Coisas que a gente odeia
Danielle Meniche
A gente odeia as filas, mas isso é controverso porque uma fila pequena não atrai ninguém e ai de quem furá-la. A gente odeia o esnobe, mas gosta de esnobar quando pode. A gente odeia a hipocrisia, mas…ninguém é perfeito.
A gente odeia entrar num site e levar um susto quando a música toca – é um desespero para encontrar o botão “stop”. Odeia aqueles e-mails que lotam a caixa de entrada com ofertas, mas no final dá uma olhada e até compra. A gente odeia quando aquela página super legal não abre e o dia fica mais chato. A gente odeia as letras garrafais, mas nem percebe que grita com o outro em pensamento.
A gente odeia ficar sem assunto. Odeia o silêncio constrangedor do elevador. A gente odeia o bom dia que entra por um ouvido e sai pelo outro. A gente odeia indiretas, mas a carapuça serve em tantas cabeças que fica difícil saber quem era o verdadeiro alvo. A gente odeia encarada de estranhos. A gente odeia os guarda-chuvas que batem na nossa cabeça.
A gente odeia tumulto, odeia ser empurrado e encaixotado pelo bem da sobrevivência. A gente odeia as mãos que tentam invadir o nosso território nas araras do metrô. Odeia quem anda com a mochila nas costas dentro do trem lotado. A gente odeia os telefones celulares que cutucam nosso corpo. Odeia as bolsas geladas na nossa bunda. A gente odeia aquele cara que dorme e providencialmente deixa a cabeça cair no nosso ombro.
A gente odeia oferta de cartão de crédito por telefone. Odeia os vendedores que nem deixam você colocar os pés na loja e já perguntam: posso ajudar? E os vendedores odeiam aqueles clientes que aceitam a ajuda e não compram nada. A gente odeia aqueles rapazes que perseguem as pessoas na rua para vender assinatura de revista.
A gente odeia o medo. Odeia a solidão. A gente odeia ver que a mensagem foi visualizada e não foi respondida. A gente odeia o ciúme. Às vezes a gente odeia sentir tanto amor. A gente odeia a sogra, mas sem ela não haveria o ser amado. A gente odeia tanta coisa na outra pessoa e mesmo assim ela é o tudo e o nada.
A gente odeia a certeza de que a morte é inevitável. Odeia bater na tecla dos porquês do universo e até hoje não encontrar respostas. A gente odeia o futuro porque ele é imprevisível. A gente odeia o tempo nublado, mas às vezes não sabe o que fazer com os dias de sol.