CRÍTICA | Com narrativa burocrática, ‘7 Dias em Entebbe’ deixa o debate para fora da sala de projeção

Wilson Spiler

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17 de abril de 2018

Para aqueles que não eram nascidos ou não se lembram do ocorrido, 7 Dias em Entebbe é sobre o sequestro do voo da Air France, que saía de Tel-Aviv com destino à Paris. No voo com aproximadamente 250 pessoas, das mais diversas nacionalidades e etnias, são tomadas como reféns por guerrilheiros da Frente Popular para Libertação da Palestina. A ideia de fazer um filme com esse tema não é novidade e essa versão do diretor brasileiro José Padilha é a quarta a ir aos cinemas: as duas primeiras foram no mesmo ano logo após o incidente com “Vitória em Entebbe” (1976) e “Resgate Fantástico” (1976), e a terceira versão logo no ano seguinte, sendo, inclusive, indicada ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, “Operação Thunderbolt” (1977), dirigido por Menahem Golan.

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7 Dias em Entebbe é a segunda aposta de José Padilha em Hollywood (a primeira foi o remake de “Robocop” em 2014) e resolveu tratar a questão de forma mais politicamente correta, tentando mostrar todos os pontos de vista possíveis: dos sequestradores, dos pensadores por trás da operação, da equipe de bordo, dos passageiros, da opinião pública e, claro, dos governos envolvidos. Cansou? É, às vezes temos a sensação de que o filme está arrastado pois são muitas justificativas para tentar dar razão ou reprovar o ato, mas, acredite, é só impressão. O casal foco do longa, Wilfried Böse (Daniel Brühl) e Brigitte Kuhlmann (Rosamund Pike), parecem ser os mais perdidos no meio de toda essa confusão, pois são alemães que estão ajudando uma causa palestina contra os judeus. Isso é até motivo de surpresa para um dos palestinos envolvidos no sequestro, dizendo que são “burgueses combatendo a burguesia”.

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A produção é como se fosse uma grande Torre de Babel mostrando umas dez nacionalidades e línguas para que o espectador nunca se esqueça da complexidade que envolve um conflito como esse, mas sem deixar de humanizar cada um deles de alguma forma. Por exemplo: em um determinado trecho, os palestinos separam os judeus do resto do grupo fazendo com que os colaboradores alemães relembrem os horrores do holocausto e começam a analisar se o que estão fazendo é realmente certo. Em uma determinada sequência, Böse, ao apontar a arma para uma senhora judia, repara um número tatuado em seu braço feito no campo de concentração e claramente se sente mal com a situação.

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São mostrados vários conflitos nas várias esferas de poder e organização, mas de forma superficial, com tempos quase que iguais e tudo politicamente correto, como manda o figurino. Talvez esse seja o maior pecado de José Padilha . Um tema polêmico com uma narrativa burocrática, meio que com medo de errar na apresentação de algum fato. Os momentos de tensão ficam por conta da contagem dos dias que vão passando até chegar ao fatídico sétimo dia de negociação. Os bastidores da política de Israel, que fica na corda banda de aceitar ou não as exigências e uma apresentação de dança contemporânea que, de tempos em tempos, aparece e que marca o fim e o início de uma narrativa.

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Entre mortos e feridos, fica a vontade de querer ter visto algo mais desafiador com alguma posição mais clara. Ao invés de discutir sobre o tema, temos a exposição de todos os lados e deixando para o espectador a discussão para fora da sala de projeção. Ficam como pontos positivos as imagens e relatos de época ao final da projeção e os nomes que ainda hoje estão no cenário mundial à frente do conflito, mas que, na época, eram coadjuvantes, cada um na sua função, seja político ou soldado. No mais, 7 Dias em Entebbe apenas nos faz pensar que, mesmo depois de mais de 40 anos, a paz entre palestinos e judeus parece estar longe de acontecer.

::: TRAILER

::: FOTOS

::: FICHA TÉCNICA

Título original: Entebbe
Direção: José Padilha
Elenco: Daniel Brühl, Rosamund Pike, Eddie Marsan
Distribuição: Diamond Films
Data de estreia: qui, 19/04/18
País: Reino Unido, Estados Unidos
Gênero: guerra
Ano de produção: 2017
Classificação: 12 anos

Wilson Spiler

Will, para os íntimos, é jornalista, fotógrafo (ou ao menos pensa que é) e brinca na seara do marketing. Diz que toca guitarra, mas sabe mesmo é levar um Legião Urbana no violão. Gosta de filmes “cult”, mas não dispensa um bom blockbuster de super-heróis. Finge que não é nerd.. só finge… Resumindo: um charlatão.
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