Cinema ao Pé da Letra – Parte 14: Quando as Coisas Acontecem lá Atrás (sem perversões)

Pedro Lauria

Na última coluna vimos a diferença entre uma grande e uma pequena profundidade de campo. Hoje, vamos nos focar (não a toa, essa será uma das palavras mais repetidas hoje) na primeira.

Uma grande profundidade de campo significa ter vários elementos, a diferentes distâncias da lente, focados. E isso é extremamente útil, quando queremos mostrar elementos em diversas posições do plano.

A pequena profundidade de campo se explica pela opção do diretor em não mostrar com detalhe as armaduras do acervo do herói. Por isso só vemos suas silhuetas desfocadas.

A pequena profundidade de campo se explica pela opção do diretor em não mostrar com detalhe as armaduras do acervo do herói. Por isso só vemos suas silhuetas desfocadas.

No exemplo acima, temos uma pequena profundidade de campo (apenas o personagem em primeiro plano está focado). E isso tem uma explicação simples: o diretor quer que você só preste atenção no personagem. Ele está direcionando a atenção do espectador.

Porém, essa não é a única forma de se contar uma história. Ter uma grande profundidade de campo tem um efeito justamente contrário: permitir que o espectador preste atenção a elementos posicionados em diferentes distâncias. Inclusive, a não compreensão disso, é um dos grandes problemas dos filmes 3D modernos: a maioria deles usa uma pequena profundidade de campo, o que é incompreensível: se vamos no cinema ver a tal 3a dimensão (profundidade), porque alguns diretores (a grande maioria) insiste em desfocá-la?

Bom, deixemos a pergunta no ar e vamos ver alguns usos da grande profundidade de campo.

O filme Avatar, precursor da nova Era do 3D, é um exemplo de como James Cameron ainda não domina a linguagem das três dimensões. No momento em que o espectador paga para poder ver a profundidade, não faz sentido desfocá-la e chapar o plano em uma pequena profundidade de campo.

O filme Avatar, precursor da nova Era do 3D, é um exemplo de como James Cameron ainda não domina a linguagem das três dimensões. No momento em que o espectador paga para poder ver a profundidade, não faz sentido desfocá-la e chapar o plano em uma pequena profundidade de campo.


Contrapondo a isso está Martin Scorsese, um grande entusiasta do estudo da linguagem fílmica. Não é a toa que ele decidiu filma Hugo Cabret em 3D - pois, como fica claro acima, é possível mostrar toda a grandiosidade da estação de trem. Veja, por exemplo, como o personagem de Sacha Baran Cohen e seu cachorro estão pronunciados na tela - mesmo distante dos protagonistas.

Contrapondo a isso está Martin Scorsese, um grande entusiasta do estudo da linguagem fílmica. Não é a toa que ele decidiu filma Hugo Cabret em 3D – pois, como fica claro acima, é possível mostrar toda a grandiosidade da estação de trem. Veja, por exemplo, como o personagem de Sacha Baran Cohen e seu cachorro estão pronunciados na tela – mesmo distante dos protagonistas.


Apertem os Cintos que o Piloto Fugiu - é um filme que se beneficia da grande profundidade de plano para fazer humor. Entretanto, na cena acima, essa linguagem não se mostra necessária. Na brincadeira, o terrorista (desfocado em primeiro plano) passa sem problemas pelo detector de metais. Já a velhinha, focada em segundo plano, não terá a mesma sorte. Sabendo que a atenção do espectador iria continuar no terrorista, o diretor opta por desfocá-lo, nos fazendo olhar para a senhora.

Apertem os Cintos que o Piloto Fugiu  é um filme que se beneficia da grande profundidade de plano para fazer humor. Entretanto na cena acima essa linguagem não se mostra necessária. Na brincadeira, o terrorista (desfocado em primeiro plano) passa sem problemas pelo detector de metais. Já a velhinha, focada em segundo plano, não terá a mesma sorte. Sabendo que a atenção do espectador iria continuar no terrorista, o diretor opta por desfocá-lo, nos direcionando o olhar para a senhora.


Já em Top Gang! o 2o plano focado é responsável por uma das melhores piadas do filme. No caso, aqueles soldados lá atrás começarão a dançar. Porém, esse não é o foco da cena - mas a conversa de Lloyd Bridges, no primeiro plano. Dessa forma, o diretor opta por deixar ambas as distâncias focadas, de forma que possamos olhar tanto para a o personagem que movimenta a história quanto para a piada. Veja, no entanto, que para facilitar a vida do espectador, ele posiciona os soldados sobre a cabeça de Lloyd - de forma que fique impossível não os vermos.

Já em Top Gang! o segundo plano focado é responsável por uma das melhores piadas do filme. No caso, aqueles soldados lá atrás começarão a dançar. Porém, esse não é o foco da cena – mas a conversa de Lloyd Bridges, no primeiro plano. Dessa forma, o diretor opta por deixar ambas as distâncias focadas, de forma que possamos olhar tanto para a o personagem que movimenta a história quanto para a piada. Veja, no entanto, que para facilitar a vida do espectador, ele posiciona os soldados sobre a cabeça de Lloyd – de forma que fique impossível não os vermos.

Na semana que vem continuaremos com o assunto. E falaremos de Cidadão Kane.
OW. Mal posso esperar.
Beijo pra quem fica.

Pedro Lauria

Em 2050 será conhecido como o maior roteirista e diretor de todos os tempos. Por enquanto, é só um jovem com o objetivo de ganhar o Oscar, a Palma de Ouro e o MTV Movie Awards pelo mesmo filme.
NAN