Cinema ao Pé da Letra – Parte 2: O que é linguagem?
Pedro Lauria
Na coluna passada vimos que o cinema, como qualquer forma de arte, se emprega de uma linguagem própria para se comunicar. É óbvio, no entanto, que a linguagem empregada pelo cinema é diferente da linguagem empregada pela literatura, que é diferente da linguagem empregada pela música, e por ai vai. Inclusive, é por isso, meus leitores queridos, que é besteira comparar um filme com o livro que lhe deu origem.
Porém voltemos ao foco da coluna de hoje: discutir algumas das especificidades dessa tal “linguagem” (Sim, é esse o motivo da coluna se chamar “Cinema ao Pé da Letra”).
Para discutir a linguagem cinematográfica, antes de tudo, devemos compreender o que é a linguagem e como ela funciona. Algo que não precisaríamos fazer, se as aulas de Português fossem menos chatas.
O mais comum quando alguém fala sobre linguagem é pensarmos primeiro em palavras. Mas não precisamos de muito tempo para perceber que existem outros tipos de linguagem. Falo de figuras, desenhos, gestos…
Ok. Mas linguagem não é só isso. Uma palavra, por exemplo, é apenas um conjunto de letras e/ou fonemas. Parte essencial da linguagem é justamente o significado que concedemos a essa palavra. A comunicação, afinal, necessita de que as pessoas consigam criar conceitos em suas mentes, uma vez que leia/ouça aquele apanhado de letras/fonemas.
Aplicando esse conceito, é por esse motivo que:
1) Todo mundo visualiza um automóvel ao ler a palavra Carro;
2) Todos visualizam algo quando lêem a palavra Verme (alguns imaginam um insulto, outros, uma criatura);
3) Apenas jogadores de RPG visualizam algo quando lêem a palavra Vorme;
4) Ninguém entende nada quando lê a palavra Embellet – nem mesmo o Google.
Então, quando eu escrevo a palavra “Gato”, você não lê somente quatro letras, sendo duas consoantes e duas vogais, mas visualiza um felino doméstico. Dependendo de sua experiência, pode ser até um felino específico (talvez o SEU gato) e que vá te trazer alguma emoção (você pode ficar triste, pois teve um gato que morreu atropelado) ou algum simbolismo (você pode pensar em autonomia, por achar que os gatos são criaturas extremamente independentes).
E é ai que entra a Semiose.
Não se assuste com o nome. Compreender o básico de semiose vai fazer com que você entenda o mundo de uma forma muito mais complexa e interessante. E não, não é tão complicado quanto o nome sugere. Então, vamos lá.
Semiose é o estudo dos signos e sistemas sígnicos.
Já falei pra não se assustar.
Voltemos ao exemplo do Gato.
O fato de imaginarmos uma série de coisas quando lemos as letras G,A,T e O juntas e nessa ordem, só é possível, porque o ser humano é o único animal que consegue se comunicar através de uma linguagem simbólica (ou seja, atribuindo significados e significações a outras coisas, no caso, a palavra GATO).
Isso se dá por sistemas engenhosos criados durante o desenvolvimento da raça humana que permitiram que conseguíssemos conversar, deixar informações para novas gerações e, consequentemente, criar formas de arte. Falo dos sistemas sígnicos (os tais estudados pela Semiose).
Mas o que é um Signo?
Signo é algo usado, referido ou tomado no lugar do objeto que ele representa. Pode ser:
– Natural: Também chamado de sintoma.
Ex1. Uma nuvem negra é um sintoma de chuva.
Ex2. A fumaça é um sintoma de incêndio. Afinal, como diz o ditado, onde há fumaça, há fogo.
– Linguístico: remonta a relação entre significado e significante.
E são com os Signos Linguísticos que as coisas começam a ficar interessantes para nós, amantes de cinema. Será através de seu estudo, que entenderemos todas as peculiridades da Linguagem Cinematográfica, e permitir que compreendamos os elementos que a compõe.
Porém, para evitar tratar de muitos assuntos de uma vez só, vamos deixar isso para semana que vem.
Isso se não aparecerem nuvens negras por aqui.