Cinema ao Pé da Letra – Parte 9: A Bitola Bitolada

Pedro Lauria

Olá criançada.

Dando continuidade as colunas sobre linguagem cinematográfica, hoje vamos falar sobre aquilo que dá origem ao cinema: a película, e consequentemente, suas variações de formato: a bitola.
Quando o cinema nasceu, em 1895, o conceito de rolo fotográfico já existia (antigamente a fotografia se dava em chapas de metal e vidro). Entretanto o que não existia era um sistema para que o filme fosse passado em 16 quadros por segundos (posteriormente os 24 quadros se tornaram padrão). Só com o Kinetoscópio (invenção similar ao cinema, que o precedeu) de Thomas Edison, que se percebeu a necessidade de se confeccionar tiras fotográficas com perfurações nas laterais – pra que a tração da câmera e do projetor, pudesse utilizá-las para fazer o filme rodar.

Diferenças entre Bitolas. Repare nas perfurações de ambos os lados - elas são as responsáveis por permitir o sistema de tração do projetor e da câmera rodarem os 24 quadros por segundo.

Diferenças entre Bitolas. Repare nas perfurações de ambos os lados – elas são as responsáveis por permitir o sistema de tração do projetor e da câmera rodarem os 24 quadros por segundo.


Edison então se utilizou uma película de 35mm de largura – e esse formato deu se o nome de Bitola.
Quanto maior a milimetragem – maior a qualidade da imagem. Isso se dá por um motivo óbvio: sendo a tela de cinema muito grande, quanto maior a largura do filme, menos definição se perde em sua projeção.
Até hoje, o 35 mm é o formato mais utilizado, porém não o único.
São os principais:
70 mm – A bitola 70mm surgiu em 1950 (não a toa na época dos grandes épicos) e foi a bitola de preferência para grandes produções. Proporcionava uma grande qualidade de imagem. No entanto, devido aos seus custos superiores à bitola 35mm, ela entrou em desuso.
16mm – Foi bastante popular na filmagem de obras sem caráter comercial, devido ao menor volume de equipamentos. Perdeu parte do espaço com a chegada do VHS (esse tipo de filmagem passou a se gravar em vídeo). É usada em alguns filmes pelo menor custo, e pelo menor peso da câmera – que oferece uma maior agilidade aos cineastas.
8 mm – Lançado pela Kodak 1932 com intuito de criar um padrão para o filme amador mais barato que o 16mm.
Super-8 – Desenvolvido na década de 60 pela Kodak, tornou-se mundialmente utilizado para filmes domésticos e eventos, além de obras experimentalistas e semi-profissionais, devido o baixo custo e pela praticidade do equipamento necessário para filmar.
O filme Super 8, retrata bem como essa bitola proporcionou que pequenos futuros cineastas começassem seus projetos.

O filme Super 8 retrata bem como essa bitola proporcionou que pequenos futuros cineastas começassem seus projetos.


 
Transição para o digital:
É normal pensar que a transição para o digital (que ainda não é completa, uma vez que não se consegue reproduzir com totalidade a qualidade de cores da película para o digital) tenha embaratecido não só a filmagem, mas também a distribuição. Afinal, é só enviar um filme/arquivo digital por satélite para cada sala de projeção do mundo e pronto. Certo?
Ledo engano.
Enquanto os projetores de película são universais (um projetor 35mm roda qualquer filme 35mm), um filme digital não tem essa unificação, pois a salas digitais se utilizam de projetores com formatos distintos. Logo, um filme digital X só rodará nas salas que usarem determinado projetor.
Por tal motivo, não é incomum ver diretores filmando em digital e transferindo para película, ou filmando em 16mm e filmando para 35mm. Tudo isso é possível – mas extremamente custoso. Por tal motivo, que é comum, principalmente no Brasil, vermos filmes encalharem na pós-produção – por não terem orçamento para fazer esse tipo de processo.
 
Tecnicidades (brigado Wiki!). Perceba a questão do tempo de projeção por 100m. Esse foi o motivo para a impossibilidade de Hitchcock filmar Festim Diabólico sem cortes, como queria. Além da dificuldade técnica, era necessário trocar os rolos de filme a cada 8 minutos.

Tecnicidades (obrigado Wiki!). Perceba a questão do tempo de projeção por 100m. Esse foi o motivo para a impossibilidade de Hitchcock filmar Festim Diabólico sem cortes, como queria. Além da dificuldade técnica, era necessário trocar os rolos de filme a cada 8 minutos.


Por fim…
O equivalente digital do tamanho da bitola é a resolução. Quanto mais pixels compondo a imagem, maior a resolução.

  • 480 – 720 x 480 pixels, ou HighRes.
  • 720 –1280 x 720 pixels, é o famoso HD.
  • 1080 –1920 x 1080 pixels, é o Full HD.

Todas essas tecnicalidades afetam não só orçamento da produção, como também a linguagem cinematográfica. Filmes épicos (lembrando da coluna sobre formato) se privilegiam de bitolas maiores. Exemplos claros são os filmes em IMAX, tal como O Hobbit, O Cavaleiro das Trevas Ressurge e Avatar.
Enfim…
A partir da próxima coluna começaremos a discutir conceitos com uma relevância artística mais claros, porém, que precisavam da compreensão dessas questões mais técnicas.
Cya!

Pedro Lauria

Em 2050 será conhecido como o maior roteirista e diretor de todos os tempos. Por enquanto, é só um jovem com o objetivo de ganhar o Oscar, a Palma de Ouro e o MTV Movie Awards pelo mesmo filme.
NAN