CRÍTICA #1 | ‘A Torre Negra’ pode desapontar pela superficialidade do roteiro

Claudio Dorigatti

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24 de agosto de 2017

Baseado na série de livros de Stephen King de mesmo nome, A Torre Negra conta a história da luta do bem contra o mal na missão de defender a Torre no centro de um universo que com sua energia protege inúmeros planetas (inclusive o nosso) do controle das criaturas do inferno.

CRÍTICA #2 | ‘A Torre Negra’ pode até não estar no nível do livro, mas consegue capturar o grande público

A defesa dessa Torre mística e tecnológica (até certo ponto) é feita por uma legião de pistoleiros, que dedicam suas vidas a essa missão e são idolatrados pelo heroísmo. Contudo, no tempo em que passa no filme, resta apenas um pistoleiro vivo.

O grande mal está mais próximo do que nunca de seu objetivo, que pode ser alcançado se utilizando das habilidades e poderes de crianças especiais em um equipamento que mistura magia e tecnologia para extrair suas energias e atacar a Torre. O último pistoleiro tem o grande fardo de defender a Torre e a criança do Homem de Preto, o grande vilão demoníaco, e não sucumbir à vingança.

Nessas poucas linhas, foi possível sintetizar os personagens talvez mais do que o filme consegue em quase toda sua extensão. Infelizmente, culpa da grande “pirotecnia clipada” em que a maioria dos filmes se tornou hoje em dia. Explicando melhor esse conceito, hoje se faz o uso demasiado de muitas e muitas cenas rápidas, carregadas de efeitos visuais com ideias absurdamente criativas feitas mais para surpreender aos olhos do que para enriquecer ou complementar a narrativa. No fim você percebe que como história o filme se torna um curta metragem ou um vídeo clip, porque “a quantidade de história” contida (isso é descrito como narrativa, desenvolvimento dos personagens, criação do universo da história…) é pequena diante de tantas cenas que não contam muita coisa só com as imagens rápidas carregadas de efeitos.

Há quem diga que é uma “nova linguagem visual para o novo público que na maioria tem déficit de atenção” e não consegue prestar atenção em uma historia se a cada 30 segundos nada explodir ou se as cenas durarem mais do que os 30 segundos. Infelizmente parece mesmo que os diretores acreditam nisso.

Os livros de Stephen King criam um universo completo para A Torre Negra, desenvolve e explica cada um de seus personagens em sete volumes, uma obra que levou trinta anos para ser concluída. O diretor do filme Nikolaj Arcel tentou levar quase que todo esse conteúdo sem grandes alterações para o longa. O resultado é complicado e enxuga demasiadamente a história dos personagens ao ponto do espectador que não leu os livros só entender basicamente a descrição que fiz no início desse texto.

O visual da película mistura um certo misticismo, magia e tecnologia em um universo boa parte do tempo mais sombrio. Essa mistura não é inusitada, mas é interessante. Talvez ficasse melhor com a adoção de uma simples frase (ou algo assim)  como a usada nos filmes da Marvel pelos asgardianos: “O que pra vocês é magia, pra nós é ciência”.

Da mesma forma pouco explicada é o legado dos Pistoleiros e seus poderes, em especial o Pistoleiro Roland Deschain (Idris Elba) e os motivos de sua sede de vingança. Infelizmente, além de quase o tempo todo em cenas de lutas e tiros, se tornam até repetitivas e desnecessárias a forma como o pistoleiro recarrega seu revolver, que pela redundância encanta mesmo as crianças que não estão preocupadas com a história. Jake Chambers (Tom Taylor) acaba sendo mais uma criança que passa o tempo todo com medo, perturbada e fugindo do que um ser humano com poderes especiais e que fica deslumbrado com a existência de outros mundos, criatura e a revelação de tantos poderes, talvez resultado da direção que preferiu mais encher o filme com muita ação. O personagem que se desenvolve bem é o Homem de Preto, o vilão Walter Padick (Matthew McConaughey), que apesar de também não ter sua história melhor contada, é salvo pela interpretação do ator, que impõe uma figura humana, sombria e repugnante sem ser uma criatura monstruosa.

Como é um filme com muitas (e demasiadas) cenas de ação para sua proposta, a pirotecnia sonora acompanha as imagens com sons estranhos para objetos muito comuns. Os efeitos visuais são bem realizados, nada muito inovador, mas são bem trabalhados, como em toda grande produção atual, mas grandes primazias técnicas.

Poderia ser um filme para uma sequência, dada a obra de onde foi adaptada, contudo o diretor Nikolaj Arcel (que também é um dos roteiristas) se preocupou em trazer muitos elementos dos livros (que ao todo são sete volumes) para um único filme pirotécnico e que, portanto não houve tempo e espaço para contar bem a história, nem dos personagens, muito menos do universo onde tudo se passa.

A Torre Negra pode agradar quem goste de muitas cenas de ação com histórias simplificadas em uma narrativa de fugir e lutar para o universo não ser consumido pelo mal.

Talvez o filme agrade aos fãs da obra literária por conta de uma certa fidelidade com os originais e alguns easter eggs, mas pode desapontar pela superficialidade do roteiro muito acelerado em prol de cenas de ação. Para os espectadores que não se enquadram nos dois grupos, é mais um cine pipoca onde em casa você talvez não pausaria o filme para ver uma mensagem no celular.

::: TRAILER

::: FOTOS

::: FICHA TÉCNICA

Título original: The Dark Tower
Direção: Nikolaj Arcel
Elenco: Idris Elba, Matthew McConaughey, Tom Taylor
Distribuição: Sony
Data de estreia: qui, 24/08/17
País: Estados Unidos
Gênero: ação
Ano de produção: 2016
Classificação: 12 anos

Claudio Dorigatti

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