CRÍTICA | ‘Cinquenta Tons Mais Escuros’ só nos prova que best-sellers e filmes campeões de bilheteria nem sempre são sinônimos de qualidade

Larissa Bello

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9 de fevereiro de 2017

Erika Leonard James é uma ex-executiva de TV, que ao cinquenta e poucos anos de idade resolveu se aventurar na literatura. A britânica lançou, em 2011, Cinquenta Tons de Cinza (Fifty Shades of Grey), o que seria seu primeiro livro de uma trilogia do gênero romance erótico.

A história gira em torno do universo de um protagonista que é multimilionário, lindo e musculoso. Tudo seria o cliché do homem perfeito, se não fosse por um detalhe, ele é sádico e gosta de bater em mulheres que leva para cama. Christian Grey (sobrenome que foneticamente faz o trocadilho com a palavra “gray”, que em inglês significa cinza) é o personagem que simboliza o homem que leva as mulheres à loucura de tanto tesão. Remete bastante aquele tipo de literatura de banca de jornal, como “Bianca”, “Sabrina”, entre outros. Porém, tudo muda na vida de Christian quando ele conhece Anastasia, uma mulher ingênua e virgem por quem ele se apaixona e que, para sua surpresa, não aceita sua condição psicopatológica (segundo o dicionário) de homem dominador que exige uma mulher submissa na cama e na vida.

O livro se transformou, rapidamente, em um enorme sucesso de vendas por todo o mundo. Sendo assim, imediatamente os estúdios de Hollywood se anteciparam para comprar os direitos da obra e a transformarem em filme. Assim como foi feito com as sagas e febres literárias “Harry Potter” e “Crepúsculo”. A diferença entre estes e o de E. L. James está no tipo de público que consumiu e consome seus livros. Enquanto Harry e Crepúsculo foram devorados por crianças e adolescentes. A história de Christian Grey foi assimilada por mulheres, na chamada meia-idade (entre 45 a 55 anos), casadas e com filhos. E nas entrelinhas, isso diz muito a respeito dessas mulheres. Bem, mas isso já seria um outro tipo de discussão.

O segundo filme, Cinquenta Tons Mais Escuros (Fifty Shades Darker, 2017), continua a história exatamente de onde parou o primeiro. Anastacia (Dakota Johnson) está ainda muito chateada com Christian (Jamie Dornan), por considerar que ele a desrespeitou e foi longe demais com seu sadismo sexual. Contudo, ele consegue convencê-la de reatar o relacionamento lhe enviando flores, convidando-a para um jantar, cujo diálogo demonstra o total desprendimento do roteirista em aprimorar o texto do filme, talvez porque não se tenha muito o que fazer em relação ao texto do livro. O resultado é algo do tipo:

Christian: Anastasia, eu quero conversar com você. Por favor, venha jantar comigo!

Anastacia: OK. Eu só vou porque estou com fome.

Mas, o melhor é que ao chegar ao restaurante ela pede uma salada de quinoa (???) Enfim, os dois acabam se entendendo, porque ele diz que está disposto a se relacionar com ela sem impor suas condições de sadomasoquismo.

A partir daí eles começam um namoro e, é claro, muitas cenas de sexo se seguem. O irônico é que Anastasia acaba sentindo falta de um toque mais selvagem do Christian e pede que ele pratique um pouco o seu lado sádico com ela. Mas, tudo envolto em um ambiente e clima completamente asséptico, afinal, o livro e o filme são voltados para um público de classe média, e que apesar da temática, precisa de um certo moralismo visual.

Nessa segunda parte da trilogia, é apresentado um pouco mais da intimidade de Christian e do seu passado, inclusive uma de suas ex-namoradas submissas reaparece para assombrar seu atual relacionamento. O roteiro até tenta criar uma atmosfera de suspense em relação a isso, porém, não se sustenta. E a tal mulher que o ensinou e o apresentou ao universo sadomasoquismo também aparece e é interpretada por Kim Bassinger.

Cinquenta Tons Mais Escuros ainda revela que a resposta do motivo da psicopatologia de Christian está freudianamente em sua mãe, que era uma viciada em crack e morreu de overdose quando ele tinha quatro anos de idade. O esforço de Jamie Dornan em mostrar o quanto Christian é um homem mentalmente perturbado é constrangedor. Tanto para o ator em si, quanto para os espectadores.

As cenas e os diálogos são realmente risíveis, assim como foi no primeiro filme, mesmo tendo diretor e roteirista diferentes. Isso só nos prova que livros best-sellers e filmes que arrecadam muito dinheiro em bilheterias nem sempre são medidas de qualidade de suas obras.

TRAILER:

FICHA TÉCNICA:

Título: Fifty Shades Darker

Diretor: James Foley

Roteiro: Niall Leonard, baseado no livro de E.L. James

Elenco: Dakota Johnson, Jamie Dornan, Eric Johnson, Kim Basinger, Marcia Gay Harden

Produção e Distribuição: Universal Pictures

Duração: 118 min.

Ano: 2017

País: EUA

Classificação: 16 anos

Larissa Bello

Graduada em Rádio & TV. Pós-graduada em Leitura e Produção Textual. Capixaba, residiu por 8 anos no Rio de Janeiro, onde atuou em diversas áreas do audiovisual. Atualmente reside em Fortaleza/CE, onde é afiliada da ACECCINE (Associação Cearense de Críticos de Cinema) e é autora do blog Cine em Foco (https://cineemfoco.blogspot.com/).
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