CRÍTICA | Com ‘Animais Noturnos’, Tom Ford confirma solidez de seu talento também como diretor

Larissa Bello

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29 de dezembro de 2016

O designer Tom Ford entrou para a Gucci em 1990, quando a marca estava prestes a falir. Quatro anos depois, ele se tornou o Diretor Criativo da empresa, reerguendo-a ao trazer uma nova proposta estética, com um espírito mais moderno e inovador. Sua passagem pela Gucci foi tão forte e marcante que o museu da loja, em Florença, inaugurou, em 2016, duas novas salas dedicadas a ele. Afinal, Ford foi o responsável por elevar o patamar da marca que até hoje faz sucesso no mundo. Em 2004, ele saiu da empresa e criou sua própria marca, que contempla roupas masculinas, femininas, joias, cosméticos, perfumes e diversos acessórios.

CRÍTICA #2 | ‘Animais Noturnos’ ficará por bastante tempo no imaginário dos espectadores

Em 2009, Ford resolveu se aventurar no ramo cinematográfico ao lançar nos cinemas o primeiro filme sob sua direção: “Direito de Amar” (A Single Man), estrelado pelos atores Colin Firth e Julianne Moore. A produção recebeu indicações de prêmios em diversos festivais e foi muito bem recebida pela crítica e pelo público. Agora, em 2016, ele lançou seu segundo – e novamente promissor – longa Animais Noturnos (Nocturnal Animals), estrelado por Amy Adams, Jake Gyllenhaal, Michael Shannon e, o sempre incrivelmente metamorfoseado, Aaron Taylor-Johnson, cuja filmografia evidencia as diferentes nuances do seu trabalho.

Assim como a primeira produção de Ford, Animais Noturnos também é baseado em um romance: “Tony e Susan”, do escritor Austin Wright. Porém, aqui ele apresenta um roteiro de um thriller tenso, sombrio e bem mais complexo.

A história se passa em três diferentes tempos narrativos que se intercalam de forma muito bem estruturada. Susan (Amy Adams) é uma bem sucedida artista, casada com um marido lindíssimo (Armie Hammer) e que vive numa casa super elegante. Contudo, desde o início, percebe-se que o casal não está muito bem financeiramente – e nem conjugalmente. O diálogo entre os dois é frio e distante. Susan parece estar distante não só do marido, mas também de si mesma. Aos poucos, vamos compreendendo o motivo dela estar em tal estado emocional. Para amplificar a situação, ela recebe o primeiro exemplar de um livro intitulado “Animais Noturnos”, que foi escrito pelo seu ex-marido, Edward Sheffield (Jake Gyllenhaal). Ao abrir a página, vê que a obra foi dedicada a ela. A partir do momento que Susan inicia a leitura, somos transportados para a história junto com ela e entramos no contexto da narrativa do livro, que conta sobre um casal em viagem com a filha adolescente pelas estradas do Texas, durante a noite e um incidente terrível acontece. A medida que Susan vai lendo, inevitavelmente, ela também começa a se lembrar do tempo que era casada com Edward.

A narrativa do filme cresce e se intercala na proporção da intensidade das histórias, seja a da ficção do livro, do passado da personagem ou do seu momento presente. Tudo isso está magnificamente bem orquestrado, de forma que o espectador não se perca e consiga compreender as particularidades dos personagens. Tom Ford prova, assim, que está em total controle como diretor ao conseguir elaborar os encadeamentos das cenas de forma segura, apresentando, inclusive, pequenos raccords entre as diferentes narrativas.

Em uma entrevista, Ford disse que Animais Noturnos é sobre lealdade e a forma cruel e egoísta de como, algumas vezes, descartamos as pessoas. Ao terminar a história do livro e do longa, conseguimos compreender o que o autor, ex-marido de Susan, quis expressar com sua narrativa literária e o quanto da ficção contida nela foi um processo catártico para que ele pudesse lidar com suas emoções. Já Susan parece não ter uma válvula de escape, nem mesmo na arte que desenvolve, que diz ser realmente um lixo por justamente retratar o lixo existencial da sociedade atual. Tudo que lhe resta é a insônia e o cômodo conforto vazio da sua vida, que foi fruto de suas próprias escolhas.

TRAILER:

FICHA TÉCNICA:

Título original: Nocturnal Animals

Direção: Tom Ford

Roteiro: Tom Ford

Elenco: Amy Adams, Jake Gyllenhaal, Michael Shannon, Aaron Taylor-Johnson

Fotografia: Seamus McGarvey

Produção: Fade to Black Productions, Focus Features e Universal Pictures

Distribuição: Universal

Duração: 116 min.

Ano: 2016

Larissa Bello

Graduada em Rádio & TV. Pós-graduada em Leitura e Produção Textual. Capixaba, residiu por 8 anos no Rio de Janeiro, onde atuou em diversas áreas do audiovisual. Atualmente reside em Fortaleza/CE, onde é afiliada da ACECCINE (Associação Cearense de Críticos de Cinema) e é autora do blog Cine em Foco (https://cineemfoco.blogspot.com/).
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