CRÍTICA | ‘A Noiva’ parte de uma boa premissa, mas no fim decepciona

Bruno Giacobbo

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30 de outubro de 2017

O ponto de partida deste filme é o mesmo do excelente “Os Outros”, de 2001, com direção do chileno Alejandro Amenábar e estrelado pela atriz Nicole Kidman: o estranhíssimo hábito que as pessoas tinham, no século XIX, de fotografar seus parentes mortos como se estivessem vivos. Segundo reza a tradição, esta era uma forma de trazer o ente querido de volta à vida, imortalizá-lo e diminuir a dor do luto. Como a fotografia era algo caríssimo naquela época, esta, muitas vezes, era também a única oportunidade de ter uma foto com a família toda reunida. Só que os desdobramentos da película A Noiva (Nevesta), produção russa escrita e dirigida por Svyatoslav Podgayevsky e que já tem um remake hollywoodiano assegurado pela produtora Lionsgate, são diferentes e o resultado final um pouco decepcionante.

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Com um viés mais místico e sobrenatural, o longa-metragem começa com uma narração em off explicando que um alquimista russo foi ridicularizado pela comunidade científica internacional por acreditar que, ao serem fotografados, os mortos tinham suas almas aprisionadas pelos negativos. Desta forma, eles eram impedidos de fazerem a passagem e ficavam por aqui. Desesperado com o falecimento da esposa (Miroslava Karpovich), um fotografo profissional (Igor Khripunov) decide ir além e realizar uma experiência macabra: transferir a alma da amada para o corpo de uma bela virgem. Para isto, ele pega o anel de noivado, coloca no dedo da moça e a trancafia em um caixão. O ritual, que em momento algum nos é explicado, funciona. No entanto, o que surge dele nada se parece com a falecida.

A história dá um pulo e, muitos anos depois, provavelmente um século, encontramos a jovem universitária Nastya (Victoria Agalakova), que está prestes a se casar com Vanya (Vyacheslav Chepurchenko). Consumado o enlace em um cartório de Moscou, eles viajam para o interior com o objetivo de visitar a família dele. E é aí que o passado e o presente se encontram. Como fica claro desde a primeira tomada, o casarão dos familiares do noivo é o mesmo do fotografo desesperado e, pela aparência, a impressão é de que ali o tempo não passou. O lugar exala velhice de tão mal conservado e desprovido de qualquer sinal de que estamos em 2017. Por sua vez, a irmã de Vanya, Liza (Aleksandra Rebenok), veste-se como se ainda vivesse na época das tais fotografias post-mortem. Tudo é bastante estranho.

Com um orçamento relativamente pequeno (US$ 1,163,855) até para os filmes de suspense e de terror independentes (“A Bruxa”, “Corra!” e “Fragmentado” custaram três, quatro e nove vezes mais), a melhor coisa de A Noiva é a construção de clima. Tirando as pouquíssimas cenas de uma Nastya feliz, estas, claras e ao som de músicas que não casam com o restante da trilha, todas as demais são soturnas, graças ao céu sempre nublado e a fotografia que priorizou uma paleta de cores que utiliza o cinza, o marrom, o azul-marinho e o preto. O trabalho de direção de arte, tanto na composição do interior do casarão, quanto nos detalhes do entorno da propriedade, também é fundamental, uma vez que os efeitos especiais deixam a desejar. Neste último aspecto, o longa chega a ser tosco, parecendo-se assim com um autêntico “Filme B”.

Outros aspectos que decepcionam são o roteiro e as interpretações. O texto é levemente confuso. Confesso que demorei a entender o que o fotógrafo desesperado fez para tentar trazer a amada de volta. Ele apenas colocou o anel no dedo dela e a enterrou? Fiquei pensando alguns minutos e conclui que sim. Logo, peca-se na hora de explicar o que está por trás da maldição envolvendo essa família. O público não precisa receber tudo mastigado. Contudo, este fato foi jogado de qualquer maneira. Faltou, ainda, capricho com os detalhes, como em uma cena com fogo que termina de forma inacreditável. Em relação as atuações, todas são bastante amadoras, inclusive, a do casal protagonista. Para piorar, ver um filme russo (mal) dublado em inglês não ajudou em nada. Vamos torcer para que o remake seja melhor.

Desliguem os celulares e boa diversão.

::: TRAILER

::: FOTOS

::: FICHA TÉCNICA

Título original: Nevesta
Direção: Svyatoslav Podgayevskiy
Elenco: Vyacheslav Chepurchenko, Aleksandra Rebenok, Igor Khripunov
Distribuição: Paris
Data de estreia: qui, 02/11/17
País: Rússia
Gênero: terror
Ano de produção: 2017
Duração: 93 minutos
Classificação: a definir

Bruno Giacobbo

Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.
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