CRÍTICA | ‘A Múmia’ deve agradar apenas aos fãs do “cinema pipoca”

Bruno Giacobbo

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8 de junho de 2017

Imhotep. Este era o nome do vilão dos filmes protagonizados por Brendan Fraser em uma época tão distante, quase duas décadas atrás, que chega a ser impensável imaginar que, um dia, ele foi considerado para o papel de Indiana Jones. Assim mesmo, quando ouço a palavra múmia relacionada a uma obra cinematográfica, é neles, Imotep e Fraser, que eu imediatamente penso. Dito isto, quando tomei conhecimento que o astro Tom Cruise estrelaria um longa-metragem sobre o monstro egípcio, a minha reação foi de espanto verdadeiro. Mais surpreso ainda fiquei ao saber que este era só o pontapé inicial do “Dark Universe”. Sacam os filmes da Marvel? Tudo interligado, com aparições pontuais de um herói na história do outro? Então, a Universal vai fazer o mesmo com os monstros. Apenas o tempo poderá dizer se funcionará, logo, por hora, só me resta destrinchar esta primeira aventura.  

Segundo trabalho como diretor de Alex Kurtzman, A Múmia (The Mummy) conta a história de Ahmanet (Sofia Boutella), uma princesa egípcia destinada a suceder seu pai como faraó, mas que, de uma hora para outra, perde este privilégio com o nascimento do irmão caçula, filho do segundo casamento do monarca. Enfurecida, ela faz um pacto com Set, o deus do caos e da morte, para se vingar. Claro que tudo dá errado e sua vingança é adiada por alguns milênios. Muito tempo depois, já nos nossos dias, encontramos Nick Morton (Tom Cruise), um militar do exército americano que se aproveita da sua patente e de missões pelo Oriente Médio para roubar antiguidades. Ele conta com a ajuda do sargento Chris Vail (Jake Johnson). Em uma destas empreitadas, ao surrupiar um mapa da arqueóloga Jenny Halsey (Annabelle Walls), a dupla vai acabar, frente a frente, com o mausoléu perdido da vingativa princesa.

Das areias do deserto, às ruas de Londres, passando pelos campos no entorno da capital britânica, nossos heróis (não tão heróicos assim) terão que descobrir uma maneira de derrotar a múmia e impedir que ela destrua o nosso mundo. Esta trama não soa familiar para vocês? Com certeza. Assim como na trilogia estrelada por Fraser, depois de soltar, sem querer, um grande mal, eles terão que dar um jeito de arrumar a bagunça. Só que, desta vez, o enredo é ainda mais mirabolante e existem outros elementos que parecem dignos de um autêntico samba do egípcio maluco. Lá pelas tantas, invocados por Ahmanet, entram em cena cavaleiros templários (sim, vocês leram certo). E se a vilã conta com tão prestimosa ajuda, a turma do bem não fica atrás. Ao lado deles, um certo doutor Henry Jekyll (Russell Crowe), o próprio, o personagem do romance de sucesso de Robert Louis Stevenson.

Com o intuito de atuar como uma espécie de Nick Fury (Samuel L. Jackson) do “Dark Universe”, o homem que reuniu os Vingadores, os roteiristas trouxeram Jekyll para o presente e o colocaram como líder de uma organização secreta que ambiciona combater o mal representado por qualquer tipo de monstro. A ideia até que era boa, porém não funcionou tão bem. E o problema não foi atualizar um ícone da literatura, como alguns fãs reclamarão, mas o excesso de informação. O tal do samba do egípcio maluco, que citei lá em cima parodiando Stanislaw Ponte Preta. No meio do filme, o espectador menos afeito aos detalhes corre o risco de se perder e não saber mais quem é quem direito. Ou o porquê deles estearem fazendo tal coisa. Sobram nomes, ideias mal utilizadas e falta profundidade a Nick, Chris, Jenny e companhia. Eu não consegui me identificar com eles. Não comprei o seu barulho.

Para não dizer que o novo A Múmia é um fracasso, sou obrigado a admitir que o longa deve agradar aos fãs do chamado cinema pipoca e que têm como único objetivo se divertir sem compromisso. As diversas cenas de ação são boas, os efeitos especiais também e o 3D funciona bem. Desta forma, a adrenalina está garantida, ainda que, provavelmente, três horas depois vocês já tenham esquecido quase tudo o que viram. Uma dica para potencializar todos os pontos positivos da película, caso você more no Rio de Janeiro, é ir a nova sala 4DX, do UCI New York City Center. Com cadeiras que se movem para todas as direções, esguichos d’água, vento, fumaça e odores variados, tudo seguindo o que acontece na telona, o público se sentirá dentro do filme, com a vantagem, claro, de não ter a múmia no seu encalço.

Desliguem os celulares e boa diversão.

TRAILER:

FOTOS:

FICHA TÉCNICA:

Título original: The Mummy
Direção: Alex Kurtzman
Elenco: Sofia Boutella, Tom Cruise, Russell Crowe, Jake Johnson e Annabelle Walls
Distribuição: Universal
Data de estreia: qui, 08/06/17
País: Estados Unidos
Gênero: ação
Ano de produção: 2016
Duração: 107 minutos
Classificação: 12 anos

Bruno Giacobbo

Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.
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