Cinema ao Pé da Letra – Parte 25 | Lentes – Os pequenos instrumentos que definem como vemos o mundo

Olááááááááááááááá DOIS MIL E QUARTORZE! Ano de rolêzinho, de Copa do Mundo, de manifestação, de PM batendo nos manifestantes, de eleições, de políticos tentando se eleger mostrando o PM batendo nos manifestantes, etc, etc, etc

Como não ficar animado?

Além de tudo… O Cinema ao Pé da Letra voltou. É muita alegria para um ano só.

Bom, deixemos para estourar o champagne em outro momento e vamos ao que interessa: LENTES.

Sim, lentes. O trabalho do diretor de fotografia não consiste apenas em definir posições e temperaturas de luzes, filtros e outros aspectos relacionados a iluminação. Um dos principais trabalhos do fotógrafo (em conjunto com o diretor) é decidir quais lentes serão usadas para contar uma história – e qual será o seu impacto na narrativa.

Isso porque existem uma variedade enorme de lentes (definidas, geralmente, por sua milimetragem) cujas características tem como consequência efeitos completamente diferentes. Como veremos abaixo, lentes de baixa milimetragem são chamadas de Wide, lentes entre 30 e 50mm são chamadas de Normais (são as mais próximas de reproduzir o olho humano) e lentes de maior milimetragem são conhecidas como Tele.

Uma lente Wide (24mm).Percebam como essa lente permite um grande escopo lateral (permitindo que vejamos vários elementos distantes lateralmente dentro do mesmo plano) e nos dá uma ideia de profundidade (por exemplo, sabemos que aquela estrutura branca em terceiro plano está bem longe da parede em primeiro plano). 

Uma lente normal (50mm).
A mais próxima do que seria a visão humana. É a lente de menor “deformação espacial”.

Uma lente Tele (85mm-200mm).
Percebe como nossa escopo lateral está reduzidíssimo (não vemos vários elementos que estavam sendo mostrados na lente Wide). Além disso, perceba como a estrutura branca parece MUITO mais próxima da parede, do que parecia nas outras duas lentes. Isso porque a lente tele “comprime” a profundidade, trazendo o que está mais longe, mais para perto.

Para ficar ainda mais claro…

Aplicações

Tá, mas para que serve isso dentro do cinema?

Uma vez que uma lente Wide permite um maior escopo lateral, seu uso é obvio em momento em que queremos mostrar o ambiente (em filmes épicos, por exemplo) ou mesmo o desolamento de um personagem.

Percebam como o uso de uma lente Wide, permite que vejamos o tamanho da praia (e da natureza) frente a personagem. Isso funciona perfeitamente bem no filme, uma vez que a ideia é justamente mostrar a ruptura que é para uma nobre inglesa ser “largada” em meio ao ambiente inóspito da Nova Zelândia.

A qualidade é horrível mas é o que tem pra hoje.
Percebem como em filmes de terror, quando o vilão corre atrás da vítima ele parece que está sempre chegando e nunca consegue alcançar a própria?
Então, o motivo disso é o uso de lentes Tele, que comprimem o espaço entre o vilão e a vítima, que na verdade estão MUITO longe um do outro. É o mesmo princípio da aproximação daquela estrutura branca no exemplo anterior.

E agora, para finalizar, a diferença mais assombrosa que uma lente pode fazer. Lembram que eu falei que a lente Wide permite um maior escopo lateral? Então, ela faz isso deformando o espaço, como se transformasse o espaço em um “cilindro” ou um “barril”. Apesar de não notarmos a diferença em planos abertos (só se olharmos fixamente para as laterais da tela, que perceberemos algumas leves deformações) – em Closes ou planos próximos, as diferenças são gritantes!

Quer ver?

Enquanto a primeira (Wide) deforma a imagem lateralmente, a segunda, deforma a profundidade (reparem na distância da lixeira, da segunda para a primeira foto).

E por hoje é só.
Quer dizer… Não sem antes deixar uma lição de moral.

Nunca acredite em uma foto.