Abaixo a Gravidade

CRÍTICA | ‘Abaixo a Gravidade’

Karinna Adad

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2 de agosto de 2019

Abaixo a Gravidade é rico em referências, mas confuso e cansativo na forma de narrar. O filme mistura uma Bahia real e, diga-se de passagem, dolorosamente real, com uma próxima da surrealidade. E nesse ponto é interessante notar que muitas vezes a realidade, de tão absurda, parece fantasia. Contudo, quando nos damos conta de que vivemos em um dos países mais desiguais do mundo a estranheza dá lugar ao senso comum. Um desses momentos que salpicam o filme com preciosidades é certamente a cena em que estamos num apartamento todo envidraçado e luxuosamente decorado com vista para uma enorme favela. Impressiona e choca.

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Paradoxos

Esse, aliás, é um dos muitos paradoxos presentes e que ajudam a pensar em Salvador como uma cidade única. Para o bem e para o mal. E é exatamente para lá que o vivido Bené (Everaldo Pontes) vai abandonando sua vida tranquila no interior em busca de tratamento médico. A troca de um ambiente marcado pelo contato direto com a natureza por um artificial e violento, ainda que algumas vezes, acolhedor, ocorre também por causa de Letícia (Rita Carelli). A moça, após dar à luz e ficar um tempo na casa de Bené, resolve voltar para sua cidade natal sendo acompanhada por ele.

A partir da chegada de Letícia, a vida de Bené passa a ter um novo sentido e um novo colorido. Isso se concretiza nos passeios pela capital, no encontro com os antigos amigos, nas conversas com o morador de rua Galego (e aqui vai um destaque merecido para a belíssima atuação de Ramon Vane), na busca por amor e na concretude do sexo. Todo esse colorido meio extravagante, meio surreal, só podia estar na Bahia. Ainda mais quando é para ela que se aproxima um asteroide chamado Laetitia, o qual promete causar a perda momentânea de gravidade e, poderíamos dizer, de preconceitos.

Contrastes

Enfim, seja por causa da perda de gravidade ou não, a verdade é que a vida em um grande centro urbano, no caso aqui personificado em Salvador, é marcada por idiossincrasias que colocam em xeque esse tipo de escolha. O mesmo tipo de lugar que permite experienciar um dinamismo. E até mesmo uma dose de incerteza exige que se conviva com a desigualdade, a pobreza, a violência, o preconceito, o “suprassumo da escrotecência”. Em suma, Abaixo a Gravidade nos lembra que vivemos em constante tensão entre o bom e o mau, bem como o certo e o errado, o puro e o impuro, o bonito e o feio, o real e o surreal. Por fim, a cidade é só um dos lugares possíveis para se estar em contato com esses contrastes.

::: TRAILER

::: FICHA TÉCNICA

Título original: Abaixo a Gravidade
Direção: Edgar Navarro
Elenco: Everaldo Pontes, Rita Carelli, Bertrand Duarte
Distribuição: Fênix Filmes
Data de estreia: qui, 01/08/19
País: Brasil
Gênero: drama
Ano de produção: 2019
Duração: 109 minutos
Classificação: 16 anos

Karinna Adad

Tranquila, mas multitarefada. Sou daquele tipo de pessoa que sempre está fazendo alguma coisa e descobrindo outras tantas pelo caminho. Topo qualquer parada desde que tenha prazer nela e uma das que por mais tempo vem me enchendo de alegria é a escrita. E como boa leitora consigo escrever sobre quase qualquer coisa, por mais que, como uma cientista social em formação, não consiga deixar de fazer agir meu raio problematizador nos meus textos.
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