CRÍTICA | ‘Aquaman’ é, enfim, a redenção da DC nos cinemas!

Leandro Stenlånd

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11 de dezembro de 2018

Quem não conhece Aquaman que atire a primeira pedra. Herói que há muito tempo já vinha aparecendo nos desenhos dos Super Amigos, Liga da Justiça e Liga da Justiça Sem Limites, agora Arthur Joseph Curry ganha sua primeira chance hollywoodiana para mostrar que sua história vai muito além de um mero filme ao lado dos companheiros em “Liga da Justiça”.

De todos os personagens do primeiro escalão da DC Comics, Aquaman tem um universo complexo a ser desenvolvido. O super-herói, afinal, age ao lado de outros defensores de um reino muito expandido. Se olharmos para os sete mares existentes no planeta, há uma infinidade de água para todos os lados. Inclusive, o escopo permite desde interações sociais na terra até guerras subaquáticas.

Antes disso, precisamos tentar entender onde estamos localizados no universo Cinematográfico da DC. O filme se passa pós “Liga da Justiça” e, se todos recordam, agora não temos mais um Clark Kent vivido por Henry Cavill. O problema deste universo está aí. Enquanto há rumores de um possível Superman Negro, sabemos que esse Aquaman conhece os heróis da Liga já apresentada. Ou seja, se um novo Homem de Aço for introduzido nas telonas, independentemente de cor, gênero e raça, de onde viria? O flashpoint usado pelo Flash em “Batman vs Superman” para alertar Bruce Wayne que Lois Lane seria a chave para tudo teria mexido com a linha temporal e embananado tudo? Não sabemos!

Foto: Warner Bros. Pictures / Divulgação

O que sabemos é que a adaptação para o cinema de Aquaman possui uma importância estratégica até mesmo para este tumultuado universo desenvolvido por tamanha incompetência de seus cartolas, visto que, para um diretor, batalha nos mares é algo complexo de ser desenvolvido até mesmo em computação gráfica. Aliás, não é algo novo. Vimos essa batalha nos mares em duas ocasiões relativamente recentes: G.I. Joe: A Origem do Cobra (de forma submersa) e Battleship – A Batalha dos Mares (de forma emersa). Isso porque esse é um personagem da DC Comics, a mesma editora de Batman e Superman, seus dois únicos heróis a se darem bem no cinema num passado nem tão distante assim. Até mesmo a chegada de “O Homem de Aço” foi questionada por alguns críticos e pelo público. Outros nomes populares, como Mulher-Maravilha e Flash, por exemplo, seguiam na fila de espera e, enquanto aguardavam, a editora concorrente fez a festa com seus heróis. Com a chegada de “Mulher-Maravilha”, a esperança revigorou-se.

Assim como Superman, a trajetória do herói no reino de Atlântida mostra a Arthur ainda bebê. A sinopse é simples e foca no desenvolvimento dos personagens desde vilões até o herói em questão. É no início da trama que entendemos as reais razões para que Arraia Negra odeie tanto Arthur. Diferente de “Batman vs Superman”, aqui, a única ajuda da qual Arthur depende é de seu próprio povo. O longa-metragem é bem construído e o mais interessante de todos os filmes dessa nova fase da DC (baseado em tudo que os Novos 52 criaram) é que este supera até mesmo “Mulher-Maravilha” em todos os quesitos e isso inclui inclusive o “empoderamento” feminino. Há um total vislumbre em mostrar como Mera (Amber Heard) é capaz de lidar com diversos vilões, sejam eles altos, fortes e destemidos. Ela pode e COMO PODE. O papel de Nicole Kidman, como mãe de Arthur, também não fica atrás. Mesmo como a Rainha de Atlântida, é doce, gentil e consegue mostrar que mesmo que ela tenha super força, agilidade e todos os apetrechos de uma rainha-deusa, também é capaz de amar tanto seus filhos quanto o humano que a acolheu.

Foto: Warner Bros. Pictures / Divulgação

Poucos conhecem a origem do herói e raros são os que sabem também que, assim como Thor, Aquaman também tem um meio irmão invejoso. Conhecido como Mestre dos Mares (ORM), ele anseia tomar o trono de Atlantis para si. O Mestre dos Mares é um arqui-inimigo muitas das vezes ainda pior que Loki em Thor. Ele não é nada bonzinho e acaba apunhalando o irmão pelas costas. É totalmente visível seu anseio e convicção por poder. A história é conhecida e os personagens, arquetípicos. Tudo entregue já pré-digerido e sem surpresas. O foco é mesmo no deslumbramento visual.

Nesse ritmo frenético, as coisas em Aquaman ganham proporções épicas e, sim, estamos falando da pirotecnia visual. São diversas cores que se misturam e é algo já visto em Avatar. Os tons azulados, roxos, lilás, esverdeados estão lá, dando vida aos mares. O uso das cores sulferinas também estão presentes dar aquele contraste e isso fica visível no momento quando Mera e Artur se unem rumo ao fosso (trincheira).

Mesmo que o material liberado até então não empolgasse, o diretor James Wan sabia que se trataria de uma obra revolucionária, que poderia – e teria – como missão modificar o cinema daqui para a frente para o universo DC. Como há tempos, muitos já asseguravam o fracasso de mais um filme da Warner. Aquaman, porém, é deslumbrante. Claro que há algumas falhas, problemas narrativos típicos do cinema de Wan, mas é uma obra incrível e empolgante, com grandiosidade poucas vezes vista em um longa da produtora. A trama não é das melhores e há algumas pontas soltas, fazendo com que o enredo não prime pela originalidade, seguindo uma estrutura já vista em diversas produções. O mesmo vale para o desenvolvimento da relação entre Mera e Aquaman. Por vezes, parece apressada, como se pulasse etapas e já sabíamos o que iria acontecer. No entanto, o romance entre os protagonistas funciona e a plateia não somente acredita nesse relacionamento como também torce por ele, o que é fundamental para que as cenas de batalha cresçam em termos de tensão e emoção.

