Clube de leitura oferece proposta inovadora e novas experiências

Aline Khouri

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5 de março de 2015

Imagine receber na sua casa um livro, especialmente selecionado, mensalmente. Uma revista e uma pequena lembrança relacionadas à obra enviada completam o kit fornecido pela TAG Experiências Literárias, um clube de assinatura de livros que iniciou suas atividades no segundo semestre de 2014. Funciona assim: por R$ 69,90 ao mês (há também o plano trimestral) você recebe um kit que varia todos os meses de acordo com a obra escolhida. Um aspecto interessante é o fator surpresa, ou seja, o associado não sabe que livro receberá na sua casa até que abra o kit. Ainda assim, há algumas dicas sobre o próximo livro, que podem ser encontradas na revista da TAG e também no site deles: https://taglivros.com.

No kit recebido pelo Blah Cultural, por exemplo, o livro escolhido foi Solar, de Ian McEwan. Junto dele, vieram a revista do mês e um imã de geladeira em formato de pinguim. Para saber mais sobre o projeto, conversamos com Arthur Dambros, um dos fundadores da TAG. Confira abaixo.

Blah Cultural: Quando e como surgiu a TAG Experiências Literárias?

Arthur Dambros: A primeira fornada de kits foi enviada em agosto, para nosso primeiro grupo de associados. A empresa, porém, se iniciou aproximadamente um ano antes, quando discutíamos (eu e dois amigos, que hoje são sócios) sobre livros. Iniciamos conversando sobre o que cada um estava lendo e terminamos questionando o porquê de, no Brasil, termos tão pouco interesse por livros e literatura. “Literatura é uma palavra que já nasceu feia”, foi nosso primeiro raciocínio. “Desde a infância, quando a maioria das crianças pensa que ela é sinônimo de uma matéria chata do colégio”. Como leitores, porém, sabemos que é o contrário: os livros são universos infinitos, e mergulhar neles pode ser fonte de enorme prazer. “E se transformássemos a literatura em algo leve, em brincadeira, em diversão (sem perder a profundidade)?”

A partir de então, foi um ano de concepção. Como seria uma empresa que assumisse os livros como produto, mas que oferecesse ao consumidor algo diferente do que o mercado já vinha oferecendo? A primeira referência foi o antigo Círculo do Livro, e dele usurpamos a ideia de clube. Nossa primeira definição era essa: encontraríamos, no país, aqueles que fossem apaixonados por livros – como nós – e com eles construiríamos um clube.

E aí começou a ser construída a ideia que hoje já deixou de ser ideia e se tornou um clube com associados presentes em mais de vinte estados brasileiros. Cada mês, um livro; cada livro, uma experiência. A TAG hoje é um clube de assinatura de livros; todos os meses, convidamos alguma referência do cenário intelectual ou literário para, junto conosco, selecionar o livro que será enviado aos nossos associados. Depois de selecionado o título a ser enviado, mergulhamos no “universo infinito” de cada obra, estudando seu autor, o contexto em que foi escrita, fatos e curiosidades. Transformamos essas informações em uma revista, um livreto, que é enviado juntamente com o livro para a casa do associado, contendo informações que enriquecem a leitura daquela obra, tornando-a única e diferente da experiência que você obteria caso tivesse comprado o livro em uma livraria. Além da curadoria e do livreto exclusivo, buscamos caracterizar cada mês de acordo com a temática da obra – em dezembro, o livro enviado foi Orgulho e Preconceito, da Jane Austen, e enviamos junto um chá inglês (afinal, nada mais sensato que um chá inglês para acompanhar a leitura de um clássico da literatura britânica!).

No final de cada revista, sempre divulgamos quem é o próximo curador e damos algumas pistas sobre o próximo livro, porém ele é sempre surpresa (é mais divertido assim!). E dessa forma, com a surpresa a respeito de qual será o livro do mês, o embasamento dos nossos curadores, o aprofundamento da nossa revista, a caracterização dos nossos mimos e materiais extras, e todo o cuidado e carinho que colocamos na construção de cada coisa, esperamos construir experiências literárias enriquecedoras (e prazerosas).

BC: Poderiam explicar melhor que tipo de experiência querem proporcionar aos leitores?

AD: Novos mundos. A TAG busca oferecer ao associado uma chance de aprofundar e estender sua relação com os livros, apresentando-lhe autores que talvez desconhecesse, entregando-lhe livros que talvez não lesse e mostrando-lhe um pouco mais (além daquilo que ele já conhece) do que a Literatura pode oferecer. A construção de uma biblioteca, pois não desejamos impor leituras – sabemos que livros são relações consumadas em momentos específicos. Mais do que entregar um livro que deve ser lido naquele mesmo momento, desejamos garantir que estaremos entregando um ótimo livro, a ser um tijolo na construção da biblioteca pessoal de nosso associado (que a lerá quando o momento “correto” chegar). Por possuirmos dois filtros, o dos curadores e o nosso próprio, garantimos que cada livro enviado tem peso e relevância, e merecerá aqueles três ou quatro centímetros de largura na prateleira. Um clube:a leitura torna-se mais rica quando podemos compartilhá-las com amigos que também leram a mesma obra – é isso que está por trás de um clube de leitura.

