CRÍTICA | 1ª e 2ª Temporada de ‘Lore’: a estupenda série de contos da Amazon Prime

Leandro Stenlånd

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10 de novembro de 2018

A Amazon Prime tem ousado levar para o telespectador e amante do serviço de streaming séries consistentes e totalmente interessantes. Agora, a empresa traz a segunda temporada de Lore, mas antes de falarmos dela, vamos lembrar um pouquinho o primeiro ano da série, que por sinal foi bem melhor que o segundo ano.

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As lendas, sejam elas folclóricas ou não, representam o conjunto de histórias e contos narrados pelo povo que são transmitidas de geração em geração. Alguns sempre acreditarão por serem mais crentes de que tais coisas possam existir, enquanto outros são céticos ao acreditar que Mula sem Cabeça, Curupira e Lobisomen venham realmente a existir. Existem muitas coisas neste mundo que desafiam a nossa singela lógica humana e, neste caso, a imaginação das pessoas pode ser um instrumento poderoso para tentar explicar o inexplicável. Imagina você caminhando pela rua durante a noite e, de repente, dá de cara com um monstro estranho que corre em sua direção, agarra no seu pescoço e começa a chupar toda sua vitalidade?

Pois é exatamente isso que o primeiro ano de Lore tenta mostrar ao telespectador, transitando entre o gótico, o horror e o terror — mas sem se afiliar a nenhuma dessas lendas com exclusividade —, os  seis contos desta série reúnem o melhor das histórias de medo até mesmo para os céticos. De vampiros a poltergeists, grandes contos são introduzidos na trama, onde cada episódio tem sua narrativa totalmente separada dos demais capítulos dessa grande obra, ao bom estilo Black Mirror, ou seja, os episódios não se conectam. Temos o mal absoluto, o sofrimento de ocasião e até a maldade disfarçada de bem, revelando personagens complexos e narrativas impressionantes, onde atores distintos atuam perfeitamente em seus papéis para reproduzir algo tão interessante que jamais poderia imaginar o real porquê da expressão ”Salvo Pelo Gongo”, expressão esta totalmente explicada em um dos contos do primeiro ano.

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Ao eleger qualquer conto como seu principal meio de experimentação ao submundo do terror e horror, o diretor Darnell Martin produziu uma extensa obra capaz de revolucionar as características que consagraram o gênero. Aliás, ao invés de abordar meros contos, a escalação do narrador da série (Aaron Mahnke) foi algo soberbo. A voz do mesmo e como ele narra os contos da série é de deixar a pessoa bem antenada no que está por vir. Lore não é para qualquer um e muitas coisas irão lhe confundir, justamente por ser um seriado bem complexo. Há, claro, uma mistura de fatos reais com imaginários. Essa mistura de história e fantasia é o que irá mexer com sua imaginação. As lendas vão sendo contadas ao longo do tempo e modificadas através da narração, narração esta que não está presente no segundo ano da série, que mais se parece com uma versão piorada de Contos da Cripta.

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As lendas e as crenças vão sendo contadas ao longo do tempo e modificadas através da imaginação do povo. A história do Lobisomem, por exemplo, que não é exclusivamente brasileira, tem sua trama iniciada de forma diferente em Lore. Aqui somos introduzidos ao São Patrício, responsável por testemunhar pela primeira vez a chegada dos lobisomens. Também somos indagados pela crença de que Licantropia Clinica, doença que faz com que a pessoa acredite ser um animal, poderia ser o mal que afetou tanta gente no passado. Algumas pessoas acreditavam ser realmente animais, por possuírem pelagem demasiadamente no corpo, bem ao estilo Tony Ramos.

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A estética narrativa gótica existe praticamente em todos os 12 episódios da série e refletem de forma estupenda o encanto pelo terrível. A junção da violência, do sacrifício, da estranheza, da transgressão dos limites da realidade e de nossa psicologia é o que gera o terror e horror que formam o gênero mais torpe possível. Conceituar Lore causa um certo desconforto, até mesmo quando um dos produtores, neste caso o Gale Anne Hurd, tenta mostrar equivalentes satisfatórios como algo estranho, misterioso, fora de comum, sinistro, perturbador e inquietante quando o assunto são crenças.

