CRÍTICA #2 | ‘Rogue One: Uma História Star Wars’ flerta com a classificação de obra-prima

Bruno Giacobbo

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20 de dezembro de 2016

Fazer um filme com todo um background por trás é algo bastante complicado. Qualquer continuação de uma obra de sucesso ou inspirada em um best-seller, por exemplo, chega aos cinemas com um grau enorme de cobrança e expectativa, pois os fãs são os cinéfilos mais exigentes e, algumas vezes, mais chatos que existem por aí. No entanto, um diretor não pode se preocupar apenas com esta parcela do público. E aqueles que anseiam por míseras duas horas de boa diversão? Se vocês nunca pensaram nisto, agora, devem estar se tocando como é ingrata a missão de um cineasta! O criativo J.J. Abrams, responsável por modernizar a franquia “Jornada das Estrelas”, foi amplamente bem sucedido ao rodar “Star Wars: O Despertar da Força” (2015). Ele fez um longa redondo, que dispensa muitas explicações para os expectadores leigos e que agradou quase todos os  jedis e siths. O mesmo não dá para dizer de Gareth Edwards, comandante da equipe que levou para as telonas Rogue One: Uma História Star Wars, uma vez que sua aventura intergalática é totalmente voltada para os iniciados na Força.

CRÍTICA | ‘Rogue One: Uma História Star Wars’, apesar de ser um spin-off, conseguirá conquistar os fãs

Situado cronologicamente entre “A Vingança do Sith” (2005, episódio III)  e “Uma Nova Esperança” (1977, episódio IV), o novo filme tanto pode ser considerado um sequel como um prequel. Nele, um grupo de espiões rebeldes se infiltra no seio de uma base do Império para roubar a planta da recém finalizada Estrela da Morte. Só que a trama começa, na verdade, muitos anos antes. Galen Erso (Mads Mikkelsen) é o cérebro encarregado da construção da sinistra máquina de destruição a serviço do mal. Por não concordar com o uso que será dado ao seu invento, ele fugiu e está morando com sua família em uma lua distante. Porém, por pouquíssimo tempo. Localizado e capturado pelas tropas imperiais sob o comando do diretor Orson Krennic (Ben Mendesohn), testemunha a morte da esposa, mas consegue esconder a filha Jyn Erso (Felicity Jones). Longe do pai, ainda criança, a menina será criada por Saw Gerrera (Forest Whitaker), um rebelde que utiliza de métodos próprios para desafiar a tirania reinante na galáxia.

Dividido em três atos, o filme demora a engrenar. Compreensivamente, todo o primeiro ato e parte do segundo são usados para apresentar os persongens principais e criar um laço sentimental com eles. Além de Jyn, na infância e, posteriormente, adulta, conhecemos Cassian Andor (Diego Luna), um capitão da Aliança Rebelde que desde os seis anos está envolvido na luta contra o Império, seu sarcástico escudeiro, K-2SO (Alan Tudyk), um dróide imperial reprogramado, o monge cego Chirrut Imwe (Donnie Yen), que acredita na Força mesmo não sendo um jedi, e o guerreiro do bem Baze Malbus (Jiang Wen). Juntos, eles formarão um grupo inusitado, o tal “Rogue One” que batiza a obra. Se os atos iniciais são arrastados, em compensação, o derradeiro é fantástico! Neste momento, o longa se transforma em uma história de guerra com batalhas extremamente bem orquestradas por Edwards e um desfecho apoteótico, apesar de capenga. Sim, vocês leram certo. Voltando à questão inicial deste texto, os fãs tenderão considerar o final satisfatório porque ele se liga ao Episódio IV. Já os não iniciados correm o risco de acharem este incompleto.  

Existem, ainda, outros prós e contras. Se o roteiro é falho na hora de contar uma história redondinha como a do Episódio VII e satisfazer a parcela leiga do público, aqui, a tecnologia é usada sem parcimônia para o deleite de todos. As cenas de luta no espaço, os planetas, os seres de raças diversas, tudo é maravilhoso!  E é somente por causa dela que dois dos personagens mais icônicos da trilogia original estão de volta, em um dos melhores easter eggs já feitos no cinema. Além deles, temos outros igualmente deliciosos. É, de fato, um fã service digníssimo. Dito isto, infelizmente, a escolha dos intérpretes principais foi equivocada. O mexicano Luna e a britânica Jones estão longe de serem carismáticos como os protagonistas anteriores. Jyn não honra o legado de Leia, Padmé e Rey, em grande parte, devido a atriz, pois ao longo do filme dá para perceber vislumbres de uma heroína de verdade e imaginar o que uma Natalie Portman ou uma Daisy Ridley fariam no seu lugar. Desta forma, os melhores personagens são o dróide, com o seu jeitão de Sheldon (The Big Bang Theory), e o inacreditável monge cego (esperem para vê-lo lutando contra stormtroopers).

Se levarmos em conta só o último ato, Rogue One: Uma História Star Wars flerta com a classificação de obra-prima. Um filme grandioso, ousado, muito bem dirigido, com uma aparição triunfante de Darth Vader, onde os dois personagens que mais cativam possuem seus momentos de destaque e que resolve um dos grandes furos da franquia: como uma arma tão poderosa como a Estrela da Morte poderia ter uma falha tão grotesca a ponto de ser destruída por um X-Wing? Contudo, ele não se resume a esta parte e fracassa ao não conseguir ser uma história que cative e agrade a todos os públicos. De resto, façam como o monge cego, tenham fé (A Força está comigo e eu estou unido a Força) e corram até o cinema mais próximo, já que, de um jeito ou de outro, esta é uma obra para ser vista na telona.

Desliguem os celulares e boa diversão.

TRAILER:

FICHA TÉCNICA:

Título original: Rogue One: A Star Wars Story
Direção: Gareth Edwards
Elenco: Felicity Jones, Riz Ahmed, Ben Mendelsohn
Distribuição: Disney
Data de estreia: qui, 15/12/16
País: Estados Unidos
Gênero: ficção científica
Ano de produção: 2015

Bruno Giacobbo

Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.
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