CRÍTICA | 2ª Temporada | Mais forte e apelativa, ’13 Reasons Why’ deve gerar ainda mais polêmica

Giovanna Landucci

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27 de maio de 2018

Não há como falar da segunda temporada de 13 Reasons Why sem mencionar a primeira e fazer paralelos e comparativos entre as duas, que estão interligadas por alguns acontecimentos em volta do suicídio de Hannah.

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*Esse texto contém SPOILERS da primeira temporada e alguns da segunda temporada. Então, se você não assistiu ainda, melhor aguardar para ler.

A segunda temporada abrange mais assuntos que somente o suicídio e dá continuidade a história abordando temas como:

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  1. Intervenção (em casos de uso de drogas, uso de armas de fogo, e auxilio e apoio com relação a estupro);
  2. Busca por justiça e redenção (os pais de Hannah acusam a escola e levam o caso ao tribunal e os amigos de Hannah buscam fazer justiça pelas próprias mãos);
  3. Recuperação (Clay não consegue superar a morte de Hannah, Jessica tenta continuar sua vida após saber do estupro, Alex volta do hospital e da recuperação psiquiátrica para casa);
  4. Cumplicidade e silêncio (por medo ou por amizade: o silêncio entre os “irmãos” do time por união, a pressão que eles exercem sobre os demais, uma ameaça que cada um dos amigos de Hannah e envolvidos nas fitas está recebendo para ficar quieto, o apoio de Chloe ao namorado, entre outras formas de demonstrar que estão acuados);
  5. Relacionamentos complicados;
  6. O papel dos adultos em situações como as representadas na trama.

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Em termos gerais, falando do ponto de vista técnico, 13 Reasons Why é uma serie “OK”, sem muitos recursos  de filmagem, a não ser uso de cores e filtros para diferenciar sentimentos e aspectos da trama, e os paralelos entre um assunto e outro também. No que tange à trilha sonora, mixagem de som e aspectos técnicos, não tem tanto apelo nem na primeira nem na segunda temporada, o que modifica nesse segundo ano são os aspectos de tensão da trama, que exigem uma mixagem de som melhor e chama um pouco mais de atenção do que na primeira temporada.

Há algumas pontas que não estão muito bem amarradas e as elipses iniciais do texto deixam no ar muitos aspectos que poderiam ser melhor trabalhados, como, por exemplo, a separação dos pais de Hannah, a nova amiga da mãe de Hannah, que está morando com ela em sua casa, a proximidade de Tony… tudo isso começa na segunda temporada como se já houvesse acontecido na primeira, como se já soubéssemos destes acontecimentos, o que não é verdade. E tudo ocorre de forma confusa logo no início.

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Algumas cenas, temas  e reações de personagens são bem clichês, outras bem previsíveis, mas tem umas bem impactantes ou inesperadas, além de difíceis de engolir de tão pesadas. Acredito que é abordado dessa forma porque provavelmente é como acaba acontecendo nas escolas. As cheerleaders defendem seus namorados, os bullyings cometidos não são comentados com pais ou orientadores dos colégios, os populares ou atletas cometem as covardias e ameaças, há porte de armas de pais e fácil acesso aos filhos, entre outros que, possivelmente, para compor um roteiro, foram minuciosamente estudados para se tornar temática da segunda temporada.

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No primeiro ano, vemos a atriz que faz Hannah com uma excelente performance. Já aqui, temos a revelação de atores que, com seus conflitos internos, com relação a tudo que aconteceu, afloraram e cresceram em termos de atuação. Percebemos então que, nessa nova temporada, a direção é bem melhor colocada e o roteiro é mais complexo.

Vou citar alguns personagens e o principal destaque de cada um deles: temos um Bryce, com um olhar que, muitas vezes, impressiona e dá medo; uma Jessica, que lida com sua dor de forma impressionante; Clay, que, de simples espectador de uma historia traumática, passa a ser quem liga todos os amigos na busca pela justiça e redenção, e que, conversando consigo mesmo ou com o “fantasma” de Hannah em seus momentos de raiva, demonstra melhor desempenho; Justin com problema de drogas está em recuperação e mostra que estudou bastante para compor seu personagem; Alex, que volta da internação por ter cometido suicídio, com seus conflitos internos e angústias, passa de um ator passivo mediano na primeira temporada para alguém mais confiante; além de Tyler, que tem uma cena muito forte no último capítulo.

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A primeira temporada de 13 Reasons Why tem como pontos positivos os paralelos criados entre passado e presente, e a presença de Hannah constante por Clay estar ouvindo suas fitas, onde ele tenta construir os acontecimentos como um quebra-cabeças em sua própria mente. Junto a tudo isso, um de nossos protagonistas ainda faz paralelos com as partes em que conhece da história e Hannah é narradora-personagem. Então, isso tudo coloca os dois como personagens principais: um fazendo papel de herói e outro de anti-herói , um sendo protagonista e o outro o antagonista.

