Cinema ao Pé da Letra – Parte 22: A luz nem sempre serve para iluminar… Os tipos de iluminação

Pedro Lauria

*Modo Mara Maravilha*

Olááááá, Iluminados!

iluminado

Muito do trabalho do diretor de fotografia consiste em cuidar da iluminação de uma cena. Porém, no cinema, iluminação não significa exatamente “iluminar”. Um vez que a luz, ou sua ausência, é o principal fator para criar a atmosfera de uma cena, se mostra essencial para o diretor definir com o diretor de fotografia, como isso será feito. Luz e sombras têm sentido narrativos dentro de uma produção audiovisual, por isso, elas precisam estar de acordo com a sensação que a história quer passar.

Novamente, a novela mostra toda a sua mediocridade linguística – pois, abrindo a mão das sombras, ela nunca consegue criar tons e sentimentos, se restringido aos atores e ao roteiro para gerar humor, drama, suspense… Tal como as sitcoms fazem (Seinfeld, Friends, The Big Bang Theory, Two and a Half Men…).

Bom, mas deixemos de papo e vamos ver quais são os principais tipos de iluminação que um fotógrafo pode fazer e os seus principais usos.

(E sim, vou fazer o máximo para não ficar técnico além do necessário)

Existem dois conceitos principais quando falamos de luz: a luz direta (esquerda) e a luz difusa (direita).

Existem dois conceitos principais quando falamos de luz inferida nos objetos: a luz direta (esquerda) e a luz difusa (direita). A primeira se caracteriza pelas sombras fortes, provenientes de um foco principal de luz direcionada.


Podemos também caracterizar em High Key e Low Key. É o que se diz relativo a iluminação do plano - quando ele aparece todo iluminado, temos o "High Key", quando o plano aparece com a escuridão predominante "Low Key". Existe ainda uma terceira terminologia chamada "Tonalidade Gradual" - que acontece quando temos meios tons (nem iluminado, nem escuro) - como ocorre em um dia enevoado.

Podemos também caracterizar em High Key e Low Key, quando falamos de luz inferida no plano como um todo. É o que se diz relativo a iluminação do plano – quando ele aparece todo iluminado, temos o “High Key”, quando o plano aparece com a escuridão predominante “Low Key”.
Existe ainda uma terceira terminologia chamada “Tonalidade Gradual” – que acontece quando temos meios tons (nem iluminado, nem escuro) – como ocorre em um dia enevoado.


Configuração básica de luz para criarmos um ambiente "Low Key". Confira a diferença principalmente no que se diz a preocupação em iluminar o fundo.

Configuração básica de luz para criarmos um ambiente “Low Key”. Confira a diferença principalmente no que se diz a preocupação em iluminar o fundo.

Ok, ok. Mas qual a utilidade prática disso? Vamos descobrir. Usando Breaking Bad como referência (e se você nunca assistiu, pare o que estiver fazendo – e comece a assistir. AGORA.)

Luz direta vindo do lado esquerdo do ator. Tal artifício cria uma sombra duríssima - perfeita para um personagem que acaba de descobrir que tem câncer terminal (spoiler do 1o episódio, relaxem).

Luz direta vindo do lado esquerdo do ator. Tal artifício cria uma sombra duríssima – perfeita para um personagem que acaba de descobrir que tem câncer terminal (spoiler do 1o episódio, relaxem).


Repare que mesmo com uma luz mais difusa (apesar da luz direta, forte, batendo no lado esquerdo dos atores) é possível criar uma pequena sombra - que cria um sentido narrativo próprio.

Repare que mesmo com uma luz mais difusa (apesar da luz direta, forte, batendo no lado esquerdo dos atores) é possível criar uma pequena sombra – que cria um sentido narrativo próprio.

Iluminação em "High Key" com luz difusa no rosto dos atores, evitando que sombras fortes sejam formadas em seu rosto.

Iluminação em “High Key” com luz difusa no rosto dos atores, evitando que sombras fortes sejam formadas em seu rosto. Repare que devido a “alta quantidade de luz”, o espaço ganha mais profundidade, pois podemos ver mais.


O mesmo não se pode falar desse jantar (um momento tenso da série). Olhem como o espaço ganha ares mais claustrofóbicos, por não vermos o fundo. Bastasse dois refletores apontados para o fundo, e essa cena ganharia um sentido completamente diferente.

O mesmo não se pode falar desse jantar (um momento tenso da série). Olhem como o espaço ganha ares mais claustrofóbicos, por não vermos o fundo. Bastasse dois refletores apontados para o fundo, e essa cena ganharia um sentido completamente diferente.

Apesar de só ter uma fonte de luz presente na diegese da cena (no mundo da série) - a luz do teto, é possível perceber mais fontes de luz direta, necessárias para iluminar o rosto dos atores. Ainda sim, a falta de luz no fundo, auxilia na construção de um ambiente escuro, mas que conseguimos ver o que é necessário.

Apesar de só ter uma fonte de luz presente na diegese da cena (no mundo da série) – a luz do teto, é possível perceber mais fontes de luz direta, necessárias para iluminar o rosto dos atores. Ainda sim, a falta de luz no fundo, auxilia na construção de um ambiente escuro, mas que conseguimos ver o que é necessário.

Existe ainda mais um tipo de iluminação que precisa ser falado: o que acontece quando colocamos os refletores atrás do ator, apontados para as suas costas?

Esqueça os refletores... Vamos pegar logo a mais forte fonte de luz que nós temos. Para acabar com a silhueta, seriam necessários refletores iluminando a "frente" dos "personagens" dessa cena.

Esqueça os refletores… Vamos pegar logo a mais forte fonte de luz que nós temos.
Para acabar com a silhueta, seriam necessários refletores iluminando a “frente” dos “personagens” dessa cena.

Logo, pra conseguirmos filmar essa cena em 007 - Operação Skyfall (lembrem-se que a casa pegando fogo é obviamente digital).

Logo, pra conseguirmos filmar essa cena em 007 – Operação Skyfall (lembrem-se que a casa pegando fogo é obviamente digital).


Precisamos disso.

Precisamos disso.

Genial, não?
Até a próxima criançada.

Exercício: Voltem a primeira foto do artigo. Agora tentem descobrir onde estão posicionados os refletores. Pra ajudar, tirando o filme Barry Lindon, sempre que você ver uma área tão iluminada por uma vela ou lampião, não tenha dúvida que é um refletor que está iluminando de verdade.

Pedro Lauria

Em 2050 será conhecido como o maior roteirista e diretor de todos os tempos. Por enquanto, é só um jovem com o objetivo de ganhar o Oscar, a Palma de Ouro e o MTV Movie Awards pelo mesmo filme.
NAN