Foto: Warner Bros. Pictures / Divulgação

Os arcos individuais e suas motivações funcionam, mas com algumas ressalvas, inclusive quando o assunto é o Arraia Negra. Sua aparição aleatória apenas preenche o filme com um pouco mais de vilões. O longa está repleto de aparições para cima e para baixo, em momentos específicos, não necessariamente no fundo do mar, inflando a película desnecessariamente com mais um personagem que poderia aparecer no segundo longa do herói (e que certamente irá). Claro que, aqui, perde-se um tempo apenas para mostrar que ele existe e mesmo sendo interessante a  motivação do vilão em uma incrível caçada pela cabeça de Arthur, o impacto deixou a desejar. No entanto, o malfeitor está MUITO BEM caracterizado, inclusive sua vestimenta ficou incrível.

Aquaman é um longa-metragem que, de cara, vence fácil a desconfiança, muito por causa de seu elenco talentoso. James Wan soube escalar perfeitamente todos os atores fundamentais para dar a esperada volta por cima e isso inclui até a inesperada aparição de Dolph Lundgren (confesso que não tinha me atentado para sua escalação). Enquanto muitos ainda duvidarão se este longa ainda é ou não mais um desapontamento da Warner/DC, os dilemas de seus personagens se unem para um bem comum e os atores funcionam sozinhos e em equipe. A película consegue trabalhar e trilhar as motivações, deixar uma faísca de interesse em produções futuras (principalmente numa possível continuação) e tem um ritmo fluído – não deixando o ritmo cair em um possível marasmo ou demasiada pirotecnia sem pé nem cabeça.

O exagero na utilização de computação gráfica é algo já recorrente nas batalhas finais em filmes da Warner & CIA, e há diversas cenas de ação memoráveis, mesmo que boa parte delas já tenha sido mostrada nos trailers. Aliás, os vídeos não mostraram nem 1% do filme, sinceramente.

Foto: Warner Bros. Pictures / Divulgação

Não é um filme que traz consequências significativas, tanto para o universo DC, como para os personagens, já que alguns deles saem exatamente como chegam. Não há sequer menção da Liga da Justiça, mas sabemos que é uma sequência. Não há aparição repentina de outros heróis para ajudar Arthur e isso é um bocado frustrante. O mundo está em colapso, ondas enormes bem ao estilo tsunami assolam o planeta e por onde andará Mulher-Maravilha, Flash, Batman e Superman que não veem isso e não estão ali?

Um aprendizado que ficou da concorrência é que é preciso dar risadas. E Aquaman faz rir diversas vezes, muitas delas por felicidade de não estar acreditando o quanto esse filme é intenso, justo e ao mesmo tempo moverá montanhas criando novos valores para os fãs da DC que estão céticos. James Wan consegue elevar Aquaman ao mesmo patamar do Batman de Christopher Nolan. As câmeras e a tecnologia de performance criadas do zero por Wan são tão impressionantes que é impossível distinguir o que é real do que é modelo criado por computador. O uso do CGI está mais humanizado, como nos efeitos utilizados pela concorrente, fazendo com que você creia que este universo exista e que é palpável!

Foto: Warner Bros. Pictures / Divulgação

Jason Momoa, o intérprete do personagem principal, de certa forma, foi uma boa escolha, afinal, se voltarmos no passado, exatamente no desenho da Liga da Justiça, sabemos que aquele Arthur é arrogante e se acha o fodão. Momoa, com seu visual que, seria até interessante para a série “Vikings”, é ótimo para viver um sujeito com essas características. Mas parece que o peso da responsabilidade, ao menos em “Liga da Justiça”, foi demais. Sua atuação em, certos momentos, ia além do exagero. Agora, em Aquaman, temos um Momoa aparentemente mais maduro e, por vezes, caricato (e confesso que ficou legal).

O universo de Aquaman finalmente está criado com bons personagens estabelecidos e o gancho ao final é algo necessário para entendermos que há futuro para o personagem. Muito se falou, ainda antes do lançamento, sobre a revolução tecnológica que o filme causaria. É difícil, no entanto, mesmo após assistir ao longa, mensurar o impacto que ele terá em produções futuras, mesmo para a concorrência. Revolucionário ou não, é inegável que se trata de uma imensa conquista e uma produção espetacularmente bem feita. Ainda que essa seja o feito técnico mais significativo, é impossível não se maravilhar com o mundo que Wan e sua equipe criaram a partir do zero. Atlântida é uma cidade construída de forma complexa, com fauna (em um determinado local), flora e mitologia bem desenvolvidos, em um louvável exercício de criatividade e imaginação por parte do cineasta, fazendo com que surja na tela com uma riqueza absoluta de detalhes, fazendo este novo mundo realmente ganhar vida.

::: TRAILER

::: FICHA TÉCNICA

Título original: Aquaman
Direção: James Wan
Elenco: Jason Momoa, Amber Heard, Patrick Wilson
Distribuição: Warner
Data de estreia: qui, 13/12/18
País: Estados Unidos
Gênero: ação
Ano de produção: 2018
Duração: 143 minutos
Classificação: 12 anos

Leandro Stenlånd

Leandro não é jornalista, não é formado em nada disso, aliás em nada! Seu conhecimento é breve e de forma autodidata. Sim, é complicado entender essa forma abismal e nada formal de se viver. Talvez seja esse estilo BYRON de ser, sem ter medo de ser feliz da forma mais romântica possível! Ser libriano com ascendente em peixes não é nada fácil meus amigos! Nunca foi...nunca será!
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