CRÍTICA | Novo ‘A Bela e A Fera’ mantém a magia da animação original

Bruno Giacobbo

|

16 de março de 2017

Inicialmente, pode parecer falta de criatividade, mas há uma lógica por trás desta tendência da Disney em transformar suas clássicas animações de princesas em live action: conquistar um novo público repleto de fãs dispostos a consumir uma série de produtos. A primeira refilmagem, “Cinderela”, em 2015, foi de um desenho do ano de 1950. Um filme antigo que a atual geração de cinéfilos só teve a oportunidade de assistir na televisão, logo, sem desfrutar da experiência da tela grande. Apesar de ter dividido a crítica, a bilheteria lucrativa estimulou o estúdio a continuar trilhando este caminho. E foi aí que eles verdadeiramente ousaram. A Bela e A Fera (Beauty and the Beast) é, relativamente, bem mais recente, de 1991. Além disto, fez bastante sucesso na época. Venceu o Globo de Ouro de comédia ou musical; foi indicado ao Oscar de melhor filme e levou os prêmios de trilha sonora e canção original. Um belíssimo feito. Assim, refilmar uma obra que ainda está no imaginário de muitas pessoas seria arriscado. Contudo, valeu a pena, pois o resultado é lindíssimo e seus produtores, provavelmente, serão recompensados com os tais novos fãs e uma bilheteira volumosa.

Não há muito o que falar da sinopse. Ela é exatamente a mesma do longa original. Bela (Emma Watson) vive com o seu pai, Maurice (Kevin Kline), na pequena vila de Villeneuve, no interior da França. Apesar de ser cortejada constantemente por Gaston (Luke Evans), um caçador que é o melhor partido do lugar, ela não quer saber dele. Estimulada pelos livros que pega na igreja, sonha com uma vida melhor, longe dali, onde talvez encontre um homem que seja a sua cara. Um dia, porém, seu caminho cruzará com o de um príncipe (Dan Stevens) que, por culpa do seu egoísmo latente, foi amaldiçoado, por uma feiticeira, a viver como uma fera até que alguma mulher se apaixone por ele. Além desta não ser uma missão das mais fáceis, devido à sua aparência bestial, o nobre terá que se apressar, já que está paixão só será válida antes que a última pétala de uma rosa encantada caia.

Como toda adaptação, seja ela de um livro ou de um filme anterior, como ocorre aqui, existem diferenças pontuais e entender estas é fundamental para que os fãs da obra pregressa não se decepcionem ou, como andei lendo por aí, tenham sua infância estragada. Apesar de conservar a mesma trama e de ser também um musical, o longa, dirigido por Bill Condon com roteiro de Evan Spiliotopoulos e Stephen Chbosky, incluiu cenas que não existiam anteriormente. Uma destas, por exemplo, mostra o que aconteceu com a mãe de Bela. E ela não é a única a ter fatos do seu passado revelados. A Fera também tem. Passagens como estas, além de não mexerem nada na estrutura clássica da história e de não alterarem o seu desfecho irremediavelmente feliz e emocionante, conferem um aprofundamento maior aos protagonistas, algo que, em um filme live action, não é só desejável como é recomendável no intuito de atrair fãs adultos.

E a magia é a mesma? Esta é uma pergunta que deve estar ressoando na cabeça de muita gente doida para se reapaixonar por este conto de fadas. E a resposta é sim. Um grande SIM. Salvo algum engano de minha parte, com o acréscimo de apenas uma única música, a trilha sonora é igual a original e vai fazer o público deixar as salas de cinema querendo dançar e rodopiar pelas escadas do shopping. Aconteceu comigo e a minha namorada. Os outros críticos poderão atestar que estamos perfeitamente sãos, pois eles também foram acometidos por este sentimento. E, aqui, em uma vantagem inegável se compararmos o filme com a animação, os acordes são reverberados por uma fotografia majestosa, uma direção de arte caprichada, belos figurinos e interpretações vocais competentes de todos os seus atores.

Em uma das muitas fofocas de bastidores deste início de 2017, foi dito que Emma Watson estaria enchendo a paciência do seu empresário por não ter ficado com o papel de Mia, a personagem principal de “La La Land: Cantando Estações” (para quem não sabe, ela era a primeira escolha do diretor Damien Chazelle). A chateação é justa, já que, hoje, poderia ser a dona de um reluzente Oscar. No entanto, ainda bem jovem, precisa olhar para frente e ser feliz. Seu desempenho como Bela é encantador. Ela não só ficou a cara da mocinha como mostrou boa desenvoltura cantando. Claro, a atriz não tem o dom para seguir uma carreira de cantora, mas não é isto que os musicais modernos pedem. Uma boa protagonista tem que ter afinação, atuar bem e ser carismática. Watson é tudo isto e um pouco mais. Falando em atores, não dá para deixar de destacar Ewan McGregor, Ian McKellen e Emma Thompson. Eles vivem o castiçal Lumiére, o relógio Cogsworth e o bule de chá Madame Samovar. Todos nostalgicamente divertidos.

Em tempos de discussões acaloradas onde há uma demanda cada vez maior por papéis femininos fortes e por personagens que reflitam a inclusão de grupos que, normalmente, possuem pouca representação nas grandes produções, A Bela e A Fera contempla estes anseios com sucesso. Temos aqui uma princesa diferente. Distintamente de seus pares, ela lê, não tem um comportamento que possa ser classificado como fútil e casar não é a sua prioridade máxima. E se não bastasse tudo isto, Bela herdou a engenhosidade do pai.  Já LeFou, o atrapalhado ajudante de Gaston, que eu ainda não havia citado, em uma interpretação nada caricata de Josh Gad, é homossexual. Antes que alguém reclame que ele é um dos vilões, calma, vejam o filme primeiro e discutam depois. Até porque, garanto que, após deixarem a sessão, vocês terão coisas muito melhores para discutir.

Desliguem os celulares e excelente diversão.

CONFIRA TAMBÉM A CRÍTICA EM VÍDEO, PRODUZIDA POR EVERTON DUARTE:

TRAILER:


GALERIA DE FOTOS:


FICHA TÉCNICA:
Título original: Beauty and the Beast
Direção: Bill Condon
Elenco: Emma Watson, Luke Evans, Dan Stevens
3D
Distribuição: Disney
Data de estreia: qui, 16/03/17
País: Estados Unidos
Gênero: romance
Ano de produção: 2015
Classificação: 10 anos

Bruno Giacobbo

Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.
O que sabemos sobre Wicked Boa noite Punpun Ao Seu Lado Minha Culpa Lift: Roubo nas Alturas Patos Onde Assistir o filme Lamborghini Morgan Freeman