência ótima.

Marcos Oliveira em imagem promocional (Foto: Divulgação)

Marcos Oliveira em imagem promocional (Foto: Divulgação)

BC: Quando e como começou o seu interesse pela música? Você sempre cantou?

Marcos Oliveira: Começou desde criança. Eu queria participar de programas de calouros, mas como a minha família era muita conservadora e não permitia, eu parti pra interpretação. Na escola eu interpretava poesias. Depois fui para o teatro amador, passei a fazer teatro infantil e aí comecei a carreira de ator. Foi aí que entrei pro Antunes (grupo de teatro amor), fiz “Macunaíma” viajei a Europa toda, voltei, fiz muito teatro e depois dei uma parada. Vim para o Rio de Janeiro e comecei a fazer aqui teatro e televisão.

BC: E a música? Ficou meio de lado?

Marcos Oliveira: Ficou difícil! Apesar de que, quando eu estava em São Paulo, eu fiz muito baile de carnaval. Fiz também no interior de Minas e era muito legal. Era uma super banda e 3 cantores. Cada um fazia 45 minutos do show. Não tinha ensaio, vinha a banda e você cantava em cima. Com isso, fui me virando e aprendendo muito. Depois acabou e não surgiram outras oportunidades. Começaram a surgir convites pra fazer teatro por aqui (Rio de Janeiro) e eu vim pra cá. Surgiu, por exemplo, essa peça que eu fui fazer e conheci o Yan.

BC: Essa peça era um musical?

Marcos Oliveira: Era um pretenso musical, uma história de uma cantora cantonesa e que dava uma pinta de cantora no meio do espetáculo. Era uma peça itinerante. Ela acontecia no hall, na sala de jantar, no jardim, tinha um palco e aparecia lançando um novo CD, e que, na realidade, não era ela, era a irmã dela. Ela matou a irmã. No final do espetáculo as pessoas tinham que saber quem era o assassino. Foi muito bom, mas a preparação pra fazer uma mulher é muito extenuante. Tem que usar peruca, maquiagem, dá muito trabalho. Tem que chegar 1 hora antes para se arrumar. Pensei : “Chega, agora eu quero cantar!”

BC: Os musicais se popularizaram muito no Brasil de uns anos pra cá. Temos muitos em cartaz no eixo Rio-São Paulo, principalmente…

Marcos Oliveira: É aquela coisa da Broadway, eu acho legal mas não tenho muito interesse.

BC: Então você gosta muito dessas adaptações?

Marcos Oliveira: Eu acho que é uma cultura deles que eu respeito bastante, mas é uma coisa de país de primeiro mundo e eu não sou de primeiro mundo. Eu sou desse mundo daqui, das coisas brasileiras, com muita mistura. Posso cantar uma música estrangeira ou outra, mas eu não quero fazer musical da Broadway. Eu gosto do samba, da bossa nova, do Tom Jobim, gosto de Penabranca e Xavantinho. Tem tanta coisa legal no Brasil. Tem muita poesia, muita melodia brasileira . Não dá pra deixar de cantar isso pra cantar, por exemplo, “Night and Day”, que é muito bonito, mas não tem muito a ver com a minha realidade.

BC: O que você traz dessas raízes brasileiras pro seu show ?

Marcos Oliveira: Forró, Samba, Boleros, tem o “Besame Mucho” que é a única coisa estrangeira no show. Tem também Jovem Guarda e termina com marchinhas de carnaval, que eu acho que é o desfecho do povo brasileiro sabe, você já nasce cantando isso. Tem muito a ver com a nossa emoção, com a nossa raiz. Quem não tem na sua memória afetiva uma música que lembre um determinado momento importante na vida? Eu acho muito legal você poder recordar, rememorar esses sentimentos.

Marcos Oliveira na pele do personagem "Beiçola" (Foto: Divulgação)

Marcos Oliveira na pele do personagem “Beiçola” (Foto: Divulgação)

BC: Então esse show pode ser também um elo de ligação das pessoas com sentimentos antigos, com romances vividos?

Marcos Oliveira: Todo mundo lembra de uma música que foi marcante numa determinada época da vida. Tá lá no seu DNA, na sua memória.

BC: Como está sendo a receptividade do show?

Marcos Oliveira: Tem muitas pessoas que vem falar depois do show que relembraram momentos do passado, as relações amorosas que tiveram na vida. Eles relembram através do show que viveram uma coisa boa na vida. Tem dança, festa, muita alegria.

BC: O Beiçola é um personagem que marca muito a sua carreira. Você acha que ele te ajuda no “Momentos Dançantes”? De que maneira? (interação com a plateia? visibilidade pro show…)

Marcos Oliveira: Existe uma empatia muito grande do público com o personagem. A figura do Beiçola é muito forte, eu procuro mostrar o outro lado falando nos shows: “Eu sou o Beiçola também, mas aqui eu sou o cantor Marcos Oliveira.” E as pessoas tem uma reação engraçada: “Nossa, ele canta!” É uma relação muito legal, mas eu vejo todos os dias o tamanho da “onça” que eu tenho que dominar. Eu quero fazer parte da memória dessas pessoas como o Marcos Oliveira, eu quero cantar para as pessoas dançarem.

BC: O “Momentos Dançantes” tem um repertório calcado em canções famosas, que marcaram época. Você tem vontade de lançar um trabalho com musicas inéditas?

Marcos Oliveira: Ainda não, não me vejo preparado pra isso. É muito complicada essa história de escolher músicas e fazer um repertório porque a maioria dos compositores também é intérprete, então eles compõem pra eles próprios. A relação que existia antigamente não tem mais de um compositor mostrar a música pro intérprete que só cantava. Agora está vindo tudo junto: cantor, compositor e intérprete numa pessoa só.

BC: Estamos vivendo um momento diferente de mercado musical no Brasil. O que você acha desse momento?

Marcos Oliveira: Está complicado! Você tem um caminho a escolher: ou você vai pra um “reality show” ou pega o seu projeto e vai cantar, você vai tentar fazer o seu projeto. É isso que eu prefiro, não tenho muito jeito pra entrar na indústria fonográfica, não tenho experiência, tenho medo e não quero entrar nessa por falta de entendimento e de compreensão desse mercado. Por enquanto eu quero fazer o meu projeto, eu quero a liberdade de poder fazer do meu jeito. Respeito ao público, à música e à qualidade artística.

BC: O que o público pode esperar do “Momentos Dançantes”?

Marcos Oliveira: É um show com 52 músicas, são 2 horas de show. Muita alegria, dança, é um show contagiante! Estou querendo fazer um projeto pra trazer esse show pra Zona Sul do Rio de Janeiro. Eu quero pedir alguém que queira ser colaborador ou patrocinador do “Momentos Dançantes” pra maio de 2014.

Thiago Gomes

NAN