Matrix

BÔNUS | Precisamos mesmo de um novo ‘Matrix’?

Alvaro Tallarico

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23 de agosto de 2019

Essa semana veio a notícia que balançou a cultura pop: “Matrix” terá uma continuação com Keanu Reeves e Carrie-Anne Moss, feito pelas irmãs Wachowski.

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Legal, mas precisava?

Admito, assim que li fiquei sim um pouco animado. Mas aí lembrei da continuação de “Blade Runner”. Não achei ruim, mas… precisava?

“Matrix” é um clássico moderno, certamente. Lembro de assistir no cinema e a maior parte das pessoas sair meio sem entender – ou até mesmo sem gostar. Foi um fenômeno do início da cultura da convergência, termo cunhado pelo escritor Henry Jenkins no livro de mesmo nome. Tinham um DVD com animes (Animatrix), o jogo “Enter the Matrix”, bem como outras plataformas fora do cinema que complementavam e ampliavam a história e aquele universo.

Matrix 1

A influência de ‘Ghost in the Shell’

Convenhamos que as sequências do primeiro filme não agradaram tanto. “Matrix Reloaded” e “Matrix Revolutions” ficaram aquém das expectativas, mas a franquia já estava consolidada.

Estava no Centro Cultural Banco do Brasil no Rio de Janeiro assistindo à Mostra de Anime. Vi “Ghost in the Shell – O Fantasma do Futuro”. Recomendo para qualquer um, principalmente para quem gosta de tecnologia e de “Matrix”. Esse filme de 1995 (baseado em um mangá) foi uma das principais inspirações para a saga de Neo. A absorção de informações pela nuca? Está lá. Aqueles números verdes na tela? Também. Atmosfera cyberpunk? Claro. Filosofia, espiritualidade e tecnologia. Inclusive, Trinity lembra bastante a Motoko Kusanagi, protagonista do “Ghost in the Shell”.

Ghost in the Shell x Matrix

Tudo novo de novo

Cito isto porque temos possibilidade de fazer tanta coisa nova e ficam sempre querendo voltar ao que já foi feito, na maioria das vezes (sempre?) com o único intuito do lucro. Daí vemos um “Aladdin” live-action, um “Rei Leão” live-action (na verdade, animação em computação gráfica ultrarrealista). Daqui a pouco vem “A Pequena Sereia”. Logo depois, a desculpa pronta de querer apresentar paras as novas gerações. Na verdade, mexem com a nostalgia dos pais, que querem assistir mais até do que os filhos.

Três Homem-Aranha do Tobey Maguire, mais dois do Andrew Garfield, mais dois com Tom Holland. Não me entendam mal. Sou fã do aracnídeo, o amigo da vizinhança, mas, tem tantos outros heróis que poderiam ir para tela de cinema, ou tantas histórias diferentes para serem contadas. Assim como talvez não precisássemos de um novo “Matrix”. É ou não é? Nem começaram a fazer e quero ver, de preferência, com o Laurence Fishburne voltando como Morpheus (já li algo que querem um ator mais novo)!

A indústria quer dinheiro certo (veja as bilheterias dos novos “Jurassic Park”, “Exterminador do Futuro” e “Blade Runner”), todavia, criatividade e inovação sempre serão necessários, pois é o que inspira novos caminhos, num ciclo virtuoso. Como “Ghost in the Shell” inspirou “Matrix”.

Homem-Aranha x Matrix

*Bônus: Exposição do provocativo artista chinês Ai WeiWei vai até novembro no CCBB

Arte contemporânea provocativa que traz uma tensão entre as tradições chinesas, a política e o mundo atual em que vivemos. Isso é a base do que Ai WeiWei apresenta na exposição “Raiz WeiWei”, que fica até o dia 4 de novembro, no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro e no Paço Imperial.

A saber, essa exposição reúne vários trabalhos marcantes da carreira do artista com outros inéditos, muitos deles produzidos por artesãos que trabalharam em ateliês montados pelo próprio WeiWei em vários estados do Brasil.

Raiz WeiWei

Foto: Alvaro Tallarico / BLAH!ZINGA

Críticas ao regime ditatorial chinês

WeiWei se considera um refugiado (apesar de estar mais para exilado), pois não pode voltar para seu país de origem. Muitas obras mostram soldados, imigrantes, barracas de acampamento, helicópteros de guerra, contando histórias em um estilo baseado nas imagens da mitologia grega. Por exemplo, há esculturas em porcelana da série “Vasos Empilhados com Motivos de Refugiados” (2017) e a instalação “Odisseia” (2016), que consistem em um papel de parede impresso com desenhos em preto e branco onde aparecem alusões a mitologia grega (Zeus e Europa) e situações pelas quais os refugiados passam. O sonho de uma nova vida de forma épica.

São bem óbvias as críticas ao regime ditatorial chinês. Muitas obras são em cima de câmeras de vigilância e algemas. Weiwei já foi preso, vigiado e espancado pelo governo chinês. Relevante ao extremo para refletir sobre liberdade de expressão e arte.

Algumas obras aludem ao sexo como “F.O.D.A.” (2018), quatro esculturas em porcelana formam sigla com as primeiras letras de alimentos brasileiros: Fruta do conde, Ostra, Dendê e Abacaxi.

Foto: Alvaro Tallarico / BLAH!ZINGA

Exposição premiada

Impressiona a obra feita de pipa como uma raposa-mulher e uma em que WeiWei faz um tipo de dildo (objeto sexual) a partir da pedra jade, a qual tradicionalmente representa pureza na China. Assim que as crianças chinesas nascem, ganham um bracelete de jade. Provocação pura opondo tradição e sexo.

A exposição tem curadoria de Marcello Dantas e conquistou o prêmio da Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA) como a melhor mostra de 2018.

Enfim, em frente ao CCBB, entre o Boulevard Olímpico e a Igreja da Candelária, está a fotogênica obra “Forever Bicycles” (Bicicletas para Sempre) feita com mais de mil bicicletas de aço inoxidável. Uma clara referência a um dos meios de transporte mais utilizados na China. Quem sabe não inspira os cariocas para andarem ainda mais de bicicleta e os governantes a construírem novas ciclovias?

Foto: Alvaro Tallarico / BLAH!ZINGA

::: SERVIÇO:

Exposição: Raiz WeiWei – Ai Weiwei

Quando: de 21/08 a 04/11 (quarta a segunda-feira)
Onde e quando:

  • CCBB RJ (Rua Primeiro de Março, 66 – Centro) – quarta à segunda, de 09h às 21h
  • Paço Imperial (Praça XV) – de terça à sexta, de 12h às 19h; sábado e domingo, de 12h às 18h

Quanto: entrada franca

Alvaro Tallarico

Jornalista vivente andante (não necessariamente nessa ordem), cidadão do mundo, pacifista, divulgador da arte como expressão da busca pela reflexão e transcendência humana. @viventeandante
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