Mesmo que classifiquemos como sobrenatural alguns episódios, a audiência pode se surpreender em como todos esses contos são e em como o primeiro plano das histórias vão além dos fantasmas e maldições. Não só é uma história sobre fantasmas, mas sim uma diversidade de narrativas, onde fantasmas e psicopatas, em alguns casos, pactuam do mesmo episódio. Quando se trata de uma produção suntuosa em séries de terror e horror, é impossível não citar o clássico dirigido por Francis Ford Coppola e sua adaptação para o cinema da obra-prima da literatura de vampiros, o Drácula. Isso fica bem caracterizado no primeiro episódio da primeira temporada, onde Mercy Brown, a primeira vampira americana, é mostrada com todo o terror da estranheza oriundo não do que é desconhecido, mas daquilo que nos é familiar há tanto tempo. Ela se apresenta fora do esperado, nos chocando, afinal, quem aí já ouviu falar de Mercy Brown?

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A primeira ligação entre a Fantasia, na sua manifestação do Conto de Fadas e o Gótico, ocorre justamente na Idade Média, como no episódio da maldição de Orloj (4º episódio da 2ª temporada), quando a relação entre o ser humano e o mundo ao seu redor era regulado pelo sobrenatural. O mesmo ocorre quando o assunto é um transmorfo, na Irlanda do Norte durante o século 19, onde as pessoas frequentemente buscavam resposta na magia e superstição, acreditando que entidades espirituais eram a causa de tudo. De um lado, dentre tantos exemplos possíveis, as crenças e narrativas populares estavam sempre ligadas a criaturas fantásticas de origem pré-cristã, como as fadas celtas e muitos outros.

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O enredo de ambas as narrativas encadeia uma sequência de violência, simbólica ou explicitamente sanguinolenta, até chegar ao seu clímax, o sacrifício. Aliás, o sacrifício está em quase todos os episódios, afinal, estamos falando de uma série de contos estranhos à nossa sanidade e que, sem sacrifícios não há como cessar a violência. Lore, ao combinar suspense e violência, apresenta um tipo de ”herói” puro e corajoso, um anti-herói atormentado pela transgressão de altos valores e uma moça inocente cujo sacrifício interrompe o ciclo violento. E isso está escancarado na maioria dos episódios, por termos contos sobre lendas, fica nítido que haverá mortes no decorrer da trama para explicar aquilo que se passa.

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Os contos ganham força com o sublime, cenários tétricos, bela fotografia e com a beleza de outros elementos que merecem muitos aplausos, inclusive quando o assunto são episódios sobre Elizabeth Bathory e o Assassinato de Hinterkaifeck. O cenário e o vestuário reproduzem cuidadosamente a atmosfera da Inglaterra vitoriana, mesmo que estejamos em qualquer outro canto do mundo. Lore é uma estupenda e encantadora surpresa da Amazon Prime que chega com todos os seus predicados ao mostrar diversas crenças  que possuem um teor totalmente histórico e dramático, diferenciando-a das atuais produções que sequer podemos comparar. Afastando-se dos Jump Scares, a série é muito mais um conteúdo didático sobre crenças, contos e lendas do que meramente uma série de assombrações e seus similares. Totalmente indicado.

::: TRAILER

::: FICHA TÉCNICA

Temporada: 1 e 2
Elenco: Michiel Huisman, Carla Gugino, Timothy Hutton
Gênero: terror
Produção: Amazon Studios
Estreia: 2017 e 2018
Produtores executivos: Tempoarada 1 – Gale Ann Hurd, Sean Crouch, BP Jenkins. Temporada 2 – Ben Silverman, Howard Owens , Gale Anne Hurd, Brett-Patrick Jenkins, Glen Morgan, Jon Halperin, Mark Mannucci, Phillip Kobylanski, Aaron Mahnke, Isabel San Vargas, Howie Young
Classificação indicativa: 16 anos

Leandro Stenlånd

Leandro não é jornalista, não é formado em nada disso, aliás em nada! Seu conhecimento é breve e de forma autodidata. Sim, é complicado entender essa forma abismal e nada formal de se viver. Talvez seja esse estilo BYRON de ser, sem ter medo de ser feliz da forma mais romântica possível! Ser libriano com ascendente em peixes não é nada fácil meus amigos! Nunca foi...nunca será!
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