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A ‘Cidade Invisível’ das minorias

Joyce Ponteiro

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29 de março de 2021

A invisibilidade das minorias é uma realidade não apenas no Brasil como no mundo todo. As histórias ensinadas na escola sobre os antepassados escondem quando há deficientes, bem como negros e mulheres independentes. E essas minorias são, de fato, representadas na série brasileira da Netflix, Cidade Invisível.
A trama, que esteve por muito tempo no top 10 do streaming, narra algumas lendas folclóricas. E traz personagens como Cuca, Iara, Saci, Boto e Curupira para os dias atuais. Onde a realidade inclui desmatamento, problemas psicológicos, machismo, desigualdade social e até mesmo abandono parental.

Cuca e o abandono

De acordo com Carlos Saldanha, autor da série, a Cuca é a entidade mais poderosa dos folclores. Afinal, pudera, ela faz parte das 11,5 milhões de mulheres no Brasil que criam seus filhos sozinhas. Inês, nome humano da lenda, foi abandonada gestante não apenas pelo pai da criança, como também por toda sua família. Guerreira, ela levou a gravidez até o fim e mais tarde ainda conquistou seu próprio negócio. Certamente um verdadeiro terror para qualquer machista de plantão.

Iara e o feminicídio

Uma mulher linda, com uma voz exuberante e que encanta os homens até a morte. Assim foi contada a história da Sereia, ou Iara. Mas e se estiver ao contrário? Se esconderam um feminicídio dos relatos? Camila, uma garota negra e favelada, mostra que mais uma vez a culpa foi do sexo feminino. Por ser bonita, por dizer não, ou apenas por existir, a cada sete horas morre uma mulher vítima de feminicídio no Brasil.

Saci: tortura e racismo

Um pouco mais notória, a história do Saci Pererê fala de um menino negro e deficiente que adora pregar peças. Mas o que não é sabido é como ele adquiriu essa condição. Em Cidade Invisível, Isac foi espancado e acorrentado por um homem branco. Tendo como única opção de fuga tornar-se manco. A tortura, uma prática escravista, ainda é uma realidade. Segundo uma pesquisa realizada em 2015, seis pessoas são torturados por dia no país.
Além disso, o personagem, assim como Iara, também retrata o racismo no Brasil. Isso porque, com mais da metade da população negra, 71,5% dos assinados no país são pretos ou pardos. E assim como Isac e Camila, geralmente quando esses morrem ou não há investigação ou levam a culpa.

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Curupira e o preconceito com a deficiência

Já o Curupira, o moço do pé virado, mestre em disfarce e que protege a floresta, agora vive nas ruas. Forrado de sacolas, em uma cadeira de rodas, Iberê representa as sete mil pessoas que se encontram em situação de rua no Rio. Dependentes de doações, muitos, como o personagem, usam entorpecentes como uma maneira de fugir da realidade e manterem-se vivos.
Aliás, outra evidência que o papel de Fábio Lago traz é dos seres humanos nascidos com alguma anomalia. Em 1984, na China, uma mulher nasceu com os pés igual do Curupira. E a cada ano, cerca de 8 milhões de pessoas no mundo nascem com algo diferente dos demais. Infelizmente, no futuro, esses viram alvo de exclusão social.

Boto: a fuga da responsabilidade

Por último, mas não menos importante, temos o Boto. Diferente dos outros personagens, esse não é mimese das minorias em Cidade Invisível. A lenda, que engravida mulheres virgens, é o homem que não assume o filho.  Um verdadeiro príncipe encantado, ele age da maneira mais educada até escutar a frase “estou grávida”. Então, desaparece da vida da parceira, causando nela transtornos emocionais de diferentes níveis.
Com tantas críticas sociais abordando as minorias, Cidade Invisível ainda lembra que o desmatamento pode matar a cultura de um povo.  Que a depressão pode levar ao suicídio. E que as coisas nem sempre são como parecem ser. Por isso, na dúvida, seja empático. Todos são protagonistas e juntos todos fazem parte da história e da cultura do Brasil. Não feche os olhos para a diversidade. Eles já habitam em uma cidade invisível para os ricos e poderosos. Entenda que não é justo que seus semelhantes contribuam para isso.
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Joyce Ponteiro

Jornalista de formação e Comunicólogo de atuação. A Joyce que praticamente aprendeu a ler escrever com jornais e revista, virou a Joy que ama escrever, criar qualquer coisa e sentar em uma mesa de bar para discutir sobre a vida.
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