Cinema ao Pé da Letra – Parte 24: Estilos de Fotografia – Nem sempre queremos ser realistas…

Pedro Lauria

O que faz uma boa fotografia?

Se alguém que lê essa coluna responder “ser bela”, toma um pescotapa. Apesar de quase sempre procurarmos pela beleza na fotografia, por diversas vezes, somos confrontados a fazer uma “fotografia” feia – se isso encaixar na proposta narrativa do filme. E é isso que faz uma boa fotografia: coerência com a história que está sendo contada. Dessa forma, como as história divergem de estilos – o mesmo vale para a fotografia, que podem destoar completamente daquilo que se chama de “bonito” se isso servir ao filme.

Dito isso, vamos ver alguns estilos de fotografia e compreender como eles ajudam a contar histórias completamente diferentes.

Realista

A ideia de fotografia realista, surgiu nos anos 20, quando a câmera começou a sair dos estúdios e ir para as ruas (principalmente na URSS). Acima - um expoente do neorealismo Italiano: Ladrões de Bicicleta. Percebam como a fotografia é sobria, lavada, onde a beleza estética está justamente na secura da fotografia.

A ideia de fotografia realista, surgiu nos anos 20, quando a câmera começou a sair dos estúdios e ir para as ruas (principalmente na URSS). Acima – um expoente do neorealismo Italiano: Ladrões de Bicicleta. Percebam como a fotografia é sobria, lavada, onde a beleza estética está justamente na crueza da fotografia.


Um exemplo atual, e colorido, o filme iraniano A Separação, utiliza de uma fotografia mais realista - evitando sombras fortes e cores que destoam, evitando assim que a cena pareça "pintada".

Um exemplo atual, e colorido, o filme iraniano A Separação, utiliza de uma fotografia mais realista – evitando sombras fortes e cores que destoam, evitando assim que a cena pareça “pintada”.

Expressionista/Noir

O expressionismo, movimento de cinema que começou na Alemanha, se utiliza de sombras fortes e tomadas com muito contraste para fazer sua fotografia.

O expressionismo, movimento de cinema que começou na Alemanha, se utiliza de sombras fortes e tomadas com muito contraste para fazer sua fotografia. Fotograma de O Laboratório do Dr. Caligari.


Herdando o fascínio pelas sombras do Cinema Expressionista, o cinema Noir evoluiu essa linguagem para imergir seus cenários em sombras. Algo muito adequado para filmes que traziam uma atmosfera pesada e misteriosa. Acima, um fotografia de O Falcão Maltês.

Herdando o fascínio pelas sombras do Cinema Expressionista, o cinema Noir evoluiu essa linguagem para imergir seus cenários em sombras. Algo muito adequado para filmes que traziam uma atmosfera pesada e misteriosa. Acima, um fotograma de O Falcão Maltês.

Saturação

Indo para o completo oposto das contrastes entre poucas cores, está a colorização excessiva - que satura as principais cores, destoando da realidade mas trazendo uma beleza. No filme acima, Arizona Nunca Mais, os Irmãos Coen tentam trazer uma história em quadrinho para o cinema - o que explicou essa escolha de fotografia.

Indo para o completo oposto das contrastes entre poucas cores, está a colorização excessiva – que satura as principais cores, destoando da realidade mas trazendo beleza estética. No filme acima, Arizona Nunca Mais, os Irmãos Coen tentam trazer uma história em quadrinho para o cinema – justificando essa escolha de direção na fotografia.


Mas as cores não negam a presença de sombras, como provou Dario Argento no lindíssimo e aterrorizante Suspiria. Sua fotografia se assemelha em diversos momentos aos de Almodóvar, que também opta, geralmente, pelas cores mais saturadas.

As cores não negam a presença de sombras, como provou Dario Argento no lindíssimo e aterrorizante Suspiria. Sua fotografia se assemelha em diversos momentos aos de Almodóvar, que também opta, geralmente, pelas cores mais saturadas.

Palheta Fria

Mas dentro das cores, não precisamos ficar restritos entre saturização ou realismo. Existem palhetas que ao serem escolhidas, ditam toda a atmosfera do filme. Por exemplo, acima, a fotografia fria de Fargo, ajuda a incorporar a monotonia da paisagem e da crueza de seus personagens.

Mas dentro das cores, não precisamos ficar restritos entre saturização ou realismo. Existem palhetas que ao serem escolhidas, ditam toda a atmosfera do filme. Por exemplo, acima, a fotografia fria de Fargo, ajuda a incorporar a monotonia da paisagem e da crueza de seus personagens. Para uma ideia da execução dessa palheta fora do cenário nevado, assistir ao clipe Royals.

Palheta Quente

Em O Fabuloso Destino de Amelie Poulain, a fotografia quente e amarelada nos traz uma atmosfera mais confortável e afável. O mesmo não pode se dizer da fotografia da série Breaking Bad, cuja fotografia amarelada serve para nos manter constante a ideia da secura do deserto de Albuquerque.

Em O Fabuloso Destino de Amelie Poulain, a fotografia quente e amarelada nos traz uma atmosfera mais confortável e afável. O mesmo não pode se dizer da fotografia da série Breaking Bad, cuja fotografia amarelada serve para nos manter constante a ideia da secura do deserto de Albuquerque.

Como fica claro, cada filme pede seu próprio tipo de fotografia, sendo assim besteira tentar vincular sua qualidade à beleza estética.

E por hoje é só, pessoal!

Pedro Lauria

Em 2050 será conhecido como o maior roteirista e diretor de todos os tempos. Por enquanto, é só um jovem com o objetivo de ganhar o Oscar, a Palma de Ouro e o MTV Movie Awards pelo mesmo filme.
NAN