Coringa crítica

‘Coringa’ [SEM SPOILERS] | CRÍTICA

Paulo Cardoso Jr.

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1 de outubro de 2019

Uma palavra pode descrever o filme do Coringa (Joker): PERTURBADOR. Sim, assim mesmo em caixa alta e em negrito. Filmes de anti-heróis ou vilões não são nenhuma novidade para Hollywood. Em muitas das vezes, rendem mais dinheiro até que os filmes de heróis. E não é de hoje!

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Os anti-heróis

Existe anti-herói em tudo quanto é gênero. Na ficção científica, como, por exemplo, o Darth Vader e até o T-800, a máquina exterminadora interpretada por Arnold Schwarzenegger. Quem não torcia pelo Exterminador? Depois que ficou bonzinho até perdeu um pouco da graça. Os clássicos de filmes de terror como Freddy Krueger, Jason e Drácula. Tem até nas comédias! Afinal, o capitão Jack Sparrow está aí para não nos deixar mentir! Depois os anti-heróis de quadrinhos tipo Blade, Dredd, V de Vingança, Hellboy e, mais recentemente, Deadpool e Venom. Mas nenhum deles, NENHUM, ganhou um filme solo tão cru e com uma interpretação tão visceral quanto este Coringa de Joaquin Phoenix.

‘Coringa’ já chega como clássico

A origem do personagem nos quadrinhos nunca foi totalmente esclarecida. E querer explicar isso, ou o que levou ele a ser essa figura sádica e psicopata que se tornou, poderia ser um tiro no pé. Até mesmo todo o material de divulgação foi bem ralo, limitando-se a um trailer e um teaser para televisão com as mesmas imagens. Então, a expectativa só foi aumentando. Coringa já chega ao Brasil depois de passar por vários festivais internacionais e ainda ganhar o Leão de Ouro de melhor filme do festival de Veneza. Ou seja: nasceu um clássico.

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A trama

A história é sobre Arthur Fleck, um pacato cidadão, que sofre de alguns distúrbios neurológicos. Um deles de risada nervosa, que é quando a pessoa simplesmente começa a rir sem parar quando passa por situações de estresse. Arthur trabalha na empresa “Haha”, que disponibiliza palhaços para as lojas de rua, festas infantis e hospitais. Além disso, ele toma conta da sua mãe doente e tenta, nas horas vagas, ter sucesso como comediante.

Mas a Gotham City dos anos de 1980 não é uma cidade para os fracos. Espelhada muito na cidade de Nova Iorque da mesma época, vive na sujeira, com infestação de ratos, criminalidade beirando o caos e desemprego em alta. Ou seja, é uma panela de pressão a ponto de explodir a qualquer momento. Arthur tenta levar sua vida da melhor maneira possível, mas a cidade, a todo instante, o põe para baixo. Ele sofre agressões físicas, psicológicas e bullying por causa da sua risada nervosa. A sanidade do personagem é mantida numa linha tênue entre o amor que sente pela mãe e a quantidade de remédios controlados que toma todos os dias.

Arthur até tenta aconselhamento profissional com assistentes sociais, mas nada parece adiantar. É uma tensão crescente desde o começo do filme. Só quem consegue rir mesmo é o personagem. Em uma mistura de riso e choro que faz o longa ficar pesado e cada vez mais sombrio. Um dos raros momentos de descontração do personagem é quando ele encontra sua vizinha Sophie Dumond (Zazie Beetz). Mas até ela é uma peça-chave para entender a formação do Coringa.

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Os gatilhos

Não é somente uma coisa que faz Arthur se transformar no personagem. São vários detalhes, mas existe um ou dois gatilhos que, infelizmente, não podemos falar. Isso é algo para se descobrir assistindo ao filme. Dito isso, resta a pergunta: “Qual o melhor Coringa? Joaquin Phoenix conseguiu superar a atuação de Heath Leadger, ou Jack Nicholson?!” Ouso dizer que você verá na interpretação de Joaquin Phoenix uma mistura de todos os Coringas clássicos do cinema!

Você vai lembrar de Cesar Romero pelas roupas coloridas e extravagantes do personagem. De Jack Nicholson através da risada estridente e das dancinhas ao vento toda vez que viajava na sua loucura. Mas também vai se recordar de Heath Ledger na ideia de anarquia do personagem. Em dado momento, o vilão é perguntado se tem alguma causa, como lutar pelo pobres, ou alguma ideologia por trás dos seus atos. O personagem ri e diz que nunca pensou em nada disso. Ou seja, é o famoso “gostar de ver o circo pegar fogo”. Finalmente, você vai se lembrar de Jared Leto no que diz respeito à violência e impulsividade do personagem, sem medir consequência dos seus atos.

A genialidade da interpretação de Joaquin Phoenix não está em reunir essas interpretações anteriores, pois os outros só mostravam o vilão! A dele mostra o que uma pessoa teve que passar para chegar ao Coringa e, ainda assim, fazer uma excelente interpretação do personagem.

Perturbador e sombrio

Enfim, entre mortos e feridos, Coringa não é filme para qualquer um e ainda enfrentou sérias críticas se poderia influenciar espectadores a fazerem o mesmo depois que saírem do cinema. Pode? Talvez, quem sabe? O filme é tão perigoso quanto os jogos de videogame violentos que sofrem com a mesma polêmica. O personagem já era perturbado antes mesmo de se tornar quem de fato ele é. E os acontecimentos somente aceleraram sua psicopatia.

Aliás, você encontrará traços de filmes como “Seven – Os Sete Crimes Capitais”, “Clube da Luta” e “Identidade”. Então, já deu para ter uma ideia do que esperar. Mas uma coisa é certa, Coringa não é um filme para crianças. É perturbador e sombrio, com uma narrativa pesada e uma fotografia genial. Algumas cenas parecem, de fato, páginas de uma HQ. Forte candidato ao Oscar? Pode ser até que não ganhe (tem minha torcida!), mas certamente merece algumas indicações. Até a próxima.

::: TRAILER

::: FICHA TÉCNICA

Título original: Joker
Direção: Todd Phillips
Roteiro: Todd Phillips, Scott Silver
Elenco: Joaquin Phoenix, Zazie Beetz, Frances Conroy
Distribuição: Warner
Data de estreia: qui, 03/10/19
País: Estados Unidos
Gênero: ação
Ano de produção: 2018
Classificação: 16 anos

Paulo Cardoso Jr.

Jornalista formado pela PUC-RJ e Pós Graduação em "Comunicação com o Mercado" pela ESPM-RJ.
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