BC: Vocês trabalham com curadores que selecionam a obra do mês. De que maneira é feita a escolha dos curadores e como é a participação deles no projeto?

AD: Sempre contatamos nós mesmos cada curador – em alguns casos, conseguimos um acesso um pouco mais profundo. É o caso do José Pacheco, que virá nos próximos meses de 2015, a quem tivemos o privilégio de encontrar pessoalmente para conversar. Outros, o contato é via e-mail (no caso do Patch Adams, como ele não usa o correio eletrônico, nos correspondemos através de cartas!). Dessa forma entramos em contato com nossos curadores, e a eles apresentamos um briefing – quase sempre, em forma de pergunta, que começa com: quais seus livros favoritos?
A partir dessa pergunta, vamos ramificando-a até encontrar algum título que julguemos se adequar ao perfil dos nossos associados.

Muitos dos nossos associados revelaram ter entrado no clube com um receio: será que vou gostar dos livros indicados? A apreensão é compreensível, afinal escolhemos sempre uma única obra a enviar para todos os associados. Felizmente, a apreensão é quase sempre transformada em satisfação, e nossos associados permanecem conosco desfrutando das indicações que lhes enviamos. Em linhas gerais, excluímos os livros que contenham linguagem ou conteúdo específicos – jamais enviaríamos um livro técnico de matemática ou de física. Mesmo que o curador provenha dessas áreas, buscamos indicações de temática genérica. Além disso, buscamos balancear a experiência do associado: se, em um mês, o livro enviado foi uma ficção, no outro tentaremos enviar não-ficção; se, em um mês, for literatura contemporânea, no outro buscaremos algum clássico, e assim por diante.

Nenhum livro é enviado às cegas: todas as obras indicadas pelos curadores são lidas e dissecadas por nós, antes de decidirmos efetivamente enviá-la aos nossos associados. Afinal, julgamos que devemos nós mesmos passar pela experiência antes de multiplica-la aos nossos associados.

associados

Os três sócios que iniciaram a TAG

BC: Quais foram os livros selecionados até o momento?

AD: Em agosto, o livro enviado foi O Físico, romance escrito por Noah Gordon e indicado pelo filósofo Mario Sergio Cortella. Em setembro, foi enviado Em Busca de Sentido, uma não-ficção do psicólogo austríaco Viktor Frankl e indicado por Daniel Pink. Em outubro, em homenagem ao dia das crianças, convidamos o professor e escritor colombiano Javier Naranjo, que selecionou Os Tigres de Mompracem, um clássico da literatura infanto-juvenil, do escritor italiano Emilio Salgari.
Indicado pelo escritor e teólogo Frei Betto, o livro de novembro foi Memórias de Adriano, de Marguerite Yourcenar (nesse mês, juntamente com o livro e a revista, enviamos uma bookbag personalizada, com um excerto do livro)

Em dezembro foi Orgulho e Preconceito, da Jane Austen, indicado por um dos principais filósofos contemporâneos: o australiano Peter Singer (foi nesse mês que enviamos um chá inglês)
Em janeiro. a obra foi O Intruso, do Nobel de Literatura William Faulkner. A obra nos foi indicada pelo médico e ativista Patch Adams (que fico conhecido pelo filme homônimo; Robin Williams fez o papel do Patch).

Em fevereiro a obra indicada foi Solar, de Ian McEwan, indicada pelo psicólogo e escritor americano Paul Bloom. Como a temática do livro refere-se ao aquecimento global, enviamos um ímã de geladeira personalizado, em formato de “pinguim leitor”, para enfeitar a geladeira dos nossos associados.

Já os livros de março ainda podem ser adquiridos (até dia 8), portanto ainda não posso divulgá-lo.

BC: Vocês possuem dados sobre quantos são os associados atualmente? Se sim, podem divulgar? 

AD: A TAG iniciou com pouco menos de cem associados, quase todos concentrados na região sul. Hoje, porém, já está presente em vinte e um estados brasileiros e já enviou o kit para centenas de associados. Por decisões internas ainda não divulgamos números oficiais de associados.

kit_TAG

exemplo de um kit TAG

BC: Qual é a avaliação que vocês fazem desde o início da TAG até agora? A recepção do público tem sido positiva?

AD: Trabalhar com livros é sempre uma decisão arriscada. Não que não haja no Brasil leitores interessados, mas é mais difícil encontrá-los. Clubes de assinatura de cerveja ou vinho já saem em vantagem: o mercado para bebidas é muito maior do que o mercado para livros.

Apesar disso, que é um desafio para todos que trabalham no setor, temos tido uma receptividade muito mais positiva do que esperávamos. Nossa taxa de retenção é altíssima – tivemos pouquíssimos cancelamentos desde a fundação do Clube. Diversos associados entram em contato conosco, por e-mail ou Facebook, elogiando os materiais e a empresa. Pela distinção da ideia, pensávamos que pudesse haver diversos tipos de crítica negativa – aos curadores, à escolha das obras, ao conteúdo da nossa revista – mas elas têm sido praticamente inexistentes.

Aline Khouri

Jornalista, com especialização em Cultura. Adora ler e escrever sobre pessoas e assuntos culturais, especialmente Literatura, Cinema e Teatro.
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