Cinema ao Pé da Letra – Parte 7: O Complexo de Édipo

Pedro Lauria

Olá criançada!

Hoje vamos finalizar as colunas introdutórias do Cinema ao Pé da Letra. A partir de semana que vem, começaremos a tratar de assuntos ligados a Linguagem Cinematográfica em si.

Entretanto, se prepare, porque a coluna de hoje vai explodir cabeças.

Na coluna passada, falamos sobre o Estado de Imersão do espectador do cinema. Hoje, evoluiremos esse assunto e falaremos como o ser humano é arquetipicamente influenciado para gostar de histórias – e, principalmente, amar filmes.

Mas primeiro vamos a definição de Complexo de Édipo.

Sim, é um pouco mais amplo do que ser o avô do termo MILF.

Sim, é um pouco mais amplo do que ser o avô do termo MILF.


SUMMON WIKIPEDIA

Segundo Freud, o Complexo de Édipo verifica-se quando a criança atinge o período sexual fálico na segunda infância e dá-se então conta da diferença de sexos, tendendo a fixar a sua atenção libidinosa nas pessoas do sexo oposto no ambiente familiar.

Bom. Mas como isso influencia o nosso gosto por filmes?

Para entender isso, vamos compreender como se dá a formação do Complexo de Édipo durante o crescimento do indivíduo.

1. O Eu e o Mundo

Quando o bebê nasce, ele não consegue compreender que existe uma diferença entre ele e o mundo. Somos burros – e incapazes de entender que “somos algo”.

2. A descoberta

O bebê começa a descobrir o mundo. Porém, ao contrário de nós que experenciamos o mundo principalmente pela audição e a visão (audiovisual, cinema, viram a lógica?), os bebês experimentam o mundo pelos sentidos mais táteis (tato e paladar). Por isso que as crianças vivem pegando tudo com as mãos, quebrando as coisas e levando suas mães ao desespero. Mais ainda: é por isso que os bebês colocam tudo que é porcaria na boca. Por via dela que ele conseguirá compreender características como o sabor, a estrutura e a textura dos objetos. O que nos leva a um raciocínio lógico: o que é que o bebê constantemente coloca na boca?

E por isso o amor pela mãe.

E por isso o amor pela mãe.

3. O Espelho

O bebê descobre que ele é uma coisa. Ao olhar o espelho ele começa a ter a noção de que aquilo refletido não é apenas uma imagem que se mexe igual a ele. Ele descobre que aquela imagem É ele. Agora, para começar a explodir cabeças – comece a imaginar que o formato do espelho é relativamente similar a tela de cinema – delimitação por bordas, imagens em movimento, sensação de profundidade em uma superfície 2D…

4. O Complexo de Édipo e a identificação secundária

Um pouco mais velhos começamos a receber os primeiros “não” – principalmente àquele pedido primordial: “Eu quero minha mãe” (a detentora do seio, da alimentação, da proteção). Mas porque ela passa tanto tempo com o meu pai? Ele tem algo que eu não tenho? Eu quero ser igual meu pai para ficar com a minha mãe.

5. Surgimento do Eu e a regressão Narcisística

Coloquemos isso em escala mais abrangente: Eu quero algo que não posso. E a única forma de conseguir é ser outra pessoa. Eu quero então ser alguém que possa.

É a constante luta entre Lei e Desejo (que explica tantas neuras da psicologia): Eu quero algo. Obstáculos me impedem de tê-lo. Logo eu quero superá-los, nem que eu precise ser outra pessoa para isso.

E isso é o cinema: ser, por duas horas, outra pessoa (que vemos por uma espécie de espelho)? Não a toa que a narrativa clássica se baseia em “Alguém que quer alguma coisa e tentar alcança-la”.

E por isso – por conta do Complexo de Édipo, um sentimento arquetípico, que a ferramenta da identificação se torna um dos eixos primordiais para que gostemos de assistir filmes. Por isso que não se identificar com um personagem (herói ou vilão) é uma das falhas estruturais mais impactantes de uma obra cinematográfica.

Tudo porque você sente coisas que não deveria pela sua mãe.

Deixo vocês com esse pensamento pertubador… E até semana que vem!

Pedro Lauria

Em 2050 será conhecido como o maior roteirista e diretor de todos os tempos. Por enquanto, é só um jovem com o objetivo de ganhar o Oscar, a Palma de Ouro e o MTV Movie Awards pelo mesmo filme.
NAN