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Já em seu segundo ano, não conseguimos encontrar um único personagem principal, pois são diversos conflitos acontecendo ao mesmo tempo e envolvendo o suicídio de Hannah, que esse acaba não sendo mais o centro da história. Agora na voz de Jessica, a história é narrada não somente pela ótica de duas pessoas, como na temporada inicial, mas sim, todos os personagens vão compondo com suas visões as cenas, já que todos eles são intimados a depor no julgamento.


 

Com muitas cenas de vômito pelo uso de drogas, com mais cenas de sexo e estupro, agora, Clay acredita ser o grande salvador. Mesmo sabendo que nada trará Hannah de volta, ele tenta resgatar e salvar a memória dela e todos os personagens envolvidos na fita começam a, junto com ele, fazer esse trabalho de “salvação própria’ e de rendição, como uma forma de pedido de desculpas ou retratação por não estarem presentes e serem palco para a decisão de Hannah.

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O capitulo seis é o melhor, pois é o mais humano e sensível de todos. Demonstra sentimentos pela ótica de um dos “amigos” de Hannah. Durante o julgamento, como já disse anteriormente, coisas estão sendo reveladas que não estavam nas fitas, pois Hannah, quando as gravou, pensou na ótica de quem as ouviria, pois era destinada somente aos envolvidos e não tinha detalhes de acontecimentos, pois era parte do “jogo” que ela elaborou instigar cada um a refletir e relembrar sobre o que os fez cometer cada um dos “erros” que ela julga ser motivos para tirar sua própria vida.

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A culpa que cada um sente ou não sobre os acontecimentos na escola Liberty é demonstrada através das lembranças que cada um carrega e se vê relembrando. Os alunos estão recebendo ameaças em suas casas e em seus armários na escola, algo que fala pra se manterem calados e “ficarem na sua”. Bryce, que se demonstra um cara insensível com relação a tudo isso e um completo maníaco, narcisista e egocêntrico, deturpou as histórias de estupro a seu favor, mas conseguimos entender o que realmente aconteceu. Esta é mais uma cena em que as cores são usadas para mostrar o que é real e o que é projeção do personagem.

Na segunda temporada, Clay é mais claramente o personagem principal, pois a trama já não é mais tão focada no suicídio de Hannah e um dos pontos fortes são seus devaneios, onde ele enxerga Hannah como se estivesse viva e conversa com ela, ou talvez como se enxergasse seu fantasma, e nisso eles discutem assuntos de como ele vai conseguir ajudá-la, pois ele está quase que obcecado com isso.Nestas cenas, as cores azuladas e frias dão um ar melodramático e quase sombrio. Em comparação à primeira temporada, que também faz uso de cores para demonstrar a diferença entre passado e presente, aqui, os tons são pasteis, como um sol de outono ou uma boa lembrança, assim como uma fotografia que carrega filtros.

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Se você achou o episódio em que Hannah comete suicídio pesado e difícil de assistir pela veracidade como foi filmado, não assista ao ultimo episódio, pois este está ainda mais cruel e forte. Com relação à primeira temporada, o titulo 13 Reasons Why remete a se ter motivos para quitar a sua própria vida. Essa é a maior crítica feita à serie por muitas pessoas que pensam que faz culto ao suicídio e apontam como uma solução plausível.  Já no segundo ano, como há o julgamento, a advogada de defesa da escola Liberty tenta a todo custo demonstrar que Hannah era uma garota problemática e que ela é a principal causadora de seu suicídio, que a escola, ou seus colegas não teriam nenhuma responsabilidade sobre o ato. Os autores dizem que tentaram retratar a realidade de como as coisas acontecem e não como gostariam que acontecesse.

A segunda temporada é muito apelativa e forte. Tem uso de armas, drogas, violência sexual e, muitas vezes, alguns temas abordados ou forma como foram retratados, fogem um pouco da linha do primeiro ano, dando um contexto bem mais ousado e, muitas vezes, grotesco para determinados assuntos. A abordagem permeia a redenção, a segunda chance, a possibilidade não de voltar atrás, mas de se redimir de algo que se fez no passado.

::: TRAILER

https://youtu.be/9ZaS5y2ZMzc

::: FOTOS

*FOTOS: Netflix/Divulgação

::: FICHA TÉCNICA

Título original: 13 Reasons Why
Temporada:
Criação: Brian Yorkey
Elenco: Dylan Minnette, Katherine Langford, Kate Walsh, Derek Luke, Brian d’Arcy James, Alisha Boe, Christian Navarro
Gênero: Drama
Ano: 2018
País: Estados Unidos
Classificação indicativa: 16 anos

Giovanna Landucci

Publicitaria de formação, sempre gostei de escrever. Apaixonada por filmes e séries, sim, posso ser considerada seriemaníaca, pois o que eu mais gosto de fazer é maratonar! Sou geek principalmente quando falamos de Marvel e DC. Ariana incontestável, acho que essa citação de Clarice Lispector me define "Sou como você me vê. Posso ser leve como uma brisa, ou forte como uma ventania. Depende de quando e como você me vê passar." Ah, como é de se notar pela citação, gosto de livros e poesia também.
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