A Serpente

CRÍTICA | ‘A Serpente’

Karinna Adad

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2 de agosto de 2019

O sociólogo alemão Georg Simmel, em sua obra “A Tríade”, discorre sobre as formações sociais possíveis, sendo elas a unidade, a díade e a tríade. De acordo com ele, o grupo formado por dois elementos tende à unidade, na medida em que vai havendo uma tal afinidade que a tendência é o dois transforma-se em um. Por outro lado, esse conjunto de dois pode viver em constante conflito e acabar separando-se. O terceiro elemento, portanto, entra para que os demais se mantenham unidos, porém individualizados. Simmel ainda afirma que enquanto a díade tende à instabilidade, a tríade leva à estabilidade.

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A trama

Isso pode não fazer sentido diante do que acontece entre o triângulo amoroso formado por Lígia (Lucélia Santos), Guida (Lucélia Santos) e Paulo (Matheus Nachtergaele) em A Serpente. Casado com Guida e mantendo uma relação extraconjugal com sua cunhada Lígia, Paulo vê-se atordoado e manipulado pelas irmãs, que nutrem sentimentos tão distintos quanto um tipo de arranjo amoroso desse tipo permite.

Guida é a esposa traída, contudo apaixonada. Absorvida pela dúvida de ter ou não seu amor correspondido, ela começa a nutrir um ódio cego pela irmã. Lígia, por outro lado, parece estar na situação de quem não tem nada a perder. Seu marido impotente (Sílvio Restiffe) agora é ex por não ter dado conta de suprir os anseios carnais da esposa. Paulo é o típico marido rodriguiano que não controla a tentação de se envolver com outra mulher e por ela cometer um ato condenável.

A Serpente (1)

Fidelidade

O filme A Serpente, inspirado numa das poucas peças escritas por Nelson Rodrigues, procura ser fiel à dramaticidade exigida pelo teatro. Acertadamente filmado em preto e branco, somos levados a nos concentrar nas expressões faciais e corporais dos atores e esquecer os detalhes, que não são muitos. A ausência de colorido também acentua a tragédia que se abate na vida desse harmonioso grupo de três. Nele, o amor se transforma em desejo, inveja, anseio, ódio e, por fim, morte.

Lígia, confirmando o que Simmel tinha escrito, é o terceiro elemento que entra de forma indesejável na vida de um casal que não pretendia se tornar um. Por isso, a relação de Paulo e Guida é tão irreversivelmente conturbada com a chegada da irmã. No tipo de arranjo em que a díade não está em harmonia, o terceiro desestabiliza e gera rupturas mais ou menos trágicas. Contudo, não cabe julgar com rigor diferenciado um ou outro, pois a serpente que adentrou o paraíso de Adão e Eva só levou à derrocada do casal porque este permitiu a sua entrada.

::: TRAILER

::: FICHA TÉCNICA

Título original: A Serpente
Direção: Jura Capela
Elenco: Lucélia Santos, Matheus Nachtergaele, Sílvio Restiffe
Distribuição: Dist. própria
Data de estreia: qui, 25/07/19
País: Brasil
Gênero: drama
Ano de produção: 2019
Duração: 73 minutos

Karinna Adad

Tranquila, mas multitarefada. Sou daquele tipo de pessoa que sempre está fazendo alguma coisa e descobrindo outras tantas pelo caminho. Topo qualquer parada desde que tenha prazer nela e uma das que por mais tempo vem me enchendo de alegria é a escrita. E como boa leitora consigo escrever sobre quase qualquer coisa, por mais que, como uma cientista social em formação, não consiga deixar de fazer agir meu raio problematizador nos meus textos.
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