Crítica de Filme | Cidade de Deus – 10 Anos Depois

Wilson Spiler

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5 de novembro de 2015

“Cidade de Deus” (2002) foi talvez o maior sucesso cinema brasileiro após a retomada. Apesar de outros fenômenos surgirem como “Tropa de Elite” (2007) e “Tropa de Elite 2” (2010), “2 Filhos de Francisco”, além das malfadadas comédias – que, apesar de serem ruins em sua maioria, levam muita gente ao cinema -, não há como negar a repercussão nacional e internacional que o filme de Fernando Meirelles teve.

Além de concorrer a quatro Oscars (Melhor Direção, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Fotografia e Melhor Edição) – embora estranhamente não tenha sido indicado para a categoria de Melhor Filme Estrangeiro, “Cidade de Deus” é reconhecidamente um das produções com maior qualidade técnica que já foi feita por aqui.

O longa recebeu críticas impressionantes e aclamadoras das várias grandes publicações nos Estados Unidos, Inglaterra, entre outros. No site Rotten Tomatoes, por exemplo, a película tem uma aprovação de 92%. A revista Empire, em 2008, elegeu a obra como o 177º melhor filme de todos os tempos, e a Time como um dos 100 melhores da história. Em 2010, foi escolhido pela Empire como o sétimo melhor filme do cinema mundial e o sexto melhor filme de ação pelo The Guardian.

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Além disso, “Cidade de Deus” influenciou trabalhos como o premiado “Quem Quer Ser um Milionário?”, por exemplo. Vai dizer que você não reconheceu a cena da galinha na abertura do longa?

Pois bem. Cidade de Deus – 10 Anos Depois chega com bom atraso aos cinemas brasileiros (a produção completa 13 anos em 2015). Não, não trata-se exatamente de uma continuação, mas sim de um documentário (e talvez aí esteja o motivo da demora no lançamento).

O foco principal do longa dirigido por Cavi Borges e Luciano Vidigal é acompanhar o que aconteceu com boa parte do elenco do longa, tendo em mente sempre a seguinte pergunta: será que uma obra de arte pode mudar a vida de alguém? Se o questionamento for direcionado para nomes como Seu Jorge (Mané Galinha), Alice Braga (Angélica), Roberta Rodrigues (Berenice) e Thiago Martins (Lampião), a resposta é obviamente um “sim”. Mas nomes como Douglas Silva (Dadinho), Alexandre Rodrigues (Buscapé) e o próprio Leandro Firmino (Zé Pequeno), o “não” talvez seja a resposta mais adequada, embora eles tenham feito trabalhos (principalmente televisivos) após, mas é nítida a impressão de que ainda buscam espaço na área. É interessante lembrar, no entanto, que a grande maioria é oriunda de comunidades carentes e viram na longa de 2002 uma oportunidade de brilharem – e conseguiram.

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É importante destacar que o documentário não se furta a discutir sua própria ideia. O filme “assume a culpa” de que só resolve a curiosidade, mas não a situação desses jovens (principalmente os que não prosseguiram na carreira). Ele mostra que mesmo uma produção com tanto sucesso internacional não muda completamente a vida de ninguém, principalmente se ficar apenas nisso. É interessante chamar a atenção para a discussão dos cachês dos garotos, por exemplo. O “garoto do tiro no pé”, por exemplo, largou a carreira por desconfiar do pai estar pegando seus cachês.

Cidade de Deus – 10 Anos Depois é sim um filme interessante de ser visto, principalmente para matar nossa curiosidade sobre o que aconteceu com o elenco. Porém, falta ao documentário uma abrangência maior sobre o que significou a obra de Fernando Meirelles para aquele grupo de profissionais envolvidos e para o próprio cinema brasileiro. A parceria com o Nós do Morro, essencial para a realização do filme, é citada brevemente, assim como o Nós do Cinema apenas é mencionado nos letreiros finais do filme. Algumas ausências importantes são notadas entre os entrevistados: nomes como Matheus Nachtergaele (ator), Fernando Meirelles (diretor), Katia Lund (co-diretora) e Fátima Toledo (preparadora de elenco) poderiam acrescentar bastante.

Se não chega a ser uma decepção, Cidade de Deus – 10 Anos Depois acaba sendo, digamos, pouco ambicioso. Apesar de bem intencionado, o longa serve apenas para sanar nossa curiosidade sobre o sucesso alheio.

FICHA TÉCNICA:

Direção: Cavi Borges e Luciano Vidigal
Roteiro: André Sampaio, Cavi Borges, Luciano Vidigal
Elenco: Alexandre Rodrigues, Leandro Firmino da Hora, Roberta Rodrigues, Jonathan Haagensen, Seu Jorge, Alice Braga, Thiago Martins, Darlan Cunha, Douglas Silva, Rubens Sabino, Felipe Paulino, Renato de Souza, Eduardo BR, Ivanzinho, Bernardo Silva, Michel Gomes, Daniel Zettel, Luis Otávio
Duração: 70 min.
País: Brasil
Ano: 2012
Classificação: 14 anos

Wilson Spiler

Will, para os íntimos, é jornalista, fotógrafo (ou ao menos pensa que é) e brinca na seara do marketing. Diz que toca guitarra, mas sabe mesmo é levar um Legião Urbana no violão. Gosta de filmes “cult”, mas não dispensa um bom blockbuster de super-heróis. Finge que não é nerd.. só finge… Resumindo: um charlatão.
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