CRÍTICA | ‘Amor por direito’ traça o desgastante caminho do gozo dos direitos civis LGBT

Giselle Costa Rosa

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24 de abril de 2016

Baseado em uma história real, sendo uma adaptação do documentário vencedor do Oscar em 2008, o filme Amor por Direito traz Ellen Page, em seu primeiro papel gay, e Julianne Moore na pele de um casal em busca do exercício de seus direitos civis, com direção de Peter Sollett.

A trama tem início em New Jersey, EUA, em 2002. Moore é Laurel Hester, uma policial de meia idade com o visual setentista e zero maquiagem. Page, famosa por seu papel de adolescente grávida no filme “Juno” e que se assumiu lésbica em 2014, interpreta a jovem insegura Stacie Andree que se apaixona pela policial Hester ao conhecê-la jogando uma partida recreativa de vôlei. A história que mostra de cara que ambas são lésbicas e vivenciam suas vidas da melhor forma diante do preconceitos vigentes.

Moore faz um trabalho corporal muito bom, apesar do andar ser um pouco caricato. Parece que a opção da direção foi marcar a personagem transpondo toda dureza da profissão e dos fatos passados em sua vida pessoal para o jeito de se portar de Hester. A necessidade de estar no controle, o modo duro e insensível que trata as pessoas ao redor, a discrição imposta na vida pessoal em decorrência de ser policial, o jeitão de andar e suas roupas a aproximam do modo de vestir de Stacie, mas menos no quesito masculino de se portar, no tocante das qualidades atribuídas a um homem hétero. Paige está com um visual de garotinho, ou melhor dizendo na linguagem queer, dyke (sim, mulheres que optam por se sentirem mais confortáveis em roupas ditas masculinas e de cabelo curtinho).

Amor por Direito intercala uma pitada de trama policial, romance e drama, sequencialmente. No tocante ao romance, vemos um retrato interessante das etapas percorridas por elas. Provavelmente suscitará empatia por parte de quem vive um relacionamento homoafetivo lésbico que se reconhecerá em algumas situações.

Passa-se a trama policial, e ficamos com o romance e início do drama. A felicidade do casal precede a doença de Hester, iniciando uma luta contra um câncer avançado de pulmão e na validação (negada) de uma pensão para sua esposa em caso de sua morte. Enquanto Hester corre atrás de igualdade, outras pessoas veem a chance de fazer do caso dela uma promoção para a causa do casamento gay na mídia. Em paralelo correm o sofrimento do casal no enfrentamento da doença versus a exposição midiática do caso em questão. A história passa mostrar o confronto de militantes gays contra os conservadores pelo reconhecimento e garantia de direitos da união estável das pessoas do mesmo sexo.

Mostra-se tudo aquilo que já sabemos que existe em instituições conservadoras: uma hipocrisia exultante em meio às normas gerais. Peter Sollett, com um roteiro fraco e sem rumo nas mãos, acabou focando por fim na política municipal, uma luta retratada de forma massante entre Hester e o município sobre o direito de pensão para sua companheira. Em segundo plano ficaram as protagonistas que em nada foram exploradas,  desperdiçando a presença de duas atrizes excelentes em papéis sem profundidade.

::: TRAILER 

::: FICHA TÉCNICA

Título original: Freeheld
Diretor: Peter Sollett
Elenco: Julianne Moore, Ellen Page, Michael Shannon, Steve Carell, Luke Grimes
Roteirista: Ron Nyswaner
Distribuidor: Paris Filmes
Duração: 110 min
País: Estados Unidos
Gênero: drama
Ano de produção: 2015
Classificação: 12 anos
 

Giselle Costa Rosa

Integrante da comunidade queer e adepta da prática da tolerância e respeito a todos. Adoro ler livros e textos sobre psicologia. Aventuro-me, vez em quando, a codar. Mas meu trampo é ser analista de mídias. Filmes e séries fazem parte do meu cotidiano que fica mais bacana quando toco violão.
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