CRÍTICA #2 | ‘Fragmentado’ é uma realização clássica de Shyamalan, com atuação camaleônica de McAvoy

Alyson Fonseca

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23 de março de 2017

O Transtorno Dissociativo de Identidade (TDI), é uma condição mental, originalmente, conhecida como Transtorno de Múltiplas Personalidades, também denominada popularmente como Dupla Personalidade. O indivíduo que apresenta o problema, demonstra características de duas ou mais personalidades ou identidades distintas, cada uma com a sua maneira, percepção e interação. Provavelmente causada por muitos fatores, incluindo trauma grave durante a primeira infância (abuso físico, sexual ou emocional geralmente extremo, repetitivo).

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O pressuposto é que ao menos, duas personalidades podem rotineiramente tomar o controle do comportamento do transtornado. O critério de diagnóstico também leva em consideração perdas de memória associadas, geralmente descritas como tempo perdido ou uma amnésia dissociativa aguda.

A condição não tem relação com a esquizofrenia, ao contrário do que acredita a maioria das pessoas. O termo “esquizofrenia” vem das raízes das palavras “mente dividida”, mas refere-se mais a uma fratura no funcionamento normal do cérebro do que da personalidade. Como diagnóstico, o transtorno continua controverso, com muitos psiquiatras argumentando que não há evidências empíricas que deem suporte ao diagnóstico. Por outro lado, alguns psiquiatras afirmam ter encontrado casos que parecem confirmar a existência da condição.

Na década de 1970, ao longo de duas semanas, três mulheres foram sequestradas, roubadas e violentadas próximo ao campus da Universidade Estadual de Ohio, nos Estados Unidos. O curioso foi que, enquanto uma vítima disse ter sido atacada por um homem com sotaque alemão, as outras duas argumentaram que o suspeito era uma pessoa bacana.

As investigações revelaram que os três crimes haviam sido cometidos por uma única pessoa. Um rapaz, de 22 anos chamado Billy Milligan. Na época, uma avaliação psiquiátrica apontou que Milligan, na verdade, tinha 24 personalidades diferentes e quando ele cometeu os crimes, duas delas estavam no controle, um iugoslavo e uma travesti. Com o diagnóstico em mãos, a defesa alegou que o rapaz não tinha cometido os crimes, mas suas personalidades. Foi o bastante para Milliigan se tornar o primeiro americano a ser absolvido em um processo por conta do Transtorno Dissociativo de Identidade.

Entretanto, o réu passou vários anos internado numa Clínica Psiquiátrica e só foi liberado após o resultado de um tratamento que o convenceu de que todas as suas personalidades haviam se fundido. Billy Milligan faleceu em 2014, aos 59 anos de idade e teve seu curioso caso transformado em livro. Em breve, sua história também ganhará as telonas, com Leonardo DiCaprio no papel do jovem de múltiplas personalidades.

Levemente baseado no livro The Minds of Billy Milligan, escrito por Daniel Keyes, o cineasta M. Night Shyamalan (A Visita), escreveu o roteiro e dirigiu o suspense / Thriller Fragmentado, que estreia nesta quinta-feira, 23 de março, em circuito nacional. Aqui, o próprio Shyamalan  faz uma ponta no filme.

No filme, embora Kevin (James McAvoy) tenha evidenciado 23 personalidades para sua psicóloga de confiança, Dr. Fletcher (Betty Buckley), ainda existe uma submergido que está programado para surgir e dominar todas as outras. Forçado a sequestrar três garotas lideradas pela teimosa e observadora Casey (Anya Taylor-Joy, de A Bruxa), Kevin se vê em uma guerra pela sobrevivência entre todos os outros dentro dele – e também entre os que estão em torno dele – enquanto as barreiras dentro dele se quebram.

O espectador não deve se prender a história real de Billy Milligan, no filme, Shyamalan não cria uma cinebiografia, apenas usou livremente o caso verdadeiro para construir seu próprio universo. Um sequestrador de múltiplas personalidades (McAvoy) aterroriza três mocinhas no subterrâneo. A primeira vista, não se sabe ao certo em que ambiente, na realidade, essa informação só será respondida no seu desfecho.

Durante sua exibição, o longa-metragem consegue prender a atenção do seu público. Vendido como um suspense psicológico, a produção está disposta a investigar este tipo de transtorno mental, que no universo científico ainda apresenta seu diagnóstico controverso. A dinâmica da vitimização dá certo, até certo ponto. Mas, todo esse bom desenvolvimento da doença, que ainda divide opiniões, cai por terra, em seu clímax, quando surge a velha técnica  hollywoodiana de fantasiar e exagerar o obvio.

Mas, além da competente direção e um bem desenvolvido roteiro, o filme conta com um elenco muito mais do que interessante e grandes atuações. Começando por James McAvoy (X-Men: Dias de um Futuro Esquecido), que encarna seu personagem com maestria, oferecendo de brinde, uma atuação camaleônica, na pele de um portador de múltiplas personalidades. Ao todo, são 24 personagens no corpo de um competente ator. Se alguém tinha dúvida do seu talento, aqui ela se encerra.

Mas, McAvoy não está só!  Ele faz uma atuação de igual para igual com a ótima Anya Taylor-Joy, que faz a personagem Casey Cooke, que junto com outras duas amigas Claire Benoit (Haley Lu Richardson) e Marcia (Jessica Sula) são sequestradas pelo personagem lunático.  Taylor-Joy é a mais ativa e divide o protagonismo com o sequestrador da sua personagem. As demais, funcionam bem como coadjuvantes, que servem como presas fáceis e frágeis para seu predador.

Betty Buckley, a Dr. Karen Fletcher, é a especialista que acompanha a vida do seu paciente e suas múltiplas identidades. Ela tem a missão de humanizar e defender os direitos dos que sofrem com o transtorno. Outra grande atuação. Juntos, esse grupo convencem e, somados, só fazem enriquecer a trama.

Não são apenas de talentos e atuações que o filme sobrevive. A equipe técnica, muitos dos seus membros, já acompanham o realizador a algum tempo, também tem suas qualidades. O diretor de fotografia Michael Gioulakis prova que tem vocação para revelar a agonia em espaços fechados, como em Fragmentado, assim quanto nos espaços ao ar livre de Corrente do Mal. Seus planos são tão certeiros, que podem provocar mal-estar nos claustrofóbicos.

Fragmentado apresenta a melhor atuação do ano até o momento. Além de ter todos os ingredientes para agradar os fãs do gênero e, principalmente, os fãs do seu diretor M. Night Shyamalan, que faz um ótimo retorno nesta imperdível produção. Com certeza, vale o ingresso e o combo.

TRAILER: 


FICHA TÉCNICA:
Titulo original: Split
Direção: M. Night Shyamalan
Elenco: James McAvoy, Anya Taylor-Joy, Betty Buckley, Haley Lu Richardson, Jessica Sula, Izzie Coffey, Brad William Henke
Distribuidora: Universal Pictures do Brasil
Data de estreia: 23/03/2017
País: Estados Unidos
Gênero: Terror, Suspense, Thriller
Ano de produção: 2016
Classificação: 14 anos

📷: Universal Studios

Alyson Fonseca

Crítico Cultural e Correspondente do Blah Cultural em Recife / Pernambuco.
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