CRÍTICA | ‘10 Segundos Para Vencer’ mostra Éder Jofre como um Rocky Balboa tupiniquim

Bruno Giacobbo

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21 de setembro de 2018

Demorou, mas parece que enfim aconteceu. Nicho extremamente lucrativo no cinema norte-americano, os filmes de boxe chegaram ao Brasil. Primeiro com “A Luta do Século” (2017), um DOC do cineasta Sergio Machado sobre a histórica rivalidade entre dois boxeadores: o pernambucano Luciano “Todo Duro” Torres e o baiano Reginaldo “Holyfield” Andrade, que obteve moderado sucesso de crítica. Agora, é a vez de 10 Segundos Para Vencer, uma obra ficcional baseada em fatos reais. Nela, o diretor José Alvarenga Jr. volta suas câmeras para Éder Jofre, uma espécie de Rocky Balboa tupiniquim quando pensamos em sua origem humilde e no fato de que ele era duro na queda. O recorte temporal escolhido é amplo. Vai da infância nas ruas do bairro do Peruche, em São Paulo, à conquista dos seus dois títulos mundiais, o último aos 37 anos. E ao longo deste percurso o que menos importa é o esporte em si, pois películas de boxe são muito mais uma metáfora da vida do que propriamente sobre boxe.

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Assim como “Rocky: Um Lutador” (1976) não é sobre um vencedor dentro dos ringues, mas sobre um homem que teima em não ser derrotado pelos revezes fora dele, o longa-metragem brasileiro conta a história de um relacionamento familiar. Tão importante para a trama quanto a participação de Éder Jofre (Daniel de Oliveira) é a de seu pai, Kid (Osmar Prado). Argentino radicado por aqui, o personagem nutre grande amor pela “Nobre Arte”. Ele enxerga o esporte como uma maneira de tirar toda a sua família da pobreza. Depois de fracassar com o cunhado (Ricardo Gelli), uma nova oportunidade surge com o interesse do filho em assumir como seus os sonhos do progenitor. E o dublê de treinador e figura paterna não hesita em dispensar ao pupilo um tratamento nada privilegiado. Acordar de madrugada, sparings bem mais fortes e até um inusitado treinamento dentro de um presídio são táticas válidas para tornar seu lutador apto a suportar as adversidades que estão por vir.

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Em meio as diversas cenas de treinos envolvendo pai e filho, Alvarenga Jr. acerta ao investir em muitos momentos de cunho íntimo. São instantes em torno da mesa de jantar onde personagens como a matriarca interpretada pela ótima atriz Sandra Corveloni ou o caçula Doga (Rafael Andrade Muñoz) ganham relevo. Junto com as atuações de Prado, Oliveira e Gelli temos um bom trabalho de direção de atores. Estes momentos constituem o arcabouço moral do futuro campeão. O caminho até os cinturões passa por toda a preparação física e esportiva que é mostrada, entretanto, passa principalmente pelo forja emocional que não seria possível se ele não estivesse inserido neste núcleo familiar. Desta forma, um problema de saúde que acontece lá pelas tantas é fundamental e, como o personagem de Sylvester Stallone, em “Rocky”, é destas coisas que Éder tira a força de caráter para ser quem ele é.

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Foto: Imagem Filmes / Divulgação

Ambicioso, 10 Segundos Para Vencer investe também em efeitos visuais de inegável qualidade para o nosso cinema. Ao longo de todo o longa-metragem, apenas duas lutas são encenadas: contra o mexicano José Medel, quando o brasileiro se qualificou para a disputa do seu primeiro mundial; e contra o cubano José Legra, que representou a conquista do segundo cinturão. Na primeira, disputada nos Estados Unidos, o público em torno do ringue foi inserido digitalmente. Ou seja: não existe ninguém ali. Não dá para perceber. Juro. A segunda não, são figurantes de verdade. E aí vocês devem estar se perguntando: “E a luta do primeiro título?” Pois bem, esta é mostrada através de imagens de arquivo onde o próprio Éder aparece enfrentando o também mexicano Eloy Sanchez. Falta de capricho ou verba curta? Como estes efeitos não são baratos, quero crer que seja falta de dinheiro, já que esta luta faz falta. Seria o momento mais Rocky de um filme que evoca Rocky o tempo todo.

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Desliguem os celulares e boa diversão.

::: TRAILER

::: FICHA TÉCNICA
Direção: José Alvarenga Jr.
Elenco: Daniel de Oliveira, Osmar Prado, Ricardo Gelli
Distribuição: Imagem
Data de estreia: qui, 27/09/18
País: Brasil
Gênero: drama
Ano de produção: 2017
Classificação: 14 anos

Bruno Giacobbo

Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.
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