Olááááááá criançada animada.
Dando continuidade a importância da arte no cinema (começamos com figurino), hoje vamos falar sobre locações! Sim! Locações. O lugar onde a cena se passa, pode ser mais importante do que a própria situação que está ocorrendo.
Mas antes de tudo, um exemplo teórico – para entender o título da coluna de hoje.
Vamos supor que você seja uma pessoa digna de visitar o meu quarto. Nela, você verá um conjunto de miniaturas de cantores de Jazz e provavelmente me perguntaria: “Você curte Jazz?”.
A minha resposta seria um simples: “Não”.
MAS COMO ASSIM? VOCÊ NÃO GOSTA DE JAZZ E TEM ESTÁTUAS DE CANTORES DE JAZZ?
Simples. Eu gosto das estátuas, mas não morro de amores pelo que ela representa. O que é possível na realidade, seria inaceitável no cinema. Em um filme sobre mim (seja ele um documentário ou ficção, que no fundo são a mesma coisa) essas estátuas nunca poderiam aparecer no meu quarto – porque elas passam uma informação errada sobre mim. Tudo presente em uma locação, deve falar sobre o lugar ou sobre quem mora ali. Dito isso, vejamos alguns exemplos de locações, e o que elas dizem sobre os personagens/a situação.
Vamos começar com Breaking Bad. O escritório do advogado Saul é essencial para entendermos o perfil do personagem. A balança (aqui, maravilhosamente posicionada entre os dois personagens) e a constituição gravada no papel de parede, mostra bem o exagerado legalismo do personagem. Saul domina o sistema jurídico.
Outro ponto interessante de se observar são as pequenas e foscas janelas, que ajudam a preservar a ideia de covil: ali no escritório de Saul, os segredos nunca saem para ver a luz do dia.
Continuando com Breaking Bad… A casa de Jesse ajuda a mostrar a situação do personagem: vazio de decoração, recorrendo apenas a móveis simples. Os únicos investimentos são no entretenimento (também exagerado) na forma das caixas de som. As janelas grandes – porém sempre cobertas, ajudam a compreender que se trata de uma casa cara habitada por um homem que quer se esconder da sociedade.
O quarto de Travis Bickle de Taxi Driver (obra prima de Scorsese) sintetiza a mente doente do personagem. Com uma decoração inexistente, paredes destruídas, luzes soltas e reportagens coladas na parede – é fácil perceptível sua sociopatia.
Indo pros caminhos do Expressionismo Alemão, a área de trabalho de Metrópolis, ajuda a mostrar a situação de opressão dos trabalhadores. O grande panorama de edifício ao fundo, ajuda a mostrar a crítica a cidade grande, que cresce sobre os homens. O grande gongo é um elemento de autoridade e ordenação (não a toa localizado no meio do quadro).
Ok, mas como definir uma péssima locação?
O que define uma locação ruim é a falha dela em definir o personagem ou sua situação. No péssimo, Um Sonho Possível, por exemplo, as áreas pobres que deveriam parecer ameaçadoras e pouco dignas, para ajudar a compreender o passado sofrido do personagem, são retratos de forma lúdica.
Basta comparar com (o muito superior) Preciosa.
E chega por hoje.
E olhem o quarto de vocês… O quanto ele os descrevem?