Crítica de Exposição: Mais de Mil Brinquedos para a Criança Brasileira

Renata Amaral

“Roda mundo, roda gigante… roda moinho, roda pião… O tempo rodou num instante, nas voltas do meu coração…”, a música do Chico Buarque poderia ser a trilha dessa exposição.

A mostra Mais de Mil Brinquedos para a Criança Brasileira, em princípio, faz você pensar que é uma exposição para levar a molecada toda, filhos, primos, sobrinhos, filhos de amigos, mas é sobre memória, e isso chama demais a minha atenção, porque memória é algo afetivo, que toca a nossa alma no fundo, que aguça e atinge os nossos sentidos e também é por demais subjetivo. Dizia Waly Salomão, a memória é uma ilha de edição, edita aquilo que quer salvar, apaga aquilo que não serve (nem sempre é ruim, mas nem sempre é bom).

Foto: Renata Amaral

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Quem não se emociona ao (re)ver os brinquedos que fizeram parte da sua infância, da sua lista de objetos de desejo, e que, talvez, você ainda hoje não consiga explicar. Os brinquedos não só de 30 anos atrás, mas de toda uma história brasileira, que reconta as nossas origens.

Tem algumas coisas impressionantes e a exposição é algo assim como nossa memória: dinâmica, editável e mutável.

Foto: Renata Amaral

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Eles contam o processo de construção de um brinquedo e imitam uma escala de linha de montagem e de produção. O primeiro brinquedo era o Blue, a arara do filme Rio. E hoje, dia 24 de novembro, essa mesma linha era recheada do Scrat, o esquilinho da Era do gelo. As escolhas não são… supérfluas, o Scrat e o Blue são criações brasileiras e brinquedos que, de alguma forma, além de ativarem a nossa memória e nossa subjetividade, nos dão um certo poderio na criação. Nós, brasileiros, tão acostumados a consumir a criação do externo, do estrangeiro…

Deixando as divagações de lado, visitar a exposição é um bálsamo na alma, na nossa alma de criança que nunca morre. É também uma forma de exercitar a sua criatividade e a sua memória. De encontrar as histórias que às vezes o tempo escondeu, embaixo dos adultos sérios e sem tempo que nos tornamos para que lembremos que o tempo, esse fanfarrão que teima em escapulir pelos dedos, pelos vãos, abertos ou não, que ele está a nosso favor. Nós que estamos deixando que ele escapula assim.

Mais de Mil Brinquedos para a Criança Brasileira então revela que é pra nós, adultos, crianças, idosos, amigos, companheiros, mãe e filhos, pai e filhos, família; que é uma homenagem aos 30 anos do SESC Pompéia, e um resgate individual, de cada um de nós e sua própria história.

Foto: Renata Amaral

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Com os piões de última geração, aos antigos, com corda e jeitos de rodopiá-lo, até um brinquedo, quase como um quebra-cabeça , que trabalha a engenharia elétrica e os pulsos (nossos, da criança que ali se instala e brinca), de construir um caminho que receba e envie todos os pulsos elétricos ali designados. A mostra tem as pipas, etéreas, balançando no ar, como a mais perfeita “engenhoca”de voar… que leva os pensamentos e eleva e nos suspende no ar. Até uma pista de avião, com luzinhas (muitas), pra brincar (ou deixar a imaginação brincar), com o ato e transportar pessoas. Um convite a vivenciar, com os pequenos, com os amigos grande, com os amigos mais velhos, o que pra uns é um grande trabalho. O brincar.

E me recordo agora da fala de Danilo Miranda, em um encontro que foi promovido pelo SESC, de que a instituição trata principalmente de educação. Brincar está intrinsecamente ligado à nossa educação. E não há melhor forma de se manter assim, educado, recebendo toda a cultura, em seu sentido mais amplo.

E lá fomos nós, Tarsila e eu, brincar, relembrar… E educar. A alma, a mente e o espírito.

SERVIÇO:

Mais de mil brinquedos para a Criança Brasileira

Quando: de terça a domingo, das 10h às 19h
Onde: SESC Pompéia (Rua Clélia, 93 – Pompéia, São Paulo – SP)
Quanto: Entrada gratuita

Confira a galeria de fotos:

*FOTOS: Renata Amaral

Renata Amaral

Renata Amaral é jornalista, agitadora cultural e blogueira. Acha que a vida pode ser leve e descomplicada como os posts que produz. É mãe de Tarsila e adora conhecer gente descomplicada. Mas a malas sem alça e/ou pessoas que se acham, prefere o aconchego de sua casa.
NAN

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