Crítica da Exposição | Ambiguações
Anna Cecilia Fontoura
Está aberta a visitação, até 12 de maio, na Sala A Contemporânea Brasil, no CCBB Rio, a exposição “Ambiguações“. Sob a curadoria de Clarissa Diniz, imagens, vídeos, projetos e instalações dos artistas Antonio Dias, Cristiano Lenhardt, Daniel Steegmann, Mangrané, Deyson Gilbert, Gustavo Speridião, Jonathas Andrade, Montez Magno, Pablo Lobato, Roberto Winter, Tamar Guimarães e Vitor Cesar estão reunidas na mostra.
“Compreendendo que a “desambiguação” é o termo utilizado na linguística para se referir ao processo de explicação à mensagem que possui mais de um sentido(…) e que pode ser interpretada de mais de uma maneira. (…) Por outro lado, em territórios onde o conhecimento se dá para além do enciclopédico, as ambiguações encontram outros sentidos e importâncias: É preciso entender que uma posição crítica implica em inevitáveis ambivalências(…) as ambiguidades se tornam ponto de partida para pensar a vida e suas dinâmicas.” – explica a curadora no texto de apresentação da mostra.
É justamente essa ambiguidade nos modos de relacionar que é o fio condutor de “Ambiguações”. São encontrados na exposição diversos significantes que evidenciam esta ideia. Dois copos com água, postos lado a lado, sendo que um preenchido pelo líquido benzido e outro não. Na prática é o mesmo solvente líquido universal (popularmente conhecido como água!), mas o fato de um deles ter sido consagrado por um padre o agrega um maior valor o tornando algo sagrado ( se você for católico!) enquanto o outro um simples líquido para matar a sede. Outra obra que evidencia bem a ambiguidade são as imagens de uma instalação em que um artista uniu duas camas de solteiro (permanece os limites entre uma cama e outra, ressaltando que não é uma simples cama de casal). A princípio o visitante pode questionar: O que há de arte nisto? Mas, se o mesmo se deixar envolver pela ideia de ambiguidade é fácil concluir que aquela obra é perfeitamente cabível na mostra. Uma cama de solteiro abrigo um corpo, um ser único, com suas qualidades, defeitos, e todas as características que ele possui. Uma cama de casal une dois corpos, com a promessa que vivem em prol do relacionamento, que os transformou em um, não mais dois. Já a instalação do caro artista enfatiza que antes de serem um casal, são dois indivíduos (leia-se sujeitos únicos!), que mesmo compartilhando uma vida, precisam que seus limites sejam respeitados (mesmo que esses limites não estejam a mostra o tempo todo). Achei isso genial! Outra obra exposta que merece destaque é “Floresta Tropical”, que consiste em uma tv com imagem em preto e branco de uma floresta. Pensou em floresta pensou em verde! O P&B, apesar de ser uma ótima forma de retratar (inclusive adorada por fotógrafos!) torna-se a própria ambiguidade devido ao objeto exibido.
Muitos contrastes de cores são usados na mostra para fazer o visitante sentir a ambiguidade, mas creio que faltou amarrar mais estas sensações com ajuda de linguagem verbal. A mostra contou apenas com o texto de apresentação que é possível conferir assim que entra na galeria. Sei que cada objeto, posicionado estrategicamente onde está, tem um sentido (ou até vários!). Mas, a ausência de palavras (para não haver excesso de direcionamento, eu sei…) acaba deixando coisas muito vagas. Isso acaba se tornando um obstáculo (ruído na comunicação) entre o que a obra está dizendo e a possibilidade do visitante captar o sentido em questão.
Confesso que o ruído na comunicação me vitimou em algumas instalações como por exemplo, “Estado X Guerrilha” (que consiste em dois retângulos na parede feitos com um material que estabelecia o limite retangular (como se fosse um barbante – mas não era! – é só para poder fazer você criar uma ideia mental mais clara). O de cima estava escrito no centro Estado e o debaixo – que era exatamente igual exceto por uma pequena roldana no canto inferior direito – estava escrito no centro Guerrilha). Outra obra que a comunicação não se fez presente, para mim, foi uma em que estava escrito apenas “A ilustração da arte economia/modelo. “A tentativa de criar é uma diferença produz economia”. O lado tinha um tecido vermelhão na parede cortado em alguns pontos era deixado apenas o branco da parede. Só conseguir compreender isso como o mercado da moda em que os vestidos com várias camadas de pano. comuns até metade século do XIX deu lugar ao vestuário com pouco pano (economia de tecido, mas preço caros ainda…). Durante minha estada no CCBB foi o vazio total de significado, admito, mas agora reescrevendo esta frase a únic relação de sentido que fui capaz de criar foi esta…
Enfim, a ideia da mostra é fantástica, mas em alguns momentos não foi possível fazer conexão alguma de sentido, pelo menos de minha parte, por este motivo, acabei dando 3 e meio para “Ambiguações”. Espero que não esteja sendo injusta. Se alguém conseguiu interpretar algo que não captei, fique a vontade para compartilhar aqui com a gente do Blah Cultural!
AMBIGUAÇÕES
CCBB Rio – Sala A Contemporânea Brasil – 2º andar
Até 12 de maio
Entrada Gratuita